Minas Gerais

Coluna

Põe o Canário!

Imagem de perfil do Colunistaesd
O jogo começou com grandes jogadas dos dois lados. Foi um jogaço e os dois times estavam inspirados naquela manhã - Créditos da foto: reprodução
A maior rivalidade mineira nos campos, nas quadras, bares e ruas é Atlético e Cruzeiro

A maior rivalidade mineira nos campos, nas quadras, bares e ruas é Atlético e Cruzeiro. Pode ser num jogo de botão ou numa pelada de rua. Sempre vai haver nervos à flor da pele. Muito bate-boca de ambos os lados.

Era um jogo de final do campeonato mineiro infantil de futsal. No Cruzeiro, dois craques: Lungo, o mais genial do lado esquerdo, e Canário, muito habilidoso do lado direito. No Atlético não era diferente. Tinham grandes jogadores. Uma era de ouro dos dois times.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Todo domingo pela manhã, tinha um jogão do campeonato mineiro. Essa final seria no campo do Cruzeiro, no Barro Preto como é conhecido, em Belo Horizonte. Bairro colonizado pelos operários italianos.

O ginásio estava abarrotado e não cabia mais ninguém e a torcida cruzeirense estava eufórica para ver Lungo e Canário. Para surpresa geral da torcida, na escalação anunciada não tinha Canário, que realmente não estaria escalado e começaria no banco. Foi uma revolta geral da torcida! Muita xingação por parte dos torcedores. Que, imediatamente, começaram a gritar contra o treinador cruzeirense: burro, burro, burro...

O jogo começou com grandes jogadas dos dois lados. Foi um jogaço e os dois times estavam inspirados naquela manhã. Cada jogada mais linda que a outra. Com direito a gol de placa de Lungo.

De repente, um torcedor mais exaltado e fanático começa a gritar com o técnico do Cruzeiro: Põe o Canário, fedaputa!  Coloca ele, burro!

E foi assim o primeiro tempo todo. Parecia um megafone humano.

Começa o segundo tempo e o torcedor volta a gritar: põe o Canário, porra! Põe o Canário! Põe o Canário!

Faltando dez minutos para acabar o jogaço, o técnico cruzeirense, já puto com o torcedor, coloca o Canário em campo. Na sua primeira jogada, deu um drible à la Tostão e levantou a torcida. O torcedor foi ao delírio! Não falei, krai, que esse treinador era burro!

Aí veio o segundo lance do Canário para fazer o gol da vitória e levar o campeonato e ser campeão. Mas ele, cara a cara com o goleiro, deu um bico para o alto sem direção e isolou a bola para fora do ginásio. Foi xingação pra todo lado nas arquibancadas do ginásio. Também um silêncio que atordoava o coração dos torcedores.

Uma voz isolada e solitária no meio da arquibancada grita: tira essa porra do Canário, porra! Tira essa perna de pau! Vou matar esse moleque!

Rubinho Giaquinto participa da ColetivA em Belo Horizonte

Edição: Larissa Costa