Minas Gerais

CINEMA

Documentário mineiro retrata arte pulsante do Aglomerado da Serra

“Serrão Berço da Cultura” retrata movimentos culturais de hoje e a força da ancestralidade. Filme está disponível online

Belo Horizonte | Brasil de Fato MG |

Ouça o áudio:

Maíra Neiva, Negona Dance e Pablo Xavier são os diretores e artistas da comunidade - Créditos da foto: Divulgação/GDCOM

"Queremos mostrar que a periferia não deve estar na editoria policial como a gente sempre vê na mídia comercial, mas na editoria cultural dos meios de comunicação". É assim que o artista Pablo Xavier explica o principal objetivo do documentário mineiro “Serrão Berço da Cultura”, projeto lançado este ano e que narra parte da imensa história e movimentação cultural do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte. 

Pablo é um dos diretores e divide a função com Maíra Neiva e Negona Dance. Todos os três são artistas da comunidade. Inicialmente, a ideia era realizar um festival presencial com apresentações culturais e barraquinhas para movimentar a economia local. Só que, no meio do caminho, chegou a pandemia. 

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Com as limitações impostas pelo isolamento social, o projeto foi adaptado e ganhou linguagem audiovisual. O resultado pode ser visto em dois episódios disponíveis no YouTube: “Mulheres que Inspiram” (clique aqui) e e “Artivismo e Resistência” (clique aqui).

O valor da ancestralidade

Pablo conta que, durante o processo criativo, os idealizadores utilizaram o significado de um termo africano para descobrir que foco seguir em meio a uma construção cultural de tantas possibilidades. 

Sankofa é um pássaro africano de duas cabeças que carrega o conceito de que “nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou para trás”. "Ele basicamente fala que para fazer o nosso futuro, nós precisamos revisitar o passado. É dessa maneira que a gente entende o presente e molda o futuro", explica o artista.

São dois episódios disponíveis no YouTube: “Mulheres que Inspiram” e “Artivismo e Resistência”

Munido dessa simbologia, o primeiro episódio do documentário dá voz às mulheres que antecederam os jovens artistas do aglomerado: mães, avós, tias, professoras. 

"Apesar da gente aqui dentro ver as mulheres movimentando a cultura, lá fora sempre é retratado como se fossem apenas iniciativas masculinas. Além disso, nós também quisemos ouvir pessoas que estão presentes na formação dos personagens do segundo episódio, revisitando o nosso passado, porque essa construção artística que está acontecendo agora tem a ver com tudo o que já está sendo feito há muito tempo por essas mulheres", ressalta Pablo.

Comunicação que vem do povo

Ter a oportunidade de contar a própria história faz toda a diferença. Para Pablo, isso se fez valer quando a equipe se viu produzindo um conteúdo a partir de uma visão bem diferente do que vemos nos veículos da mídia comercial. A periferia não mais ocupava o lugar da “página policial”, como o artista define, mas da “página cultural”. 

"E esse documentário foi construído não pensando só na Serra, mas em todos os aglomerados e periferias que só são divulgados como lugares de violência. É muito difícil ver reportagens sobre arte. Agora existe uma valorização maior, mas não é sempre assim. Nossa ideia é dizer que a periferia deve ocupar a página cultural. A cultura é sim a nossa maior potência, não essa marginalidade que nos impõem o tempo todo”. 

Edição: Elis Almeida