Rio de Janeiro

20 DE NOVEMBRO

No Rio de Janeiro, Dia da Consciência Negra tem atos antirracistas e contra Bolsonaro

Marcha da Periferia, em Madureira, reuniu militantes do movimento negro; no centro do Rio, ato foi no Monumento a Zumbi

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
dia da consciência negra
Em Madureira, ato contra Bolsonaro e pelo Dia da Consciência Negra denunciou racismo, chacinas e desemprego - Stefano Figalo/Brasil de Fato

Dois atos no Rio de Janeiro marcaram o Dia da Consciência Negra, neste sábado (20). Em Madureira, na zona oeste da cidade, a Marcha da Periferia reuniu militantes do movimento negro, sindicatos e políticos de partidos de esquerda. A marcha teve concentração no Viaduto Negrão de Lima e seguiu até a Praça Paulo Portela.

Leia mais: O movimento negro do século XXI avança na agenda internacional e pauta a política brasileira

Já no Monumento a Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas, no centro da capital fluminense, movimentos negros e populares, além de políticos, se reuniram e lembraram os 50 anos de idealização da data pela luta do povo negro. Punhos levantados, cânticos e saudações se somaram a manifestações culturais, como rodas de capoeira.

Em 20 de novembro de 1695, Zumbi, líder do Quilombo das Palmares, em Alagoas, morreu aos 40 anos. Sua cabeça foi cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Depois, foi exposta em praça pública na tentativa de acabar com o mito de imortalidade atribuída a Zumbi.

No ato diante do monumento, a vereadora Tainá de Paula (PT) disse que é na esquerda que está o movimento antirracista. Ela lembrou as primeiras denúncias contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no início da pandemia da covid-19 partiram das diversas organizações do movimento negro.

"É na esquerda que está a luta do movimento negro. Cada preto e preta que está aqui hoje é fruto de organização, do chão dos movimentos sociais e coletivos, do chão dos partidos políticos de esquerda. Nos levantamos no início da pandemia para dizer que não queremos morrer nem de fome nem de bala", afirmou a vereadora.

Contra Bolsonaro

Em Madureira, cartazes, cruzes e palavras de ordem gritadas por diversos movimentos e coletivos remetiam às chacinas em favelas, ao racismo e ao desemprego que afeta a população negra. O governo federal e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram responsabilizados por políticas racistas que integram o racismo estrutural do país.

Leia também: Por que o movimento negro acusa Bolsonaro de genocídio? Relembre as denúncias

O vereador e historiador Chico Alencar (Psol) afirmou que o Brasil tem um povo feito de povos desfeitos. Ele mencionou a dizimação dos povos indígenas e o racismo estrutural contra negros e negras.

"A cultura africana, berço da humanidade, está em todos nós e tem que ser reconhecida. Não se pode contar a história do Brasil sem o negro porque o negro, sim, tem história antes desse país. Mas, na média, recebe salário duas vezes menor que um branco", comparou o vereador.


Marcha de Madureira teve concentração no Viaduto Negrão de Lima e percorreu ruas do bairro da zona norte / Stefano Figalo/Brasil de Fato

A deputada federal Benedita da Silva (PT) esteve no Monumento a Zumbi dos Palmares, no centro do Rio. Já em Madureira, no carro de som, ela entoou versos de "O morro não tem vez", canção de Tom Jobim. "O morro não tem vez e o que ele fez já foi demais, mas olhem bem vocês: quando derem vez ao morro, toda a cidade vai cantar".

Avanços e limites

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021, o número de negros nas penitenciárias brasileiras aumentou de 58,4% para 66,4% entre 2005 e 2020, um crescimento de 13,5% em 15 anos.

Em números absolutos, a população negra nas prisões saltou de 91.843, em 2005, para 397.816 em 2020 – 333 mil pretos e pardos a mais ocupando celas nas penitenciárias do país. Já o número de brancos nas prisões brasileiras, no mesmo período, caiu 18%. Eram 39,8% em 2005 e são 32,5% do total registrado em 2020.

A polícia brasileira nunca matou tanto quanto no ano passado: 6.416 pessoas. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada dez vítimas fatais, oito são negros e sete tem menos de 25 anos.

Por outro lado, dados sobre o ensino superior apontam conquistas relevantes, resultado da luta do povo negro.

Em 1999, de cada 100 estudantes brasileiros de universidades públicas, 15 eram negros. Em 2019, de cada 100 estudantes brasileiros de universidades públicas, 46 são negros. Os números são do Caderno de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

A pandemia de covid-19 mostrou que ainda há muito a avançar no acesso a direitos. Uma pesquisa da Rede Penssan, com dados de 2020, mostrou que quando a pessoa de referência na casa é negra, 10,7% das famílias convivem com a fome; se é branca, 7,5%.

Números do início de julho mostram que as mortes por doença respiratória durante a pandemia cresceram 71% entre os negros e 24,5% entre os brancos. Maioria da população, os negros receberam apenas 23% das vacinas contra a covid-19 no Brasil, segundo a plataforma LocalizaSUS.

Em uma sociedade marcada por três séculos de escravidão, o movimento negro aponta o antirracismo como a única saída para eliminar as desigualdades e os preconceitos.

Edição: Eduardo Miranda