Minas Gerais

BÍBLIA E POLÍTICA

A favor da vida, evangélicos de Minas se articulam pelo Fora Bolsonaro

Para Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, cristãos não devem apoiar política de morte do governo federal

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
“Se você perguntar para um evangélico [que votou em Bolsonaro] se ele é a favor da tortura é capaz de ele dizer que não" - Foto: Thiago dos Anjos

Evangélicos de Minas Gerais, principalmente de Belo Horizonte, têm se somado, a cada dia mais, na luta contra o fundamentalismo religioso e pelo Fora Bolsonaro. A avaliação é feita por integrantes do núcleo mineiro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito que articulam pessoas evangélicas progressistas que assumem uma postura de defesa do Estado laico, da democracia, dos direitos humanos e da promoção de vida, a partir da interpretação bíblica.

Cada dia mais, a gente vê igrejas se descolando do bolsonarismo

Para Raquel Mourão, que é economista e estudante de teologia, o cenário atual está favorável para o diálogo com evangélicos que votaram em Bolsonaro em 2018, frente aos escândalos divulgados pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 e o aumento das desigualdades sociais, da fome e do desemprego. “Eu como cristã não posso apoiar um governo que se coloca contra a vida”, afirma Raquel, que também integra a Frente de Evangélicos.

“O que gente tem visto, são pessoas nos procurando mais abertas ao diálogo, porque antes nem sequer nos ouviam. Mas agora, com tanta coisa exposta do Bolsonaro nos noticiários, a própria CPI da covid, parece que as escamas dos olhos estão caindo. E está ficando evidente que Bolsonaro e seus ministros não têm projeto, a gente está vendo a fome aumentar, o desemprego. A situação das pessoas está piorando, e quando afeta o bolso, a cabeça pensa”.

31% dos brasileiros são evangélicos

O pastor Fillipe Gibran nos lembra que, em 2018, o número de evangélicos que votou em Bolsonaro diminuiu 11 pontos percentuais do primeiro ao segundo turno. Essa queda, segundo o membro do grupo Cristãos Contra o Fascismo, ocorreu devido ao trabalho intenso desenvolvido por igrejas e evangélicos no diálogo com a população cristã. Isso mostra também que muitos evangélicos votaram em Bolsonaro por influência de pastores e líderes, sobretudo de igrejas reacionárias.


Apesar de os evangélicos serem a base eleitoral do governo federal, nem todos são conservadores ou fundamentalistas / Thiago dos Anjos

Se você perguntar para um evangélico [que votou em Bolsonaro] se ele é a favor da tortura é capaz de ele dizer que não. Ou seja, ele não faz ideia do projeto que ele abraçou. E isso tem se tornado uma realidade, porque os evangélicos arrependidos têm se tornado um número considerável. E a cada dia mais, a gente vê igrejas se descolando do bolsonarismo e que, neste momento, já não apoiam mais o presidente”, avalia. 

Duas pesquisas recentes, divulgadas no último mês, apontam recordes de rejeição ao Bolsonaro. Na pesquisa do PoderData, o capitão reformado aparece com 58% de rejeição, o maior índice registrado desde o início do estudo, em abril de 2020. Em outra pesquisa, realizada pelo Instituto Ipespe, o nível é de 55% de rejeição, sendo o maior percentual analisado desde janeiro de 2019.  

Evangélicos são diversos

Em todo o país, segundo pesquisa Datafolha, divulgada no ano passado, 31% dos brasileiros são evangélicos. Desse total, 58% são mulheres, 59% se declaram preto ou pardo e 69% recebem até 3 salários mínimos. O crescimento da população evangélica é uma realidade, já que passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010, de acordo com o Censo, ultimo realizado no país. 

37 entidades religiosas lançaram manifesto contra a “política de morte”

Apesar de os evangélicos serem a base eleitoral do governo federal, nem todos são conservadores ou fundamentalistas. Pelo contrário, como argumenta Raquel, os evangélicos são plurais, a reforma protestante deixou como herança dois princípios, um que é livre exame das escrituras da Bíblia e outro que é o livre exame de consciência. “Isso resulta em diferentes interpretações bíblicas, diferentes posturas sobre diversos aspectos da vida, inclusive sobre a política”, destaca. 

Para Fillipe, pastores e líderes religiosos que ganham destaque na defesa do presidente Bolsonaro – como Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e Edir Macedo, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus – têm uma prática contrária ao evangelho e estão “preocupados com um projeto de poder”. “Esse movimento reacionário fundamentalista, apesar de levar o nome, não deveria ser visto como evangélico. Porque a proposta de Jesus é justamente contrária a arma, ao ódio, às perseguições e ao governo militar”, aponta.

Articulação em Belo Horizonte

Em todo o Brasil, desde 2016, grupos de evangélicos progressistas têm atuado em defesa da democracia, dos direitos humanos e, mais recentemente, têm se somado aos movimentos populares, partidos e sindicatos nas manifestações Fora Bolsonaro. 

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Entre os grupos que fazem parte da Coalizão Evangélica na capital, estão o Evangélicas pela Igualdade de Gênero, Rede Fale, Núcleo Evangélico do PT, O Reino em Pessoa, o Movimento Negro Evangélico, Evangélicxs, Cristãos contra o Fascismo e a Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, entre outros. 

Em julho deste ano, 37 entidades religiosas do país lançaram um manifesto contra a “política de morte” do presidente Jair Bolsonaro. Para conhecer mais o trabalho da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, acesse @frentedeevangelicosmg, no Instagram.

Edição: Elis Almeida