Paraná

LUZES DA CIDADE

Conto | O urso e o lobo

Coluna de literatura e contos curtos do Brasil de Fato Paraná

Londrina (PR) |
"E, quando ela parecia se adaptar, se assoma o lobo com seu olhar que trovejava na escuridão", Venâncio de Oliveira - Arte: Vanda Moraes

A floresta apareceu em sua solidão natural. Ele estava só e não tinha mais o calor do sol de antes. Nem o afago tranquilo deles e delas. Ele estava apenas com o frio de seu corpo seminu.

Olhou assustado.

E num átimo de segundo, soou o rugido transloucado e imponente da besta. O peso do urso marrom mexeu com as estruturas e iluminou a escuridão. E nessa intensidade irrespirável de sua ferocidade, tentou rasgar a carne dele.

Ela caiu no buraco para se proteger. Ali machucada e mancando tentou se apoiar no frio gélido da caverna de antanho, de quando éramos selvagens, sem a luz do acolhimento do sorriso delas. E, quando ela parecia se adaptar, se assoma o lobo com seu olhar que trovejava na escuridão. E, com a baba entre os dentes, sem pressa, caminha para o abate, na tocaia franca que se impõe ao medo.

Ela ou ele olhava a fera. E nessa toada de inexorabilidade, tentava se firmar, orando para uma inexistência paterna, e seu pé se enrijeceu e conseguiu-se encontrar algum sentido na pedra fria.

E nessa loucura toda e no medo, vocês gritaram o que...

Edição: Pedro Carrano