Pernambuco

GREVE

Trabalhadores da educação fazem balanço do primeiro mês da Greve pela Vida em PE

Diretor do Sintepe fala da dificuldade de negociação com Governo do Estado e tentativa de censura por parlamentar do PSC

Brasil de Fato | Recife (PE) |
O Sintepe esteve na Escola Professor Nelson Chaves, em Camaragibe, e tem vistoriado escolas para levantar a estrutura das instituições para manter medidas sanitárias - Sintepe/Divulgação

Nesta quarta-feira, 19 de maio, a greve deflagrada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe) completa um mês. Na última assembleia geral da categoria, realizada virtualmente na última semana com a presença de mais de 800 pessoas, os trabalhadores decidiram manter a Greve pela Vida. 

O ponto-chave, no entanto, tem sido a dificuldade de diálogo com o Governo do Estado, que havia interrompido as negociações. Em resposta à greve, o sindicato têm recebido multas diárias. O Brasil de Fato Pernambuco entrevistou o diretor do Sintepe, Paulo Ubiratan, para entender qual o saldo do movimento paredista até o momento. 

No momento, a pauta da greve é única e específica. "Não estamos exigindo melhores condições de trabalho. Estamos exigindo que, enquanto o governo não vacine os trabalhadores da educação, continuemos dando aula remota", explica o diretor. 

Resposta do Governo de Pernambuco

Em nota pública, o Sintepe afirmou que desde 2015 o Governo do Estado tem ignorado o direito constitucional de greve, substituindo a negociação pela judicialização, com multas altíssimas que tentam inviabilizar as atividades do sindicato. Desta vez, a multa imposta é de R$ 200 mil reais por dia de descumprimento. A multa estimada já chega ao valor de R$ 5 milhões de reais.

Em um momento em que a necessidade de diálogo aumenta, o diretor afirma existir uma tentativa de asfixiar o sindicato. “Não sei qual o entendimento que o Governo de Pernambuco, que é do PSB, tem com democracia, mas para nós isso é uma afronta a organização e a construção do movimento sindical no Brasil e no mundo”, defende Paulo. 

O sindicalista ainda aponta outras questões. Segundo ele, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) deu entrada em um documento pedindo para majorar a multa para R$ 300 mil por dia de descumprimento. Além disso, pede que seja recolhido o valor que os sócios pagam ao sindicato. Essa contribuição mensal é o que sustenta as atividades do Sintepe, como projetos, cursos de formação e materiais de leitura, por exemplo. 

Ubiratan explica que o sindicato entende que estados e municípios brasileiros estão com dificuldade de atender a demanda da vacinação por descaso do Governo Federal em cumprir seu papel, e por isso reconhece a necessidade da vacinação acontecer por grupos prioritários. Ainda assim, os trabalhadores da educação deveriam estar sendo vacinados, porque a escola é um local de alta possibilidade de contágio e envolve não apenas professores, mas toda uma comunidade escolar.

Nesse sentido, para ele, as aulas presenciais deveriam estar sendo colocadas em segundo plano e equipamentos tecnológicos deveriam estar sendo comprados para os estudantes, o que tem sido um processo demorado. "Em relação ao estado, é uma questão de decisão política. Por exemplo, se construiu um comitê da covid-19 que não tem uma única representação dos trabalhadores da Central Única dos Trabalhadores", finaliza. 

Agressões aos trabalhadores da educação

Nesta semana, os trabalhadores da educação sofreram agressões por parte de uma parlamentar. O episódio aconteceu na escola Professor Nelson Chaves, em Camaragibe, na região Metropolitana do Recife. Segundo denúncia do Sintepe, a deputada estadual Clarissa Tércio, do Partido Social Cristão (PSC), chegou à escola sem máscara e com dois seguranças, que segundo os presentes, estavam armados, fazendo acusações sobre os professores estarem introduzindo “ideologia de gênero”. 

Nas redes sociais da parlamentar, ela afirma ter recebido uma denúncia de uma mãe de estudante pelo canal “Fiscaliza PE”, em que relata o ensino da linguagem neutra pelos professores da escola. A partir disso, a parlamentar foi à unidade escolar e intimidou os professores. Nas redes sociais da deputada, diversas postagens mostram o empenho da parlamentar em banir o pronome neutro, já que segundo ela "essa linguagem objetiva perverter o uso da língua portuguesa, com a justificativa de torná-la inclusiva para pessoas transexuais, travestis, não-binárias, intersexo ou que não se sintam contempladas pelo uso do masculino genérico"

“A atitude fundamentalista dessa deputada é lastimável. Ela mostrou, além de uma incompreensão do processo pedagógico, uma relação extremamente enviesada no que significa o papel do Estado. Ela cometeu, ao nosso ver, um crime”, se posiciona Paulo. “Ela chegou na escola amedrontando as pessoas da escola, filmando”. Para o sindicato, a deputada feriu o princípio de liberdade de cátedra, a autonomia escolar e os profissionais da escola. 

Após o caso, a vice-presidente do Sintepe, Ivete Caetano, se dirigiu à escola para prestar apoio aos professores e à direção da escola. Além disso, o sindicato acredita que a atitude deve ser discutida na Comissão de Direitos Humanos. "Se essa atitude se torna prática, os professores ficam em uma situação extremamente difícil. A orientação sexual não é uma doença. A escola não pode se negar a mostrar os saberes e negar uma grande parte da sociedade", finaliza Paulo. 

Além da continuidade do movimento paredista, a assembleia da última terça também aprovou um calendário de lutas que inclui a continuidade de alertas do Sintepe por meio de carros e bicicletas de som em todo o Estado. Também será realizado um Ato Público em frente ao Palácio do Campo das Princesas nesta quinta (20) às 9h.

Edição: Vanessa Gonzaga