Paraná

Pandemia

Sindicato denuncia surto de Covid em Centro Internacional de Cargas dos Correios

Pelo menos duas pessoas morreram e há dezenas de infectados em unidade de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba

Curitiba (PR) |
Ceint abriga 660 funcionários, dos quais 540 são terceirizados - Divulgação

O Centro Internacional de Cargas dos Correios (Ceint), que fica no município de Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, tem apresentado números alarmantes de infectados pela Covid-19. São dezenas de trabalhadores que já testaram positivo e dois faleceram nos últimos oito dias.

Luiz Henrique Belemer, de apenas 22 anos, morreu nesta segunda-feira (14). Ele era operador de empilhadeira no Ceint, contratado por uma empresa terceirizada. Luiz saiu do local de trabalho no dia 07, dizendo que não estava se sentindo muito bem. Fez o teste, que confirmou a Covid-19. Ficou na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Pinhais aguardando por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas a vaga não chegou em tempo. O trabalhador chegou a ser intubado na UPA, mas não resistiu.

Outro óbito foi o da esposa de um trabalhador, Keli Queques, de 38 anos, casada com Roberto Cordeiro Franco, operador de triagem no Ceint. Ele foi o primeiro de sua casa a apresentar sintomas e a testar positivo, em seguida, a esposa desenvolveu as complicações da doença, falecendo na última quarta-feira (09).

Justiça negou pedido de testagem em massa e desinfecção do local

O Ceint tem 20 mil metros quadrados e é responsável pelo recebimento e desembaraço de grande parte das encomendas internacionais que chegam ao país, sendo o maior centro de distribuição internacional dos Correios no Brasil. Abriga cerca de 660 funcionários, dos quais 540 são terceirizados.

O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintcom-PR) ingressou com uma denúncia no final de maio, pedindo testagem em todos os funcionários, afastamento preventivo daqueles que entraram em contato com os infectados que testaram positivo e desinfecção do local. O pedido de tutela de urgência foi negado pela juíza do trabalho substituta, Luciene Cristina Bashiera Sakuma, do Tribunal Regional do Trabalho - 9ª Região.

Dentre as alegações da juíza para negar os pedidos, está o fato de o Sindicato ter conseguido comprovar somente dois casos positivos para Covid-19, quando ingressou com a ação, o que não justificaria medidas de quarentena e testagem em massa, segundo a magistrada.

Do dia 1º de junho até agora, os casos aumentaram para mais de 60 contaminados, e o Sintcom-PR afirma já ter dezenas de comprovações. A Vigilância Sanitária de Pinhais, após receber inúmeras denúncias do Sindicato, esteve no local e obrigou os Correios a realizar testes por amostragem, parte dos custos deles divididos com a empresa terceirizada. Os Correios se negaram a fornecer o número exato dos resultados.

O Sintcom-PR denuncia que com o grande número de afastamentos com atestados médicos pela Covid-19, ao invés de tomar providências para controlar o problema, os Correios contrataram mais terceirizados. Também foi constatado pela Vigilância Sanitária falta de água na unidade. A empresa foi obrigada a contratar caminhão pipa para que os funcionários pudessem usar os banheiros e lavar as mãos.  

Outro agravante nessa unidade, aponta o Sintcom-PR, é que os trabalhadores terceirizados ganham por dia trabalhado e, no caso de afastamento, são demitidos assim que acaba a vigência do atestado médico. "São trabalhadores completamente precarizados que, mesmo sintomáticos para a Covid, obrigam-se a ir trabalhar para não perder a renda mínima no final do mês. Isso tem levado à proliferação rápida do vírus na unidade. O pior de tudo é que a direção dos Correios tem conhecimento do problema, mas continua se negando a quaisquer medidas que possam mitigar o contágio. É o completo desprezo da vida em detrimento do lucro”, diz Adaílton Cardoso (Dadau), secretário geral do Sintcom-PR.

O Sindicato aguarda audiência para discutir as medidas de prevenção na unidade, ainda sem data marcada. Também foram feitas denúncias no Ministério Público do Trabalho, mas, até o momento, não houve nenhuma fiscalização no local.

Correios negam denúncias

Em nota ao portal Bem Paraná, os Correios alegam que as denúncias feitas pelo Sintcom-PR são "notícias infundadas". "As informações alegadas pelo sindicato não procedem e os Correios repudiam a disseminação de notícias infundadas sobre a empresa, que geram preocupação desnecessária à população. Os Correios estão acompanhando a situação de saúde do efetivo e colaboradores, prestando o apoio necessário e, também, atuando para garantir o bom funcionamento das atividades operacionais. Reiteramos que, desde março de 2020, os Correios vêm adotando sucessivas medidas de proteção à saúde de seus empregados, clientes e fornecedores, em função da pandemia do novo Coronavírus".

Os Correios informaram, ainda, que no Centro Internacional em Pinhais há medição de temperatura dos profissionais, houve a reorganização das estações de trabalho para promover o distanciamento e mais de 600 exames foram realizados pela empresa. "Reiteramos que, em respeito aos valores institucionais, os Correios compartilham informações sobre empregados somente com as autoridades competentes", afirmam.

Edição: Lia Bianchini