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Artigo | O conhecimento darwinista

Estamos vivendo a oportunidade de expandir fronteiras, mas voltamos ao senso comum através da negação do saber

Curitiba (PR) |
"À medida que entramos na era digital, o conhecimento tornou-se acessível, disponível através de um clique" - Pixabay / Creative Commons

O conhecimento é a capacidade do ser humano de entender, aprender e compreender as coisas. Além disso, ele pode ser criado, à medida que nos abrimos e interagimos com o mundo, experimentando o novo dia a dia.

No decorrer da história, o conhecimento foi sempre dominado por poucos, inserido no meio de filósofos gregos e romanos, dentro da igreja, da realeza, da aristocracia ou burguesia. Antigamente, o conhecimento era acumulado através dos livros, da interação com sábios e pensadores, do fazer pensar de grandes mestres e professores.

À medida que entramos na era digital, o conhecimento tornou-se acessível, disponível através de um clique. As crianças da geração Z nasceram imersas na tecnologia digital com a popularização da internet a partir dos anos 90. Fomos desde então bombardeados, dia após dia, por milhares de informações das mais diversas naturezas, à medida que buscamos, num simples rolar de páginas, a informação que queremos.

Mas um fato interessante pode ser observado em nossa sociedade, à medida que avançamos na popularização deste conhecimento. Ao mesmo tempo que temos uma globalização maior da informação, temos também uma absurda expansão da vulgarização do conhecimento disponível através de um clique. É como se tudo aquilo que estivesse disponível não fosse aproveitado da maneira certa, no intuito de contribuir na formação do “ser”. A sociedade perdeu-se nesta formação, valorizando o “ter” em vez de construir o “ser”.

Entra em cena o dogmatismo cego, e aqui não falo do dogmatismo filosófico, onde o debate é fundamental na construção do saber, mas deste dogmatismo que impede a evolução do “ser”, pois o indivíduo tem a convicção que sua verdade é plena e absoluta, bloqueando a construção do saber, através da troca, do debate e da reflexão.

Estamos vivendo, paradoxalmente, ao mesmo tempo, a oportunidade maravilhosa de expandir fronteiras, construir o conhecimento através da ciência e da educação, mas voltamos ao senso comum através do obscurantismo e da negação do saber, nos lançando na velha “Gileade” entre muros e incapazes de enxergar o novo.

Aí volto a geração Z, a sociedade em que vivemos será capaz de separar o joio do trigo e construir o “ser”, num processo darwinista de se apropriar do conhecimento? Ou estará condenada à mediocridade dogmática de aceitação da evolução do saber?

*Andréa E. M. Stinghen é Prof. Dra. do Departamento de Patologia Básica, Universidade Federal do Paraná e Vice-presidente Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR).

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Lia Bianchini