Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO NA PANDEMIA

Artigo | Sobre os protocolos das escolas

Saiba o que é importante levar em conta sobre cuidados e riscos com o retorno das aulas presenciais em meio à pandemia

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"É muito mais importante explicar bem sobre os cuidados e fazer um questionário de sintomas TODOS OS DIAS do que borrifar mochilas" - Alex Rocha/PMPA

É fundamental explicar que o vírus está no ar. O vírus se transmite por via respiratória, ou seja, quando respiramos, falamos, tossimos, etc. As gotículas são maiores e viajam menos (mais ou menos dois metros) e os aerossóis ficam suspensos no ar e viajam mais por até 6 metros ou mais, dependendo da forma de emissão e das condições do ambiente).

Por isso precisamos de três coisas FUNDAMENTAIS: máscara, ventilação e distanciamento.

1 - Máscara de boa qualidade bem ajustada no rosto. (conforme as recomendações técnicas para adultos e crianças)

2 - Ventilação dos ambientes ou, melhor ainda, ficar ao ar livre.

3 - Distância (mínimo 1,5 metros, mas a maior que for possível).

Apenas o distanciamento, sem máscara e sem ventilação, já mostrou que não protege sozinho. A máscara colocada só em determinados momentos também não, porque os aerossóis estão no ar. Ela precisa ser usada o tempo todo, desde ANTES de entrar naquele ambiente. E uma ventilação mal feita, sem troca de ar, só espalha vírus, em vez de mandar embora as partículas.

Se o local for fechado e mal ventilado, o vírus vai ficar ali dançando no ar e o risco aumenta. Quanto mais tempo de exposição a esse ambiente e quanto mais pessoas, pior. Por isso, a entrada deve ser restrita, e outras pessoas não devem circular na escola se não for absolutamente necessário. Também nesse item se encaixam o escalonamento de horários, a identificação de quem tem mais vulnerabilidade, a redução de turmas, formação de “bolhas” e os cuidados para evitar aglomerações em áreas comuns.

Então, para avaliar se um protocolo de retorno é seguro, olhe primeiro essas três coisas. O protocolo da escola inclui e detalha esses três elementos?

Se sim, é bem provável que o protocolo esteja atualizado, e você pode passar a avaliar o resto. Se não, por favor avise à escola de que precisa revisar e buscar sempre as informações mais atualizadas, pois as recomendações mudam quando o nosso conhecimento aumenta.

(Aliás, aí vai outra dica: se o protocolo é do ano passado, já fique alerta, porque muita coisa mudou.)

Além desses três elementos, observe se há rastreamento diário de sintomas, um fluxograma bem determinado para orientação, isolamento e testagem de sintomáticos e contatos.

Mas e o resto? Por que você não falou do tapetinho?

O resto, como a higiene geral e outras medidas, tem bem menos impacto. A transmissão pelas superfícies é muuuuuito menos frequente do que a respiratória.

Isso quer dizer que não devemos nos preocupar com higiene? Devemos sim, como antes, ainda mais em uma escola. Lavar as mãos é um hábito importantíssimo que previne milhares de doenças. Lavar os alimentos, limpar bem as superfícies que são usadas para alimentação, sempre foi recomendado.

A Mel Markoski lembra que, em contextos de transmissão muito elevada, todos os cuidados são importantes. O problema é quando só tem o “resto”. Daí é SINAL DE ALERTA!

Lavar sapatos, borrifar mochilas com álcool na entrada da escola, e outras ações desse tipo, não só tem pouquíssimo impacto se usados sem as medidas de proteção respiratória, como ainda podem dar uma falsa sensação de segurança. É muito mais importante alguém cuidar das máscaras na entrada da escola do que lavar os sapatos (a não ser para crianças pequenas que podem querer lamber o chão).

É muito mais importante explicar bem sobre os cuidados e fazer um questionário de sintomas TODOS OS DIAS do que borrifar mochilas.

Acho importante que as pessoas tenham acesso à melhor informação disponível para tomarem suas decisões de forma consciente. Incluindo as condições epidemiológicas locais, o investimento em garantir a segurança de todas as pessoas que trabalham e estudam na escola e a atualização dos protocolos.

É fundamental educar para os cuidados e comunicar bem às famílias de que a pandemia não passou, o risco não acabou, e que qualquer sintoma deve ser motivo para comunicar e isolar imediatamente os contatos. Uma das condições mais importantes para a volta de qualquer atividade é uma comunidade altamente engajada nos cuidados. Como está a sua?

O protocolo mais seguro que existir só funciona se for efetivamente cumprido.

E quando o protocolo está desatualizado, então, às vezes ele atrapalha mais do que ajuda.

Além disso, em situações de risco muito alto, mesmo o melhor protocolo não consegue reduzir o risco a zero. Seguro, mesmo, é acabar com o vírus - e pra isso precisamos continuar pedindo por gestão da pandemia, comunicação efetiva, vacina pra todo mundo, uso universal de máscaras, distanciamento e empatia.

* Lucia Pellanda é reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre  (UFCSPA), professora de epidemiologia e cardiopediatra.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.


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Edição: Marcelo Ferreira