Rio de Janeiro

HISTÓRIA

Líder da Revolta da Chibata será tema de debates regulares em escolas do RJ

Deputados aprovaram lei pela memória e legado de João Cândido, o "Almirante Negro", para novas gerações

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
João Cândido Almirante Negro
Trajetória e legado de João Cândido Felisberto não são suficientemente conhecidos pelas gerações atuais, justificam autores da medida - Reprodução

Tornado herói do Rio de Janeiro por uma lei de 2019, João Cândido Felisberto, o líder da Revolta da Chibata, será tema de atividades regulares nas escolas públicas e privadas do estado. A proposta foi aprovada pelos deputados da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e sancionada pelo governo estadual.

O objetivo da lei é promover a memória e o legado do "Almirante Negro", que se rebelou em novembro de 1910 contra as chibatadas dadas por oficiais navais brancos em marinheiros negros e mulatos. As causas da revolta eram também contra as condições de trabalho e os baixos salários. João Cândido foi preso após o motim e morreu pobre.

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A Lei, de número 9.349/21, prevê que as atividades sejam desenvolvidas dentro do projeto político-pedagógico das escolas, por meio de ações transdisciplinares, assegurando a autonomia das unidades escolares.

Segundo o texto, em novembro, mês da Consciência Negra, as escolas deverão promover atividades relacionadas à Revolta da Chibata em parceria com órgãos públicos e movimentos culturais da sociedade civil. Todas as atividades previstas pela medida serão custeadas com recursos do Fundo Estadual da Cultura.

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“A trajetória e o legado de João Cândido Felisberto não são suficientemente conhecidos pelas gerações atuais. Sua memória precisa ser preservada como patrimônio inalienável da história do povo brasileiro e, por isso, a contribuição das escolas de educação básica é absolutamente fundamental”, justificaram os autores da proposta, os deputados Waldeck Carneiro e André Ceciliano, do Partido dos Trabalhadores.

História

João Cândido, o "Almirante Negro", tem em sua homenagem uma estátua na Praça XV, no Centro do Rio. Em 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inaugurou o monumento e concedeu anistia post mortem ao marinheiro negro.

João Cândido nasceu em 1880 e entrou para a Marinha aos 13 anos. Após a Revolta da Chibata, ele conseguiu que o governo federal se comprometesse a abolir os castigos aos marinheiros, mas nem por isso deixou de ser punido. Foi preso e sobreviveu à tentativa de assassinato na Ilha das Cobras. Em 1911, foi internado em um hospício.

João Cândido continuou a trabalhar descarregando peixes de navios até a morte, 1969, aos 89 anos. Na década de 70, ganhou dos compositores Aldir Blanc e João Bosco o samba "O mestre-sala dos mares", imortalizado na voz de Elis Regina, em sua homenagem.

 

Edição: Eduardo Miranda