Minas Gerais

TRAGÉDIA

Chuvas em Minas: mais de 10 mil desalojados e cinco mortos em 24h

Para o Movimento dos Atingidos por Barragens, a culpa pelos mortos, feridos e desabrigados no estado não é das águas

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Em um período de 24 horas, 10.854 pessoas ficaram desalojadas - Foto: Douglas MAGNO / AFP

Os impactos das fortes chuvas continuam castigando as populações de mais de 340 municípios de Minas Gerais. Em um período de 24 horas, 10.854 pessoas ficaram desalojadas, totalizando 24.610, segundo a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). O órgão totaliza 24 mortes desde o início do período chuvoso, no início de outubro. O número de desabrigados subiu de 511 para 3.992 pessoas que não têm mais uma casa para onde voltar. O número de cidades em situação de emergência também aumentou nas últimas 24 horas, passando de 145 para 341, equivalente a 40% dos 853 municípios mineiros.

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A Defesa Civil confirmou mortes em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, Perdigão, no centro-oeste, Ouro Preto e Santana do Riacho (região central). Na cidade histórica de Ouro Preto, um homem, de 55 anos, morreu após um deslizamento de terra atingir duas casas no último sábado (8). As buscas pelo corpo da vítima duraram três dias. Em Perdigão, duas mulheres, de 55 e 79 anos, morreram após a enxurrada arrastar o carro em que estavam, também no sábado. Os corpos foram localizados na noite de segunda-feira (10).

Chuvas e mortes

Em Contagem, um homem morreu soterrado após a queda de um muro no bairro Chácaras Reunidas Santa Terezinha, ontem (11). Ele trabalhava em uma obra no momento do acidente. Já em Santana do Riacho, outro homem, de 34 anos, morreu após ser atingido por um raio enquanto subia o Morro da Pedreira, na Serra do Cipó. Foram registradas ainda mortes em Uberaba, Coronel Fabriciano, Nova Serrana, Engenheiro Caldas, Pescador, Montes Claros, Betim, Belo Horizonte, Dores de Guanhães, São Gonçalo do Rio Abaixo, Ervália e Caratinga.

Segundo o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), muitas famílias do Assentamento 2 de Julho, em Betim, e do Acampamento Pátria Livre, em São Joaquim de Bicas, perderam suas casas e sua produção. O acesso está difícil nas duas áreas e as famílias seguem contando com o apoio do MST e de parceiros para a reconstrução de suas vidas. No momento a situação é estável, mas muitas famílias estão desabrigadas e desalojadas e as áreas coletivas seguem debaixo da água.

Bairros alagados

Segundo monitoramento do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a bacia do rio Paraopeba tem alagamentos com água contaminada por rejeitos de mineração e cerca de 700 desabrigados. O assoreamento do rio, causado pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, que matou mais de 272 pessoas em 2019, agravou as inundações nos municípios ribeirinhos.

A população de Itatiaiuçu sofre com o risco de rompimento de duas barragens, segundo o MAB. Comunidades atingidas pelas barragens de rejeitos da ArcelorMittal e da Usiminas não têm rota de fuga e estão isoladas. O pânico, especialmente em períodos chuvosos, é constante na vida dos moradores do município desde fevereiro de 2019, quando houve o acionamento do plano de emergência da barragem Serra Azul, após a siderúrgica ArcelorMittal detectar uma mudança no nível de segurança da estrutura. Na ocasião, 200 famílias foram evacuadas e outras 700 permaneceram abaixo da barragem, ameaçadas pela estrutura que tem nível 2 de emergência.

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Já a barragem da Mineração Usiminas, conforme o MAB, teve vazamento de rejeitos no dia 22 de dezembro, de acordo com moradores do entorno. A empresa negou o fato e garantiu que a obra estava segura. Dias depois, porém, ela entrou em nível 1 de emergência, o que indica uma clara fragilidade na estrutura.

O movimento lembra ainda que desde o final de dezembro, com a intensificação das chuvas em Minas, a região semiárida na bacia do Jequitinhonha e do Rio Pardo de Minas, que em geral sofre com a escassez de chuvas, convive agora com grandes transtornos causados pelos alagamentos. “São centenas de famílias que perderam suas casas e sua produção e estão abrigadas em escolas. Em Indaiabira, na região do Rio Pardo, as famílias perderam todos os seus equipamentos de trabalho rural, produção e muitas casas também foram danificadas ou destruídas”, diz trecho de um documento divulgado ontem pelo MAB.

Rejeitos de mineração

No sábado, rejeitos de mineração desabaram sobre uma barragem de água, provocando o transbordamento que atingiu a BR-040, fechada por dois dias, provocando prejuízos sociais, ambientais e econômicos. Uma pessoa que passava na rodovia no momento ficou ferida. Segundo a Defesa Civil, seis famílias tiveram que ser evacuadas, além de 400 animais de um Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) do Ibama.

Uma família que viajava para o aeroporto de Confins desviou a rota para escapar do bloqueio na 040 e teve seu carro atingido por um deslizamento de terra na Serra da Moeda. “Todos os quatro morreram e suas mortes não serão contabilizadas no vazamento da mineradora, mas certamente seriam evitadas se não fosse a negligencia da empresa”, diz o MAB.

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Trata-se da barragem na Mina Pau Branco, de propriedade da empresa Vallourec, uma transnacional de origem francesa que, além da mineração, atua no setor de siderurgia. Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), a barragem estava quase rompendo e por isso teve seu nível se segurança elevado para 3 (risco eminente de rompimento) e posteriormente reduzido para 2.

A incerteza da população segue, já que a mina foi vistoriada a menos de um mês estava com a documentação em dia. Esse é mais um desastre tecnológico causado pela postura criminosa das mineradoras se repete antes que tenham sido punidos os responsáveis pelos crimes em Mariana e Brumadinho 6 e 3 anos atrás.

A culpa não é da chuva

Ainda no sábado, uma montanha de rejeitos de mineração desabou sobre uma barragem de água (Dique Lisa) e provocou um transbordamento que atingiu a BR-040, que ficou fechada por dois dias, provocando prejuízos sociais, ambientais e econômicos para o território. Uma pessoa que passava na rodovia ficou ferida. Segundo a Defesa Civil, seis famílias tiveram que ser evacuadas, além dos 400 animais de um Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), do Ibama.

Uma família do município de Paula Candido que viajava para o aeroporto de Confins desviou sua rota para escapar do bloqueio na 040 e teve seu carro atingido por um deslizamento de terra enquanto passava pela Serra da Moeda. Todos os passageiros morreram: pai, mãe e duas crianças de 3 e 6 anos. As mortes não serão contabilizadas no vazamento da mineradora, mas certamente seriam evitadas se não fosse a negligencia da empresa.

“A culpa não é da chuva. É responsabilidade histórica de quem constrói um modelo de desenvolvimento que produz a morte como resultado corriqueiro. Nas regiões atingidas por barragens, seja por empreendimentos de geração de energia ou armazenamento de água, seja por rompimentos criminosos, o resultado desta tragédia ganha novas amplitudes, danos e prejuízos”, afirma o MAB.

Saiba como ajudar a população atingida

A Arquidiocese de Belo Horizonte está recebendo doações em dinheiro e também o trabalho de voluntários para ações na região metropolitana da capital mineira. Para mais informações, acesse o site da Arquidiocese.

As doações podem ser feitas também por meio de transferência bancária (Banco Santander / Ag. 3476 / Conta corrente: 13077880-2 / CNPJ: 17.272.998/0001-86) ou PIX: (31) 9 8978-9390.

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A campanha Minas Pede Socorro está recolhendo doações financeiras, que serão revertidas para famílias atingidas. A iniciativa é da Associação de Câmaras e Vereadores da Área Mineira da Sudene (Avams), da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB Minas), pela União Brasileira de Mulheres (UBM), União da Juventude Socialista (UJS), União de Negros pela Igualdade (Unegro) e União Nacional LGBT (UNA LGBT).

As doações podem ser feitas pelo PIX: CPF 800.768.236-87. Para mais informações, acesse o site.