Rio Grande do Sul

ECONOMIA

Sem indústria e sem tecnologia, Pampa gaúcho também está perdendo sua população

Distância dos maiores centros do estado também atrapalha recuperação do atraso da região, diz economista

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Polo Naval, em Rio Grande, esperança de superação do atraso secular da Metade Sul, foi transformado em sucata após o golpé de 2016
Polo Naval, em Rio Grande, esperança de superação do atraso secular da Metade Sul, foi transformado em sucata após o golpé de 2016 - Foto: Ecovix / Divulgação

Além de economicamente mais frágil, sem indústrias e com base na pecuária, a Metade Sul do Rio Grande do Sul está perdendo população. Este fenômeno, aliado à distância dos maiores centros do estado, torna ainda mais difícil a superação do atraso econômico regional. Esta foi uma das observações do economista Adalmir Marquetti, ex-presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) no debate A Formação e o Futuro da Economia do Pampa, promovido ontem (24) pelo Núcleo Fronteira Oeste da Fundação Maurício Grabois. A live também teve a participação dos historiadores Luiz Roberto Targa e Vera Albornoz.

Marquetti reparou que, com tal quadro, é muito mais difícil para a região do Pampa atrair, por exemplo, uma empresa da área de inovação tecnológica. Esta irá preferir se instalar na região metropolitana de Porto Alegre com maior proximidade da sua clientela.

Descompasso no PIB per capita

Recorrendo a mapas, Marquetti demonstrou que o centro da concentração populacional e do PIB gaúchos, além do setor de inovação em tecnologia, estão situados em um círculo, cujo coração é Porto Alegre. As bordas abrangem cidades como Santa Maria, Passo Fundo e Caxias do Sul, com algumas presenças citadas além dessa circunferência, casos de Pelotas, Rio Grande e Erechim.


PIB per capita é inferior no Pampa / Fonte: FEE

Comparando o PIB per capita do Brasil, do Rio Grande do Sul e de Bagé – ele nota que Bagé pode servir como referência extensiva ao Pampa – Marquetti observou que, em 2018, o PIB per capita brasileiro era de R$ 33.593,00, enquanto o do estado atingia R$ 40.362,00 e o de Bagé somente R$ 24.620,00. Evidencia-se aí o descompasso entre o desenvolvimento do estado e do país na comparação com a parte meridional do Rio Grande do Sul.

“Projeto atual do Brasil é de um fazendão”

Como há um movimento constante da população saindo da Campanha rumo ao Leste gaúcho, ele considera que faz falta uma política migratória no estado como forma de buscar um reequilíbrio.

O economista mostrou-se cético quanto a uma solução para o Pampa sem haver uma solução para o país. “O projeto do Brasil atual é de um fazendão”, resumiu.

Lembrou que, em 1983, o Brasil e a Coreia do Sul tinham o mesmo PIB per capita. Um pouco depois, em 1986, o Rio Grande do Sul, cujo PIB per capita supera o do país, era também ultrapassado pelos coreanos. De lá para cá, a Coreia do Sul deslanchou, enquanto o Brasil e o Rio Grande, apesar da reação nas duas primeiras décadas deste século, ficaram para trás.

Na descrição de Marquetti, o Rio Grande do Sul e o Brasil registraram um crescimento forte e constante do PIB a partir de 2005 que teve seu pico nos anos de 2013/2014. Depois, veio a queda, uma breve resposta positiva em 2016, e despencou com violência em 2019.


Gráfico mostra evolução do PIB do Brasil e do RS / Reprodução de apresentação de Marquetti


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Edição: Marcelo Ferreira