Pernambuco

INCLUSÃO

No Recife, mulheres trans e travestis com mais de 50 anos debatem gênero e envelhecimento

Projeto fará um levantamento de dados pioneiro para identificar perfis socioeconômicos da população transfeminina

Brasil de Fato | Recife (PE) |
No Brasil, a estimativa de vida de mulheres trans e travestis é de 35 anos - Paulo Pinto

As inscrições para o projeto Travestis Também Envelhecem - Visibilidade, Inclusão e Cidadania foram prorrogadas até o dia 15 maio. Desenvolvido pela ONG Gestos, a iniciativa convida mulheres trans e travestis com mais de 50 anos e morando no Recife a participarem da iniciativa inédita na cidade e ocupar uma das 16 vagas ofertadas. Assim, até o próximo dia 15 de maio as interessadas podem se inscrever online, acessando um formulário virtual  ou presencialmente, na sede da Gestos - Rua dos Médicis, 68, no bairro da Boa Vista.

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Com o objetivo de lançar luz sobre as condições de vida das mulheres transexuais e travestis em processo de envelhecimento na capital pernambucana, o projeto busca construir um grupo de convivência com as integrantes, estimulando seu protagonismo e desenvolvendo atividades terapêuticas coletivas, onde elas poderão discutir suas experiências de vida tendo os temas do envelhecimento e identidade de gênero como pano de fundo. Ao todo, serão 10 encontros, das 14h às 17h, sempre na última terça-feira de cada mês. 

Ao longo do projeto, profissionais da Gestos também irão colher entrevistas das integrantes e as que tiverem maior frequência poderão convidar outras travestis e mulheres trans acima dos 50 anos para participar de um levantamento de dados pioneiro no Recife que permitirá identificar perfis socioeconômicos da população transfeminina acima dos 50 anos.

Transfobia e exclusão social

No Brasil, a estimativa de vida de mulheres trans e travestis é de 35 anos. Atualmente, o país é o que mais mata pessoas LGBTQIA+ e Pernambuco é considerado o 5º estado mais violento para essa população, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) - que só em 2021, registrou 11 casos de transfemicídio no estado. 

Hoje, sabe-se também que a maior parte da população transfeminina está submetida a condições de vulnerabilidade social, com pouco ou nenhum acesso a direitos fundamentais e políticas públicas específicas, situação que foi agravada pela pandemia de Covid-19, quando aproximadamente 70% das mulheres trans e travestis não tiveram acesso ao auxílio emergencial.

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Estas condições, somadas à falta de oportunidades no mercado de trabalho formal resultam diretamente na exclusão social dessas mulheres. Hoje, estima-se que 90% delas utilizam a prostituição como principal fonte de renda; mas, a medida em que envelhecem, o mercado do sexo fica mais difícil, tornando praticamente impossível a sobrevivência por essa via. 

O levantamento que será produzido pela Gestos poderá contribuir diretamente para a elaboração e a implementação de políticas públicas de inclusão social e garantia da cidadania. O produto final será entregue aos conselhos municipais de Saúde, Pessoa Idosa, Direitos Humanos e Assistência Social do Recife. A pesquisa também deve subsidiar a elaboração de um documento que será enviado a gestores/as e parlamentares do estado.

O projeto está sendo desenvolvido com o apoio do Fundo do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife (COMDIR) e em parceria da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans); da Nova Associação de Travestis e Transgêneros de Pernambuco (NATRAPE); da Gerência de Livre Orientação Sexual (GLOS) do Recife; do Fórum LGBT de PE e do Conselho Estadual de Promoção dos Direitos da População LGBTI+ de Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga