Paraíba

ANÁLISE

"Campanha pelo impeachment precisa evoluir na direção de uma Frente Ampla", diz Jaldes Meneses

Analista político avalia os atos Fora Bolsonaro e critica apatia de lideranças políticas pelo impeachment

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
A alta dos preços tem sido um dos pontos principais em protestos contra o presidente; "pixuleco" de botijão vira símbolo - Paulo Pinto / Fotos Públicas

O dia 2 de outubro marcou mais um dia de manifestações por Fora Bolsonaro em todo o país. Na Paraíba, foram registrados atos na capital paraibana, em Campina Grande, em Sapé, Patos, Sousa e Cajazeiras.


Em João Pessoa / Felipe Augusto


Ato político-cultural em Sousa. / Reprodução


Em Sapé. / Reprodução


Em Campina Grande. / Bianca Liège


Em Patos. / Reprodução

Dessa vez, além do pedido de impeachment de Bolsonaro, a responsabilidade da alta dos preços dos combustíveis, gás, energia elétrica e alimentos foi chamada. Grandes faixas em todos o Brasil diziam: "está tudo caro e o culpado é Bolsonaro".

Os atos foram grandiosos em todo o país reunindo mais de 700 mil pessoas dentro e fora do país. Manifestações foram registradas em todas as capitais do Brasil e em outros países como Alemanha, França, Portugal e Inglaterra, de acordo com os organizadores da Campanha Fora Bolsonaro. A insatisfação popular tem amparo na situação limite que vem a cada dia se agravando com o aumento da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – já é de 9,68% nos últimos 12 meses. E a situação é ainda pior para os mais pobres, já que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda entre 1 e 5 salários mínimos, está em 10,42%. Esse cenário levou um número significativo de pessoas à ruas no sábado (02).

Para Leonardo Sakamoto, "as manifestações atingem em cheio uma das maiores preocupações do presidente da República: a sua queda de popularidade diante da alta da inflação, que afunda a classe trabalhadora, corroendo o poder de compra de salários e benefícios sociais", diz.

Avaliação


Jaldes Meneses. / Reprodução

Com o dia 2 de outubro, já são 6 atos de ruas convocados pela esquerda com ampliação recentemente para algumas forças progressistas. No entanto,  a pergunta que não quer calar: 'Quando Bolsonaro vai cair?' continua a rondar o sentimento do povo brasileiro. Por isso, fomos conversar com o professor de Teoria Política, da Universidade Federal da Paraíba, Jaldes Meneses, para saber qual a avaliação até agora dos atos e qual sua opinião sobre o futuro das manifestações Fora Bolsonaro. Para ele, os atos foram positivos e deve haver continuidade no dia 15 de novembro, data que julga importante para marcar presença na rua. "Mas também é hora de fazer um balanço mais consistente das táticas de nossa campanha de impeachment/Fora Bolsonaro. Afinal de contas, já são 5 meses de campanha e 6 atos nacionais e internacionais", disse.

Segundo Jaldes, os atos têm apoio social. Todas as pesquisas recentes de opinião confirmam. "São muitos os índices expressivos das dificuldades do governo. Números de pesquisa ajudam, mas ainda são insuficientes para depor o presidente. A conjuntura é sinuosa: se os números, por si só, não derrubam, por outro lado, demonstram a possibilidade de engrenar um poderoso movimento de massas", avaliou.

Para o professor, a campanha pelo impeachment ainda não decolou. "Os atos de sábado confirmam a tese. Criou-se uma situação de perigoso equilíbrio. Tanto a pauta de extrema direita do bolsonarismo raiz não interage com as aflições de reprodução de vida do Brasil popular, em crise, mas tampouco a campanha do impeachment, até o momento, avançou até o ponto de constituir um irrefreável movimento de massas. Existe o fator positivo de a esquerda brasileira conseguir aparar diferenças, e se unificado numa campanha de rua reivindicando o impeachment de Bolsonaro, pelo menos desde os atos de 29 de maio (dividia até o 29-M a polêmica "dever-ser" de sair ou não sair às ruas em tempos pandêmicos)", explicou, no entanto, "nas entrelinhas das indefinições táticas, cochila a pergunta do que fazer, frente ampla ou frente de esquerda? Formular sobre a frente ampla em termos peremptórios de “sim” ou “não” embute algumas ciladas, algumas vezes dribladas pelo trunque da leitura dogmática de textos sagrados", afirma.

Jaldes assinala que não se pode comparar a situação atual com a das Diretas Já, isso porque naquele momento havia uma combinação de um amplo palanque de lideranças políticas junto a um poderoso movimento de massas, fato que hoje é bem distinto. "Até hoje não se viu um governador ou um prefeito de esquerda num palanque clamando o impeachment de Bolsonaro. Acomodam-se às redes sociais. Raríssima a publicidade circulando a palavra de ordem nas cidades", elucidou.

O professor afirmou que "uma campanha pelo impeachment de Bolsonaro precisa evoluir, em algum momento, na direção de um movimento assemelhado a uma Frente Ampla, que espelhe um movimento de massas e não um programa de governo, coisas diferentes que não devem ser confundidas. A adesão a uma Frente Ampla democrática e antibolsonarista deve ser concertada a partir da unidade sem diluição orgânica das forças populares".

Segundo Jaldes Meneses, na atual conjuntura, é inevitável que o acordo das forças progressistas se dê no âmbito da campanha de Lula-presidente, no entanto, isso é diferente do movimento unificado do impeachment que requer outras articulações. "A concertação de um movimento unificado de impeachment urge, pode ser articulado, mas é distinto do objetivo de as forças de identidade progressista evoluírem para uma unidade das forças populares. São necessários envidar esforços políticos no rumo de estabelecer um acordo permanente das forças progressistas. Os termos de um programa de unidade das forças populares envolveriam ações crítico-programática visando mudanças no rumo das transformações societárias e estatais recentes do país", concluiu.

 

Edição: Heloisa de Sousa