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Coluna

A luta de Lenin contra os mencheviques

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Após o Congresso, ao retornar para Genebra, Lenin escreve o livro “Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática” - Foto: Reprodução
Guerra russa japonesa de 1904, agrava economia e provoca revoltas

Ao retornar à Genebra, em outubro de 1903, Lenin abandona o “Iskra”. Fora da Rússia os mencheviques predominavam, e, em uma manobra, apoderam-se do jornal e nas páginas do jornal, declaram uma luta aberta contra os bolcheviques e as decisões tomadas no II Congresso do POSDR. Na Rússia, os bolcheviques são maioria.

Ao fazer a batalha contra os mencheviques, Lenin escreve o livro, “Um Passo Adiante, Dois Passos Atrás (A Crise no nosso Partido)”, publicado em maio de 1904. Nesse livro ele mostra o quanto os mencheviques atacavam o partido como força organizadora do movimento operário, assinalando que o partido só poderia dirigir a luta do  proletariado, com êxito, se todos seus membros permanecessem ligados pela singularidade de ânsia, dinamismo e organização.

Morte de milhares pelo czar em 9 de janeiro de 1905 ficou conhecido como “domingo sangrento”

Além disso, Lenin formula as normas definitivas de nascimento do partido: subordinação da minoria à maioria e dos órgãos inferiores aos superiores, caráter eletivo dos órgãos do partido, a prática da crítica e da autocrítica entre os integrantes, dentre outros princípios.

Na metade do ano de 1904, Lenin começa a empenhar-se pela convocação do III Congresso do POSDR. Devido aos acontecimentos que ocorriam na Rússia e pela cisão ocorrida no partido. Em meio a tudo isso, em dezembro de 1904 ele lança em Genebra, o novo jornal, Avante, financiado por Máximo Gorki1. Na redação contava com Lunacharski, Bogdanov, Rikov e Litvinov.

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A guerra russa japonesa, ocorrida no início de 1904, dirigida por incompetentes oficiais czaristas, termina com uma humilhante acordo de paz para os russos, em agosto de 1905. A economia do país fica enfraquecida consideravelmente, o que provocaria grande descontentamento nas cidades e no campo. O aumento contínuo dos preços torna insuportável a vida dos trabalhadores. A movimentação ao exército privava de braços as famílias camponesas.

A paciência do povo russo se esgotava, o que levava a Rússia a uma possível revolução. Lenin, de Genebra, antevia a revolução que viria em breve no seu país. Em primeiro de janeiro de 1905 ele declara que “a capitulação de Porth Arthur é o prólogo da capitulação do czarismo”.

Os fatos ocorridos em 9 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, anteciparam a revolução russa que irá durar até janeiro de 1907.

Era domingo em 9 de janeiro de 1905, e em São Petersburgo, o padre Gapon2, não deu ouvidos aos bolcheviques que o tinham advertido sobre a cilada, após sair à frente de uma enorme passeata em direção ao Palácio de Inverno, residência de Nicolau II. Pacificamente, milhares de trabalhadores, entre eles mulheres e crianças, iriam expor suas necessidades ao czar, a fim de pedir-lhe a solução para os problemas do povo. Ao chegarem próximo ao Palácio, a multidão postando cartazes com retratos do monarca eis que a polícia abre fogo. Ocorre uma enorme carnificina, com centenas de mortos e feridos. Esse dia ficou conhecido como “domingo sangrento”.

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Esse crime covarde, provoca ódio e indignação no povo russo. À tarde nesse mesmo domingo, em vários bairros os operários da capital levantam barricadas. Nos próximos dias, uma onda de greve toma conta de toda a Rússia. Começa então, aí a Revolução de 1905.

Em Londres, no mês de abril de 1905, acontece o III Congresso do POSDR, o primeiro Congresso bolchevique; pois os mencheviques recusavam-se a comparecer. Lenin faz vários discursos que preparam as resoluções fundamentais. De início, reconhece que a principal tarefa do partido é uma organização de uma rebelião armada. Todas as medidas de armar o proletariado são então tomadas.

Após o Congresso, ao retornar para Genebra, Lenin escreve o livro “Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática”, publicado em julho de 1905.

Cresce rapidamente o movimento revolucionário russo. No Mar Negro, a tripulação do encouraçado Potenkin amotinou-se. Lenin escreve aos comitês bolcheviques: “Criem destacamentos de combate em todas as partes, entre os estudantes, principalmente entre os operários; que cada qual se arme como possa”.

O Soviete de Deputados Operários é valorizado por Lenin, que via nele o embrião do poder popular, um novo tipo de Estado. Ele escreve então o artigo “As Nossas Tarefas e o Soviete de Deputados Operários”, em novembro de 1905. Onde afirma que “a origem do poder soviético não está em nenhuma lei previamente discutida e votada pelo Parlamento, mas na ação direta das massas a começar de baixo, por toda a parte”.

Em 17 de outubro de 1905, o governo czarista se vê obrigado a escrever e publicar uma mensagem, prometendo liberdade de palavra, de reunião, e outras liberdades civis e autorizava a instalação de uma Duma, espécie de parlamento.

Às promessas czaristas, Lenin achava que não deveria dar crédito, então, em novembro de 1905, ele deixa a Suíça e entra clandestinamente na Rússia, em São Petersburgo. Voltando à pátria após cinco anos para dirigir a atuação do parido na luta revolucionária.

O POSDR, ainda dividido entre bolcheviques e mencheviques, passa a ter em novembro de 1905, um jornal bolchevique legal, Vida Nova (Novaia Zizn) onde Lenin escreve muito, clandestinamente.

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Ao analisar a insurreição, Lenin escreve uma crítica à organização. “As armas deveriam ter sido empenhadas com mais decisão e agressividade”. Avaliação oposta à dos mencheviques, que defendiam que não se devia ter recorrido às armas.

Para continuarem lutando com mais empenho para a vitória da revolução, muitos membros do POSDR começam a reclamar sua unificação. O que faz com que Lenin, no início de abril de 1906 vá para Estocolmo a fim de tomar parte no IV Congresso (de unificação) do POSDR, o que não acontece.

 

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Maksim Gorki (28/03/1868 – 18/6/1936 , pseudônimo de Aleksei Maksimovich Peshkov, foi um escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo. Gorki foi escritor de escola naturalista que formou uma espécie de ponte entre as gerações de Anton Tchekhov e Liev Tolstói, e a nova geração de escritores soviéticos.

George Gapon (17.02.1870 – 10.04.1906), foi um padre cristão ortodoxo russo que líder da manifes        tação de 9 de janeiro em São Petersburgo

Edição: Elis Almeida