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Minha experiência de gestar pelo SUS Belo Horizonte

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“Aqui você vai ter todo o tempo que precisar” foi a primeira coisa que ouvi na consulta médica - Foto: Natália Chagas
Meu desejo é que meu parto, que também será no SUS, seja humano e feliz como o meu pré-natal

Por Rafaella Dotta

Aos 32 anos descobri que teria minha primeira gestação. O novo traz o seu quê de ansiedade e incerteza, mas, desde o primeiro momento, procurei o meu caminho da roça para começar o pré-natal: o Centro de Saúde Santa Inês, em Belo Horizonte, do SUS.

Eu já conhecia o posto, mas nunca tinha feito um acompanhamento de longa duração, como seria o pré-natal. Eu estava com 12 semanas de gestação, o que me daria seis meses pela frente sendo acompanhada por aquelas e aqueles profissionais. Não vou negar que os relatos de violência obstétrica assustam (e muito), mas, apreensão guardada no bolso, bora começar.

O primeiro contato foi com uma enfermeira para uma triagem. Ela fez as primeiras perguntas sobre a gestação, como tempo, doenças minhas e da família, e uma pequena conversa sobre minhas expectativas. Esse contato foi superimportante, pois foi ela quem cuidou de acompanhar como estava a periodicidade das minhas consultas durante toda a gestação.

Saí com a primeira consulta marcada com o médico ginecologista do posto. Era hora de encarar um homem, o primeiro desde que tinha começado o pré-natal.

Preocupação

Compareci sozinha. Meu companheiro, Johnatan, não poderia me acompanhar dentro do consultório, nem dentro do posto, por restrições da pandemia de covid-19. De fato, naquele mês, o centro de saúde estava lotado com mais uma onda de contaminações do coronavírus.

Tratei de ficar de orelha em pé. Atenta a alguma situação que eu precisasse me posicionar, demarcar, reagir. Mas nada disso foi preciso. A atenção e a tranquilidade do médico exterminaram esse meu medo.

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“Oi! Aqui você vai ter todo o tempo que precisar”. Essa foi a primeira coisa que ele me disse. E conversamos sobre a primeira gestação, sobre peso, sobre gatos, sobre yoga, sobre quando procurar um hospital ou não. Ufa!

Checape

Saí do consultório respirando melhor e com o pedido de uns 15 exames, entre sangue e urina, e de algumas vacinas. Na recepção do posto me informaram o dia da coleta e me encaminharam para a sala de vacinação. Fiz um checkup enorme e melhor, sem gastar nada. Tudo coberto por esse incrível plano de saúde chamado SUS!

Os resultados saíram em cerca de uma semana, com acesso online.

Me admirei, sinceramente. Como um pequeno centro de saúde – com uma equipe reduzida e sobrecarregada pela pandemia da covid, e com o bônus das instalações estarem em reforma – conseguiu me dar uma atenção tão integral? Comecei entender ali o sentimento da frase que tantas pessoas têm o brio de pronunciar: “fiz tudo pelo SUS”. Pois eu, também, e orgulhosamente, fiz tudo pelo SUS.

Delicadeza

Nas idas e vindas às consultas, um problema se abateu. O ginecologista precisaria tirar uma licença. Isso dava um intervalo de aproximadamente três meses e eu chegaria ao final da gestação sem acompanhamento. No posto, me disseram que “iam ver” o que fazer. Fiquei naturalmente apreensiva. Não fazia ideia de como continuar o pré-natal.

Uma semana depois, aquela enfermeira que fez a minha triagem (lembra?), me ligou informando que eu seria atendida pelo outro médico do posto. E assim foi.

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Durante todo o pré-natal, essa profissional me ligou diversas vezes, ou pediu que alguém ligasse, sempre acompanhando minhas datas de consulta para que tivessem a periodicidade certa. Confesso que me embolei e nesses momentos foi ela que cuidou do meu calendário pré-natal, me encaixou nas agendas dos médicos, me liberou um dia de exames que não estava marcado.

Klênia tem minha eterna gratidão. E não só ela. As demais profissionais do posto sempre fizeram questão de garantir a prioridade à gestante aqui (me desculpem, velhinhos!) e a me ajudar nas burocracias. Confesso, me senti uma rainha.

Eu sentava nas cadeirinhas do posto e olhava com admiração aquelas profissionais trabalhando, chamando os pacientes mais assíduos pelo nome, dando bom dia a todo mundo. Ir ao posto de saúde não era mais apreensivo, como no começo, era agora muito prazeroso.

Estamos quase

Me despeço do meu pré-natal “feito todo pelo SUS” com minha gestação em 38 semanas. Tenho minha última consulta já marcada e aguardo o resultado da última série de exames pedida pelo médico. Meu desejo é que meu parto, que também será no SUS, seja humano e feliz como o meu pré-natal, e que muitas mulheres possam ter uma experiência parecida.

Obrigada ao nosso Sistema Único de Saúde e vida longa aos nossos profissionais da saúde!

 

Rafaella Dotta é usuária do SUS Belo Horizonte e jornalista do Brasil de Fato MG.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa