Rio Grande do Sul

Literatura

Livro “Burocratas da Dor” será lançado neste sábado (6) na Feira do Livro de Porto Alegre

Obra apresenta as conexões repressivas entre os órgãos de informação das ditaduras brasileira e uruguaia (1973-1985)

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Livro será lançado neste sábado (6), às 19h, na Praça de Autógrafos da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre - Divulgação

O livro “Burocratas da dor: as conexões repressivas entre os órgãos de informação das ditaduras brasileira e uruguaia (1973-1985)”, de autoria de Ananda Simões Fernandes, será lançado neste sábado (6), às 19h, na Praça de Autógrafos da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre.

Com uma ampla pesquisa científica, a obra é resultado da Tese de Doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vencedora do Prêmio coleção de teses da ANPUH-RS Biênio 2018-2020. Nele, são abordadas as conexões repressivas estabelecidas entre as ditaduras de Segurança Nacional do Brasil e Uruguai, a colaboração entre os serviços de inteligência e o aparato repressivo, a coordenação repressiva, que atingiu seu ápice na famigerada Operação Condor.

Para a elaboração da tese, foram consultados diversos arquivos do Cone Sul, dando voz a documentos até então encobertos. Segundo a autora, são apresentadas as intensas conexões entre os aparatos repressivos das ditaduras uruguaia e brasileira, expondo as complexas relações formadas entre os dois Estados no período mais doloroso da História da América Latina Contemporânea.

“A partir de exaustivo levantamento documental sobre as trocas entre os órgãos de informação no Brasil e no Uruguai, investiguei o papel decisivo dos órgãos de inteligência e espionagem vinculados aos Ministérios das Relações Exteriores de ambos os países. Neste contexto, o livro é referência fundamental para os estudos das ditaduras de terror de Estado e suas ações coordenadas no combate sem tréguas daqueles que eram considerados os inimigos dos regimes de exceção”, salienta Ananda.


Livro será lançado neste sábado (6), às 19h, na Praça de Autógrafos da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre / Divulgação

Terrorismo de Estado nas ditaduras

Segundo a pesquisa, as ditaduras brasileira e uruguaia modificaram órgãos de informação e segurança já existentes, bem como criaram novos organismos que se adequassem à realidade das novas conjunturas. “No Brasil, esse sistema ficou conhecido como ‘comunidade de informações’; já no Uruguai, eram denominados ‘serviços de inteligência’. Tinham por função a busca e coleta de informação, utilizando-se de diversos métodos sistemáticos, tais como suspeição, infiltração, interrogatório e tortura, levando à promoção do terrorismo de Estado nessas ditaduras.”

Ananda destaca que a preocupação da ditadura brasileira com os brasileiros que estivessem fora do território nacional era tamanha que no ano de 1966 o ex-embaixador no Uruguai criou o Centro de Informações do Exterior, baseado na sua experiência de monitoramento aos exilados ali presentes. “Somou-se a esse órgão a Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores, rearranjada em 1967, presente em todos os ministérios civis. No Uruguai, cabia principalmente ao Departamento II (Exterior) do Servicio de Información de Defensa a espionagem dos uruguaios que estivessem fora do país. A colaboração entre esses órgãos de informação, inteligência e espionagem das ditaduras brasileira e uruguaia foi abundante.”

A autora também trata sobre o papel do estado do Rio Grande do Sul, fronteira entre Brasil e Uruguai. “Na Doutrina de Segurança Nacional, as fronteiras territoriais cederam espaço às “fronteiras ideológicas”, ou seja, na luta contra o “comunismo internacional” as fronteiras se desfariam. Nesse sentido, ressalta-se a montagem e a orquestração da chamada Operação Condor, realizando ações conjuntas entre os países do Cone Sul, inclusive entre Brasil e o Uruguai, como foi o caso que ficou conhecido como “sequestro dos uruguaios” e a suspeita, até hoje não eliminada, da morte do ex-presidente João Goulart”, destaca.


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Edição: Katia Marko