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PAPO ESPORTIVO | Enfim, o América incomoda!

Coelho é favorito à vaga na decisão do Campeonato Mineiro

Belo Horizonte |
"No futebol mineiro, existe uma nova realidade e quem está na Série A é o América" - Marina Almeida / América

Depois da vitória de virada do América sobre o Cruzeiro, na primeira partida da semifinal do Campeonato Mineiro, não foram poucos os torcedores cruzeirenses e os jornalistas da mídia conservadora que se apressaram em condenar o América e o “espetáculo particular”, a “deselegância” e a “falta de esportividade” do técnico Lisca (para citar termos de um texto de Carlos Eduardo Mansur, no GE). Em um grupo dos colegas de faculdade, um amigo cruzeirense destilou raiva contra o América - que chamou de “time irrelevante e inexpressivo” - de forma que nunca havia feito. Nas redes sociais, inclusive do América, essa também foi a tônica manifestada em especial pelos torcedores celestes.

Essas reações me parecem ser um sintoma de duas realidades simultâneas: o crescimento do América e o apequenamento do Cruzeiro nesses últimos três anos. De outrora coitadinho, inofensivo e simpático, o Coelho passou a ser um time chato, perigoso e postulante a rivalizar com a Raposa e com o Galo.  Ou seja, passou a incomodar! E é por isso toda a raiva - talvez até inconsciente - contra o “show” do Lisca e do América.

E, aliás, podemos refletir para além do futebol. Em todos os campos da vida em sociedade - na política, nas instituições públicas e privadas, na mídia, nas universidades - os poderosos querem que tudo continue como sempre esteve, ou seja, de forma dominada e comandada pelos mesmos atores de toda história. Qualquer sujeito ou grupo minoritário ou marginalizado que ouse tomar ou fazer parte daquele espaço “restrito”, é logo taxado de baderneiro, desrespeitoso, barulhento. De fato, em muitos casos não há outra forma de ser visto, ser respeitado, ser considerado: é preciso gritar, é preciso incomodar, é preciso até radicalizar para ocupar lugares que historicamente são destinados às minorias privilegiadas. 

Lisca, que sempre dirigiu times das prateleiras médias e baixas do futebol nacional, incomoda por ser um ótimo treinador, consciente e inteligente, mas sobretudo por colocar o dedo nas feridas, por apontar as injustiças, por fazer coro com os menos privilegiados no esporte, por querer ajudar seus times a galgarem novos espaços. Na entrevista após o jogo, foi claro: “O América não vai mais aceitar isso. Falaram um tanto de porcaria com a gente, e nós também vamos falar!”. 

E, ao final, lembrou esse incômodo que causa o América estar no espaço privilegiado dos holofotes mineiros que há mais de 70 anos é ocupado quase que exclusivamente por Atlético e Cruzeiro: “Vamos tentar evitar essa festa que todos estão falando dos 100 anos de clássico. O América aparece pouco. Quem sabe se a gente conseguir ser campeão mineiro vocês dão um pouco mais de atenção para o América, porque hoje no futebol mineiro existe uma nova realidade e quem está na Série A é o América”.

Edição: Wallace Oliveira