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A poesia da árvore de folhas douradas: a Gingko Biloba

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Considerada pelos cientistas uma das espécies de árvores mais velhas do mundo, a Gingko Biloba tem uma história que encanta homens e mulheres do Oriente e do Ocidente - Susanna Giaccai - Wikicommons
Ao longo do século, a Gingko Biloba se espalhou pela Europa e, depois, pelo mundo

Num pequeno mosteiro, Gu Guan Yin, localizado no noroeste da China, perto das montanhas de Qin, na província de Shaanxi, durante todo o outono, uma peregrinação de curiosos e turistas se junta para ver uma árvore cujas folhas douradas enchem a paisagem. É uma Gingko Biloba, que vive ali há 1.200 anos.

Considerada pelos cientistas uma das espécies de árvores mais velhas do mundo, a Gingko Biloba tem uma história que encanta homens e mulheres do Oriente e do Ocidente.

Natural do Sudeste da Ásia, sua floração outonal, em chamativos tons de amarelo e dourado, chamou a atenção de viajantes e pesquisadores estrangeiros que viajavam pelo oriente durante a época moderna. As sementes foram levadas para a Europa por Engelbert Kaempfer (1651-1716), que trabalhava para Companhia das índias Orientais, cuja sede ficava nos Países Baixos (Holanda).

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Em suas andanças pelo mundo, Kaempfer percebeu que os orientais usavam a semente, as folhas e o tronco para curar doenças. A noz da Gingko era usada como uma especiaria e teria poderes afrodisíacos, promovendo a boa saúde a longevidade. Levou consigo para Europa e, depois de várias tentativas de adaptação em solo europeu, o jardim botânico de Utrech e Leiden obtiveram sucesso. Ainda hoje, árvores de Gingko biloba de 1730 e 1754 estão vivas e podem ser apreciadas. Não tardou muito para que as sementes passassem a valer bastante no mercado de plantas exóticas.

Na Alemanha, o  poeta, dramaturgo e romancista Johann Wolfgang Goethe, interessado em plantas, árvores e sementes, fez um plano de espalhar árvores de Gingko Biloba pela cidade de Weimar, onde morava juntamente com o duque da cidade Carl August.

O duque então mandou seu jardineiro para o Jardim Botânico de Kew Garden na lnglaterra com a missão explícita de aprender como adaptar a árvore e trazer sementes. A missão foi bem sucedida e as árvores se espalharam pela cidade.

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A Gingko Biloba com suas folhas bipartidas em um formato único, sua floração peculiar e o amarelo-ouro que a árvore adquire no outono ajudou Goethe formular uma teoria botânica e filosófica sobre a árvore originária, a Urpflanze, a árvore que teria dado origem a todas as outras. A descoberta e a classificação da natureza  era um dos maiores debates científicos da época, com o botânico francês Carlos Lineu formulando a moderna teoria de classificação das espécies.

Durante a época em viveu, a Gingko Biloba, que estava plantada no jardim do castelo do duque, atingiu apenas 3 ou 4 metros, ainda era uma árvore jovem.  A paixão pela botânica acompanhou Goethe por toda sua vida. Num de poemas mais conhecidos, Goethe usa a árvore como metáfora, mandado o poema Gingko Biloba junto com algumas folhas para sua musa, Marianne von Willemer.


Estampa Art Nouveau / Reprodução

Ao longo do século, a Gingko Biloba se espalhou pela Europa e, depois pelo mundo. É um símbolo do oriente, uma espécie rara, de folhagens especiais. Quando a paixão pelas coisas orientais tomou a arte, a Gingko tornou-se um de seus símbolos mais visíveis, estampado em tecidos, desenhado em pinturas e gravuras, cuidadosamente confeccionado em joias. E assim a Gingko Biloba tornou-se um dos desenhos mais representados durante o período da Art Nouveau (ver imagens acima). Sua perenidade, suas cores e seu significado fez com que a árvore fosse usada em produtos farmacológicos e é assim que conhecemos a árvore hoje.

Edição: Rogério Jordão