Minas Gerais

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Crônica | Vestido Preto

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No seu coração traz a marca de um amor interrompido por uma bala perdida que sempre acha os mais pobres - Créditos da foto: Reprodução
De longe era a mais bonita, rebelde, inteligente e quebrava todos os tabus da hipocrisia palaciana

Ela era a princesinha da fina flor da burguesia mineira, de repente, ficará noiva de um desempregado, periférico com cabelos crespos e pele queimada de sol. Foi uma bomba para a família tradicional branca, preguiçosa e herdeiros da casa grande. Típica família que sempre viveu das benesses do Estado brasileiro. Ela tinha acabado seu namoro com um mauricinho riquíssimo e alienado que gostava de carros, armas de fogo e possuía um vocabulário de no máximo cinco ou seis palavras.  

Foi o pior acontecimento do ano para a elite das montanhas. As colunas sociais ficaram meses nessa paranoia esquizofrênica barata.  Nas festas tradicionais era a fofoca preferida: vc viu? Absurdo, né? Que menina mais sem classe e pudor, meu Deus! Trocar um lorde maravilhoso desses de olhos verdes por um pé rapado que não tem onde cair morto de fome!?!

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De longe era a mais bonita, rebelde, inteligente e quebrava todos os tabus da hipocrisia palaciana falida da sua família. De mais a mais, não estava nem aí para a tal família tradicional mineira anacrônica. 

Seus amigos já quase falidos financeiramente e moralmente a abandonaram. Seu pai a expulsou de casa a base de muita violência física, moral e psicológica.

Pois é, o tempo passou…. Sua família empobreceu. Foi à lona. Viviam de aparências e de favor nos fundos da mansão que alugaram para um novo rico.  Seu pai para ganhar uns trocados dava aulas de etiquetas para o novo inquilino. De vez em quando, lavava os carros do ricaço também.  Sua mãe para ajudar fazia faxina e cuidava das louças caras do novo rico.  

Ela batalhou. Venceu na vida e os preconceitos. É uma importante médica dedicada ao SUS. Sua prioridade sempre foi atender aos que mais precisam. Nunca teve um consultório particular na vida. Nunca casou. No seu coração traz a marca de um amor interrompido por uma bala perdida que sempre acha os mais pobres, negros e periféricos desse país. 

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte

Edição: Elis Almeida