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O vírus anda nos ônibus lotados de Curitiba

“Nunca peguei ônibus com 50% de lotação, estão sempre cheios”, diz usuária de transporte coletivo

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Terminais e ônibus permaneceram lotados em toda a pandemia em Curitiba - Giorgia Prates

Desde o início da pandemia, os usuários do transporte coletivo de Curitiba e Região Metropolitana não tiveram segurança sanitária garantida, muito menos respeitados os decretos da própria Prefeitura, que estabeleciam que só poderiam andar com 50% a 70% da lotação. Quem vive a realidade diária relata que andar de ônibus em Curitiba é um “caos”. 

Ainda com frota reduzida, Curitiba voltou a registrar, em julho deste ano, média diária de passageiros acima de 300 mil pessoas, de acordo com dados da Urbs, volume 10% superior à marca de junho. Mesmo com o decreto municipal em vigor que determina circulação com, no máximo, 70% da capacidade. 

Caos 

Os números comprovam que a superlotação, que nunca deixou de acontecer, aumentou ainda mais segundo relatos de quem vive essa realidade. “Nos horários convencionais de trabalho, nunca peguei ônibus com metade da lotação, desde o início da pandemia. Durante o dia, principalmente, sempre muito lotado”, conta a professora e musicista Alana Dédalos. 

Ela pega quatro ônibus diários para trabalhar e voltar para casa. “Por muitas vezes, na volta do trabalho, já cheguei a ficar esperando 40 minutos para tentar pegar ônibus mais vazios. Você fica com medo, mas precisa entrar. Na volta, é um caos completo entrar no ônibus Santa Cândida-Capão Raso. O tubo já está explodindo de gente. Pior ainda na hora de ir trabalhar, você não pode se dar ao luxo de aguardar”, conta. 

A professora enviou vídeo ao Brasil de Fato Paraná mostrando a superlotação dentro do ônibus e, inclusive, imagens de cadeirantes tentando se equilibrar no meio do corredor lotado. “A sensação é de descaso completo. Como se quem anda de ônibus não merecesse ser cuidado. A cidade, o comércio, voltaram ao normal, mas nenhuma mudança ocorreu no transporte coletivo. Minha sensação é de que a frota continua reduzida porque nunca tivemos ônibus vazios.” 

Essa também é a realidade da diarista Lucilene Raquel Domingos, 48 anos, que sai de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana, e utiliza diariamente três linhas de ônibus. “Nunca vi vazio. Todos os dias estão cheios, extremamente lotados, principalmente no Terminal do Pinheirinho. É um caos”, diz “Até vi guardas nos terminais tentando manter o distanciamento. Mas a Prefeitura ‘esquece’ que os ônibus vão para os pontos e aí vai enchendo.” 

O que diz a Prefeitura 

Em nota, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Curitiba respondeu que “a frota opera com 100% dos veículos nos horários de pico. Fora dos horários de pico, a demanda cai mais de 50%. Vale lembrar que ao contrário do que muita gente imagina, os 50% de ocupação não significam apenas passageiros sentados. Em biarticulados, por exemplo, esse nível de ocupação equivale à lotação de bancos (53) e mais 73 passageiros em pé. Há fiscalização, concentrada nos maiores terminais durante o pico da manhã e no centro da cidade no pico do fim de tarde. Com uma frota de mil veículos, é impossível colocar um fiscal em cada veículo.  

Subsídio de milhões não investidos  

Lafaiete Neves, especialista em mobilidade urbana, Conselheiro Titular do Conselho da Cidade de Curitiba e integrante do Fórum Popular do Transporte Coletivo, destaca que a Prefeitura destinou milhões aos empresários do transporte coletivo e esse recurso não se reflete em investimento. “A justificativa para o subsídio era que houve queda do número de passageiros. Porém, os ônibus nunca estiveram vazios, como bem falam os que vivem isso todo dia. É uma falácia” contesta. Lafaiete afirma que o que os usuários dizem só comprova as duas auditorias feitas pelo Tribunal de Contas do Paraná. “Concluíram sobre a superlotação durante a pandemia e nada foi alterado ainda pela Prefeitura,” diz. 

Projeto para reduzir lotação  

Projeto de lei do vereador Renato Freitas (PT), apresentado em abril, propõe ações mais contundentes para reduzir a lotação e o risco de transmissão da Covid-19 nos ônibus da cidade. O texto muda  artigo da lei que instituiu o Regime Emergencial de Transporte na capital paranaense – que deve expirar no dia 30 de junho, se não for prorrogado. Determina que as concessionárias de transporte limitem a 50% a lotação máxima nos coletivos, com possibilidade de aplicação das sanções previstas em contrato. A proposta incumbe à Urbs de fiscalizar o cumprimento das medidas; também estabelece que os recursos e logística para as ações propostas venham da Prefeitura. 

Edição: Frédi Vasconcelos