Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Quando é impossível jogar fora: o fracasso da Gestão de Resíduos

Nosso país é o 4º maior produtor mundial de “lixo” e a perspectiva é a produção crescer na próxima década pelo menos 16%

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Leonel Radde (PT) protocolou o Requerimento de Instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito do Lixo (CPI do Lixo) - Reprodução

A greve dos trabalhadores da limpeza urbana da cidade foi tão intensa quanto breve. Antes mesmo da deflagração desta, estive na sua sede em ação de fiscalização após denúncia. Na ocasião, chovia tanto na rua quanto no local onde os trabalhadores e trabalhadoras deveriam estar abrigados. 

Enquanto eu estava com capa de chuva, eles estavam com a roupa que utilizam diariamente para recolher os resíduos, vulgo lixo, dos habitantes da Capital: o laranja rasgado, desgastado e sem o acompanhamento de qualquer EPI.

O quadro é apenas uma amostra das falhas que existem na estratégia atual de gestão dos resíduos. A complexidade da política é consequência da sua longa cadeia de processos, que envolvem múltiplos atores, interesses e preferências: o descarte, a coleta, a manipulação, o transporte, a triagem, a reciclagem e a compostagem.

Enquanto os resíduos coletados são de difícil manipulação, existem ainda os perigos de encontrar mistura de materiais como orgânicos e proteínas em decomposição junto com papéis, uso de sacolas rasgadas, além dos objetos cortantes e tóxicos, que abundam enquanto perigo.

Para a manipulação e transporte, as condições de trabalho são quase inexistentes, a não ser pela maior condição que importa atualmente: ter um trabalho. Diante dessa condição fica perceptível uma das maiores falhas da estratégia de Gestão de Resíduos: a desconsideração desse trabalho como um serviço público valoroso.

Nosso país é o 4º maior produtor mundial de “lixo”, descartamos diariamente cerca de 265 mil toneladas. A perspectiva é que na próxima década a produção crescerá, pelo menos, 16%. Isso significa que podemos chegar a 100 milhões de toneladas de lixo por dia em 2030.

Esses números só não são piores em virtude de pessoas que desempenham as funções: de garis à recicladores, de coletores a trabalhadores das unidades de triagem, além das catadoras e catadores. Cada um desses segmentos apresenta demandas próprias, mas apresentam dois elementos em comum: vivenciam a constante desvalorização e carregam a responsabilidade de reverter a falsa ideia do “jogar fora” que orienta nossa sociedade. 

* Vereador (PT) de Porto Alegre e Policial Civil do Rio Grande do Sul.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko