Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | O que podemos esperar de 2022?

"A inflação alcançou a casa dos dois dígitos e fez com que o poder de compra do trabalhador fosse reduzido em 11%"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Famílias que viam no Bolsa Família a única fonte de recursos e projetam sobre o Auxílio Brasil a esperança de sobrevivência continuam esperando" - Andre Felipe/ Folhapress

Dezembro chegou e estamos prestes a finalizar mais um ano do nosso calendário. Para muitas pessoas, a sensação deve ser a de que sobreviveu. Impossível não olhar com um pouco mais de esperança para 2022. Mas o que efetivamente podemos esperar do próximo ano?

No caso do Brasil, esses impactos foram ainda mais profundos. Fechamos 2021 com o saldo de mais de 615 mil mortos pela covid-19. Os números negativos não param por aí. O relatório “Síntese de Indicadores Sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira 2021”, publicado em novembro pelo IBGE, revela o que já constatamos nas ruas: a pandemia evidenciou desigualdades. Jovens, negros e mulheres foram e continuam sendo os mais impactados. São eles basicamente que engrossam as fileiras dos 14 milhões de desempregados, 5,1 milhões de desalentados e 7,8 milhões de desocupados, além de 20 milhões de extremamente pobres.

A inflação alcançou a casa dos dois dígitos e fez com que o poder de compra do trabalhador fosse reduzido em 11%. Como se não bastassem todos estes números e índices desoladores, ainda temos o Auxílio Brasil - equivocado em sua origem e propósitos.

Criado para enterrar o programa Bolsa Família, com uma história de 18 anos, premiado e reconhecido internacionalmente, teve seu fim eminentemente eleitoral em uma tentativa clara de deixar a marca do governo Bolsonaro na área social. Mas o que temos visto até agora é uma marca capenga e improvisada, como o próprio governo, que foi implantado e já cometeu os mesmos erros do auxílio emergencial.

Não foi falta de aviso, pois nos últimos meses uma das minhas tarefas pela Rede Brasileira de Renda Básica foi servir como interlocutora entre os beneficiários que tinham direito, mas tiveram dificuldades para receber o benefício não por falha deles, mas do cadastro único. Apontamos todos os gargalos e todos os erros. Parece que pouco efeito teve para corrigir os problemas.

Enquanto isso, centenas de famílias que viam no Bolsa Família a única fonte de recursos e projetam sobre o Auxílio Brasil a esperança de sobrevivência continuam esperando. Esperando a vontade política, esperando a ação de quem, na realidade, pouco se importa com o que passa além dos portões do seu palácio.

Vale lembrar, que se compararmos o Auxílio Emergencial de 2021 com o proposto no Auxílio Brasil, teremos pelo menos 29 milhões de famílias sem nenhuma assistência. 24 milhões de famílias foram automaticamente excluídas porque eram inscritas pelo aplicativo e 5,3 milhões que estão no cadastro único, já sabem há anos o que é ficar numa fila de espera.

No RS, se tivemos 2,8 milhões de famílias atendidas em 2020, baixamos para 1,6 milhões em 2021 e agora somente as 402.266 famílias que migraram do Bolsa Família. São mais de 1,2 milhões de famílias gaúchas em completo abandono.

É preciso esperançar! Mas acima de tudo, refletir sobre os impactos das escolhas que foram feitas!

* Paola Carvalho é diretora de Relações Institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Ayrton Centeno