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Coluna

Os perigos do relativismo e do negacionismo rondam a vida social

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O relativismo e o negacionismo podem se tornar grandes vilões dos direitos conquistados pela classe trabalhadora - Foto: Reprodução/Facebook
Vozes negacionistas acreditam que os termos vida e morte são uma questão de opinião

A construção da vida social não é linear e nem mesmo presa na lateralidade das condições ideais. A sociedade vivencia, a partir da amplitude das oportunidades e dos direitos constituídos, como irá caminhar dia após dia. Na vida social, não existe apenas o mundo do trabalho ou da família, mas as instituições religiosas, esportivas, o papel do lazer e da cultura, que propiciam avanços, mas também, por vezes, regressos coletivos inimagináveis.

É nesse processo que o relativismo e o negacionismo podem se tornar grandes vilões dos direitos conquistados pela classe trabalhadora. Esses vilões no Brasil apregoam, nos últimos anos, proporções nunca antes sentidas por nossa geração. A presença de governos que ignoram o saber científico e relativizam a realidade social e econômica da população em geral, ampliam as vozes intolerantes que acreditam que os termos vida e morte são uma questão de opinião.

O aumento dos casos de covid-19 e o H3N2 são pontas de um iceberg

Para contribuir com as reflexões sobre estes fenômenos, o relativismo é, do ponto de vista epistemológico, a afirmação da relatividade do conhecimento humano e a incognoscibilidade do absoluto e da verdade. É neste processo que a razão de fatores aleatórios e/ou subjetivos se tornam inerentes ao processo cognitivo.

Quanto ao negacionismo, é a escolha de desacreditar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Quando tratamos do conhecimento baseado na ciência, o negacionismo é definido como a rejeição dos conceitos básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico a favor de ideias que ao mesmo tempo são radicais e também controversas.

Todas as vezes que dizemos não às práticas do relativismo e do negacionismo, nós nos (re) posicionamos

Se explicam esses fenômenos aliados à pandemia quando os governos em geral ignoram desde o papel da ciência (como no caso da celeridade na vacinação), quanto a não tomada de medidas sanitárias (ausência do papel do Estado por normatizar as restrições e o distanciamento); que possam diminuir os casos de contaminação.

Nos equilibramos nos últimos anos entre ignorar a realidade pandêmica, e relativizar os limites e os desafios para a saúde coletiva e para o direito à vida, esses tão necessários.

Porém, os desafios vão além da pandemia, que neste estágio entre sintomas gripais afetam milhões de pessoas por dia em todo o mundo a partir da infecção e óbito de crianças, idosos e pessoas com baixa capacidade imunológica. A irresponsabilidade quanto ao aumento dos casos de Covid19 e o H3N2 são pontas de um iceberg que se encontram em nossos mares.

A partir do negacionismo e do relativismo os casos de feminicídio, de lgbtfobia, de desmatamento nas florestas, dos ataques às populações das favelas e do campo se ampliam e normalizam no imaginário social. O respeito à vivência e à cultura dos povos e comunidades tradicionais, assim como o ataque aos direitos públicos, estão interligados. Ora porque não se acredita na importância da história, ora por se apoiar na imobilidade de reação futura, por acreditar que não existe nada mais a se fazer.

Mas existe, entre esses vilões dos direitos conquistados, a capacidade de esperançar - o verbo pronunciado pelo educador Paulo Freire, a partir da palavra esperança. A racionalidade dominante, como descreveu Milton Santos, é incapaz de nos convencer que as “coisas” sempre foram e sempre serão assim.

É na esperança que podemos visualizar a tarefa de que todas as vezes que dizemos não às práticas do relativismo e do negacionismo, nós nos (re) posicionamos. E quando fazemos isso, várias vezes ao longo do dia; e no dia a dia de todos os dias; temos uma esperança maior do que a nossa própria existência.

Essa esperança e este esperançar é parte do projeto popular que não apenas nos inspira no Brasil, mas em toda a América Latina e no mundo. Um outro mundo é possível, e necessário.


* Leonardo Koury Martins é assistente social, professor, conselheiro do CRESS-MG e militante da Frente Brasil Popular.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Rafaella Dotta