Paraná

Pandemia

Os dramas na hora do adeus

Depoimento mostra a dificuldades em conseguir túmulos na pandemia

Curitiba (PR) |
"Se tivermos uma situação de adoecimento entre sepultadores, a situação pode ser mais séria", diz presidente da Associação Paranaense dos Planos de Assistência Funeral - Foto: Giorgia Prates

Perder algum ente querido é sempre um momento difícil para quem fica. E os momentos de luto vêm se multiplicando na pandemia. De março de 2020 até o momento, mais de 422 mil famílias brasileiras tiveram que encarar a dor de dar adeus a quem ama. Muitas delas nem ao menos conseguiram se despedir, já que o protocolo em boa parte das cidades do país proíbe velórios de vítimas da Covid-19. Em outros casos, a dificuldade é de encontrar um jazigo, mesmo para quem paga plano funerário.

Esse foi o caso da técnica de laboratório e poeta Andreia Carvalho, 47, que perdeu recentemente seu pai para a Covid-19. Ela relata que, após a liberação do corpo, teve que esperar mais 24 horas até conseguir um jazigo.

De acordo com Andreia, apesar de sua família pagar o plano funerário, devido a outros óbitos que ocorreram, seu pai não conseguiu ser enterrado junto aos familiares. Isso porque a família só tinha direito a duas gavetas, e como as mortes ocorreram num espaço inferior a três anos, as exumações previstas por lei não puderam ser feitas. "Tive que pedir para a família do meu marido um espaço para meu pai descansar. É um sofrimento muito grande", conta.

Andreia ainda diz que, por conta da pandemia, se deparou com várias famílias com o mesmo problema e com cemitérios lotados. "Terei de comprar um terreno maior para minha família, mas é uma situação que assusta muito, e a dor de ter que enfrentar isso depois do luto é grande."

Segundo Elielson Apolinário, presidente da Associação Paranaense dos Planos de Assistência Funeral, as funerárias vêm adotando procedimento de que, em caso de mais familiares de uma mesma família virem a óbito em menos de três anos, há um empréstimo de espaço ou o corpo é enterrado em cemitério público. Ele conta que as empresas vêm relatando óbitos de até quatro membros de um mesmo grupo familiar em questão de meses.

"Apesar de variar de cidade para cidade, e de empresa para empresa, algumas cedem espaço por um período determinado até ser liberado um espaço mais adequado", explica Elielson. Em caso de famílias de baixa renda, em Curitiba, é a prefeitura que encaminha para um cemitério público.

Existe risco de colapso funerário em Curitiba?

No início deste ano, o Brasil foi impactado com cenas de corpos sendo enterrados em valas comuns em Manaus (AM). Em Curitiba, após um rápido aumento dos casos de Covid-19, a cidade viu parte do seu sistema hospitalar chegar ao limite.

Contudo, para o presidente da Associação Paranaense dos Planos de Assistência Funeral, a capital paranaense e a Região Metropolitana não correm risco eminente de caos no setor. "Mesmo com um aumento muito grande de óbitos, Curitiba consegue dar conta por ter um sistema bem integrado e pulverizado de cemitérios e funerárias", relata. 

A capital possui 23 cemitérios: cinco municipais e 18 privados. O risco que Elielson teme é de que surtos de Covid-19 acometam profissionais da área, visto que apenas agentes funerários estão sendo vacinados. "Se tivermos uma situação de adoecimento entre sepultadores, a situação pode ser mais séria. Não teríamos ninguém para enterrar as pessoas", alerta.

Para o clínico médico Felipe Bueno, 34 anos, que atua na linha de frente, em caso de um novo surto que leve a uma piora nos serviços hospitalares, novamente, a cidade poderá ter dificuldades. "Se Curitiba tiver um novo pico, e não apresentar uma vacinação ampla, poderemos ter, sim, um número grande de internados, com novo colapso do sistema hospitalar e alto número de óbitos que pode levar ao colapso funerário." Bueno alerta que, em caso de descontrole da pandemia, entre julho e agosto, a capital poderá ter um alto número de vítimas da Covid-19. 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini