Paraná

Retrospectiva

Com negacionismo, mais de 600 mil pessoas morrem. Vacina evita o pior

Brasil sofre maior catástrofe sanitária, governo é acusado de genocídio em CPI

Curitiba (PR) |
Brasil de Fato Paraná faz retrospectiva 2021 - Foto: Giorgia Prates

Mais de 600 mil pessoas. Uma cidade com a população de Sorocaba (SP) só de mortos pela covid-19. Esse foi o saldo da pandemia no Brasil, desde março de 2020. Só neste ano, o país lidou com a piora do cenário e da taxa de contágio, que levou ao surgimento de uma variante, a P1, descoberta em Manaus, e mais de meio milhão de mortos e uma população mais infectada e mais adoecida.

Ernani Ogata, fotógrafo, 39 anos, acabou sendo um dos cerca de 23 milhões de brasileiros que contraíram a doença. O que era a suspeita de uma reação por conta da vacina da gripe, acabou virando uma longa jornada de 46 dias de internamento e luta pela vida, passando 26 dias entubado. “Botei na minha cabeça que não teria sequelas e que sairia dessa, mas foram momentos muito difíceis”, conta.

O fotógrafo ganhou alta em 13 de agosto, data em que o Brasil somava 567.914 óbitos, mas a menor média móvel de mortes por covid até então, graças à aceleração e adesão dos brasileiros à vacina.

Nesse mesmo dia, o país acompanhava, estarrecido, o desenrolar das denúncias reveladas pela CPI da Pandemia, no Senado, que investigava a atuação do governo Bolsonaro. Denúncias de prevaricação e corrupção na compra dos imunizantes e até mesmo a atuação de um gabinete paralelo que trabalhava junto ao presidente Jair Bolsonaro para promover remédios sem eficácia, boicotar medidas sanitárias e provocar brigas com os governadores que buscavam seguir a recomendação da maioria dos cientistas.

Tudo isso com a anuência do então ministro da saúde, Eduardo Pazuello, general do exército, que após duas trocas na pasta viu a taxa de infectados chegar a níveis alarmantes sob sua gestão, com UTIs lotadas em todos os estados e crise de falta de abastecimento de oxigênio em hospitais de Manaus.

O presidente ainda foi denunciado, no inquérito final da CPI, por nove crimes, entre eles crime contra a humanidade e charlatanismo. Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), os crimes são tão graves quanto o de genocídio. “No caso do genocídio, era preciso ter mais elementos para que chegássemos à comprovação do crime. Já para os crimes contra a humanidade, temos elementos suficientes, já que Bolsonaro foi enquadrado nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos, que podem dar de 30 anos de detenção a prisão perpétua. São crimes tão gravosos quanto o de genocídio'', disse o parlamentar, em uma entrevista à revista Carta Capital.

Para Pedro Halllal, epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Bolsonaro foi aliado ao vírus e “grande inimigo” do enfrentamento da pandemia no Brasil.

Em depoimento à CPI da Covid, em junho, Hallal criticou duramente as medidas tomadas pelo governo. ''O Brasil teve quatro ministros da Saúde e, por mais que eu tenha críticas aos quatro, os principais sinais de negacionismo não foram dados por nenhum deles. A principal personalidade responsável por propagar mensagens anticiência foi diretamente o presidente da República. Infelizmente, a postura do líder é a pior de todas as posturas que observamos durante a pandemia”, criticou.

Apesar do intenso ritmo de vacinação no Brasil ter feito os índices de contágio caírem até o momento, o mandatário brasileiro ainda insiste na propagação de remédios ineficazes contra a covid-19, como a hidroxicloroquina.

Cansados

Raquel Padilha, enfermeira e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec), relembra os momentos difíceis que os profissionais da saúde passaram na pandemia. No pico da contaminação, em abril, o país chegou a perder cerca de seis mil profissionais da área.

“A gente nunca viveu antes o que vivemos nesse período. As incertezas passaram a fazer parte do sentimento das pessoas, mesmo que o paciente ficasse melhor na UTI, às vezes a pessoa do lado dele também ficava bem, mas falecia depois. Muitos profissionais estão doentes depois de tudo isso, não só em Curitiba. Há, principalmente, danos psicológicos, estamos muitos cansados", afirmou.

Diante das polêmicas em torno do passaporte vacinal e da chegada da variante Ômicron, Padilha reforça a necessidade da vacinação. “Quem cuida da saúde das pessoas precisa se vacinar, é obrigação nossa. Apesar do atual controle da doença, ainda estamos em alerta por conta da ômicron, só a vacina vai nos ajudar”, concluiu.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini