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Saúde

"Vacinar crianças contra covid-19 ajuda a prevenir hepatite grave", diz pediatra

Em entrevista, vice diretor do maior hospital pediátrico do Brasil fala sobre a doença

Curitiba (PR) |
Vice diretor do Hospital Pequeno Príncipe defende vacinação para crianças menores de cinco anos - Divulgação

A proliferação de casos de hepatite grave de origem desconhecida entre crianças pelo mundo ainda é um mistério para cientistas. O último boletim da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 29 de abril, afirma que “a etiologia dos casos segue sob investigação.” Até agora, os exames laboratoriais descartam casos de hepatite viral conhecida.

Há suspeita que o adenovírus 41 (vírus de doenças respiratórias) seja o causador da doença, mas ainda sem confirmação. Há ainda outra linha que levanta a possibilidade de a hepatite ter relação com sequelas da covid-19, já que, segundo dados da OMS, a maioria das crianças afetadas não foi vacinada contra o coronavírus.

Até o momento, 348 casos prováveis foram relatados em 21 países, sendo que 26 crianças precisaram de transplante de fígado e três foram a óbito. No Brasil, segundo levantamento realizado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, divulgado no sábado (14/05), 47 casos da doença foram notificados, sendo três no Paraná.

A Secretaria do Estado da Saúde do Paraná informou, em nota,  que “monitora diariamente as ocorrências dos casos e a evolução das investigações realizadas nos países que já estão apresentando casos anteriormente, em busca de evidências que possam direcionar e apoiar as condutas já adotadas pelo Paraná.”

Para esclarecer o assunto, o Brasil de Fato Paraná conversou com o vice diretor do Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe, o médico infectologista Dr. Victor Horácio de Costa Junior.

Confira a entrevista:  

Brasil de Fato - Temos três casos dessa hepatite no Paraná e mais 42 no Brasil. Como vocês, do maior hospital pediátrico do Brasil, vem acompanhando essa doença?

Dr. Victor Horácio de Costa Junior: Ela é ainda uma hepatite que tem se demonstrado extremamente rara. É importante lembrar que no mundo apenas cinco países tem mais de cinco casos descritos.

Já existe algum estudo que confirme ou chegue perto do que está causando essa hepatite? Há relação com sequelas da covid-19?

O que a gente sabe até o momento é que o SarsCov2, o vírus da covid-19, pode ficar como um colonizador no intestino das crianças e, a partir daí, essa criança tem uma carga maior do coronavírus no intestino.

Ela pode, então, por exemplo contrair um quadro de infecção de vias aéreas superiores por um Adenovírus 41, essa associação vai trazer uma resposta imunológica que pode causar inflamação no fígado. Até o momento é o que já sabemos.

Que tipo de prevenção é possível?

Uma das prevenções contra essa hepatite é a vacina contra a covid-19, pois a gente sabe que o coronavírus está relacionado a essa forma mais grave [de hepatite].

Vacinar crianças contra a covid-19 ajuda a prevenir essa hepatite grave. A gente, inclusive, espera com muita expectativa que a Anvisa libere a Coronavac para crianças menores de cinco anos. Pois até agora, o que temos observado na literatura mundial, 83% dos casos dessa hepatite são em crianças nessa faixa etária e, portanto, não vacinadas.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini