Rio de Janeiro

RELIGIÃO

"Deus não apoia ditadura nem apoia torturadores", afirma pastor Ariovaldo, em culto no Rio

Encontro organizado pela Nossa Igreja Brasileira fez críticas aos que usam a fé cristã para disseminar discursos de ódio

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Nossa Igreja Brasileira
Culto da Nossa Igreja Brasileira foi realizado ao ar livre no Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro - Eduardo Miranda

A Nossa Igreja Brasileira, com apoio da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, promoveu no último domingo (3) um culto ao ar livre no  bairro do Maracanã, na zona Norte do Rio de Janeiro. O tom do encontro foi de crítica a religiosos e políticos que usam a fé cristã para disseminar discursos de ódio e que são contrários à justiça social e aos direitos humanos.

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Uma das lideranças presentes, o pastor Ariovaldo Ramos fez uma crítica contundente contra a opressão que pautado o conservadorismo religioso em todo o Brasil e que se aliou ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Ramos lamentou, ainda, que muitas pessoas digam que a situação atual é "vontade de Deus".

"Nenhuma opressão tem a bênção e a anuência de Deus. Não importa quantas vezes usem Seu nome para oprimir. Deus derrotou o opressor para que nós nos manifestemos contra as expressões opressoras. Deus não apoia a ditadura, Deus não apoia a tortura, Deus não apoia ditador. E o Brasil de hoje vive um Estado de opressão. O pior é muita gente dizer que isso é a vontade de Deus. Não é", afirmou.

Um dos coordenadores da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Ariovaldo Ramos tem feito falas públicas alertando para os perigos da guinada de cristãos à direita. No culto do último domingo (3), Ramos disse que evangélicos não podem ser peças da opressão.

"Toda injustiça, racismo, segregação, ausência de acesso aos direitos, tudo isso é opressão. Alguém que passa necessidade está sob opressão, quem passa fome está sob opressão. Não importa em quem essa opressão se manifeste, mesmo que seja em religiosos. Em nenhum momento vamos colaborar com a opressão, mesmo que ela esteja travestida de religião", argumentou.

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Membro da Nossa Igreja Brasileira, que é da convenção Batista, e uma das coordenadora da Frente, Nilza Valeria Zacarias disse que a missão dos evangélicos é realizar cultos que destaquem e propaguem a missão libertadora e restauradora de Jesus Cristo.

"Num país onde a desigualdade, a opressão e a iniquidade constituem nossa estrutura, a gente acredita na mensagem de Cristo como libertador. Esse é o evangelho que a gente quer que seja anunciado no país, e não um evangelho que faça as pessoas se submeterem à morte. E sim o que resgate a vida. Por isso, a iniciativa de cultos como esse será replicada em diversos estados", explicou Valeria, que é uma das autoras da coluna Papo de Crente, do Brasil de Fato.

No domingo, além de fiéis e de lideranças evangélicas, o culto também contou com a presença do vereador Reimont (PT), que foi convidado pelo pastor Marco Davi, da Nossa Igreja Brasileira. 

"Compreendo perfeitamente como podemos dialogar entre fé e política, entre manifestação religiosa e democracia. Sou um cristão católico, sou muito amigo do pessoal da Nossa Igreja Brasileira e compreendo a importância deste ato que eles têm feito uma vez por mês aqui no Maracanã como expressão também da luta por democracia e por direitos sociais", disse o parlamentar.

O próximo encontro acontecerá no dia 21 de novembro, às 10h, na Rua Mata Machado, entre o estádio do Maracanã e a Aldeia Indígena Maracanã. O Culto do Sorriso Negro terá "muito samba e muita música de preto", garantiu o pastor Marco Davi. Como nas outras edições, o culto também será na rua e ao ar livre, em função das restrições da pandemia da covid-19.

Edição: Mariana Pitasse