Minas Gerais

ATLÉTICO

PAPO ESPORTIVO | Sanatório geral

Aparentemente, só restou a satisfação dos fracassos recentes do arquirrival

Belo Horizonte |
"A qualidade do elenco seguirá sendo exaltada. As falhas ficarão nas costas dos treinadores" - Pedro Souza / Atlético Mineiro

Li um livro há quase 40 anos. Era o início da carreira de João Ubaldo Ribeiro. “Setembro Não Tem Sentido”. Como chegou até a mim? Me esqueci. A história, genial, envolvia um jornalista atormentado. Novidade, hein! 

Vejo o Atlético agora e encontro o contrassenso em duas pessoas, Hulk e Cuca, a reencarnação dos embates fictícios e fantasiados de uma visão de mundo, agora mais do que realçada pelo maniqueísmo. 

Qual a expectativa de milionários investidores neste ano de consagração, a caminho da redenção do estádio próprio, com tamanhas incertezas? E na improvável resposta: o confronto entre os dois personagens foi amenizado pela justificativa da emoção após a derrota no clássico. 

Calma e bom senso nunca existiram dentro do futebol, ainda mais quando a desconfiança se exacerba entre os torcedores. Há disputa, ansiedade, imposições, arbitrariedades e, principalmente, arranjos. Há valores descomunais envolvidos. E quem faz o jogo arquitetado nesta situação pode se locupletar.

Não é nada demais, pensam os designados para manter a chama acesa da megalomania, o Galo perder um clássico. Já amenizaram tudo com a perspectiva de ajustes para a estreia na Libertadores e do primeiro lugar garantido no Estadual. 

A qualidade do elenco seguirá sendo exaltada. As falhas ficarão nas costas dos treinadores de plantão, nas trapaças da sorte ou nos conchavos sempre, acreditam, contrários aos interesses alvinegros. Que já houve, sem dúvida, mas se tornaram dogma ou mantra na alma atleticana. Nunca a capacidade dos rivais será reconhecida. 

Tínhamos, no Brasil, o complexo de vira-lata, segundo um escritor conservador e ao mesmo tempo contestador das contradições da sociedade (algo possível neste inusitado país), Nelson Rodrigues. Isso se tornou uma síndrome, paranoia sistemática e endêmica. Isto se transformou em ufanismo e fanatismo generalizado. 

Espero que superemos este sanatório geral, em que se julga tudo como conspiração comunista. Vivemos uma dor constante, mesmo depois de inéditos títulos: continental e da Copa do Brasil. Só nos restou, para muitos, aparentemente, a satisfação dos fracassos recentes do arquirrival.

Edição: Wallace Oliveira