Paraná

Entrevista

Chefe de infectologia do Hospital de Clínicas esclarece dúvidas sobre a varíola dos macacos

Contaminação via relação sexual vem se apresentando como uma das principais formas de transmissão

Curitiba (PR) |
Dra. Sônia Raboni é chefe da Unidade de Infectologia do Complexo do Hospital de Clínicas do Paraná - Foto: Ascom/Hospital Pequeno Príncipe

A Organização Mundial da Saúde declarou em julho de 2022 que a varíola dos macacos passa a ser classificada como emergência de saúde pública internacional. O primeiro caso confirmado da doença foi no Reino Unido, no dia 7 de maio, e desde essa data já são mais de 26 mil casos em todo o mundo. No Brasil, existem  mais de 1800 casos espalhados por 16 estados. Entre eles, o Paraná, com 36 casos, sendo o estado com maior número de casos registrados na região sul do país.

A doença que se alastra pelo mundo, justamente no momento em que a pandemia da covid-19 começa a arrefecer, trouxe muitas dúvidas para a população. Por isso, o Brasil de Fato Paraná conversou com a médica infectologista Sônia Raboni, que é chefe da Unidade de Infectologia do Complexo do Hospital de Clínicas do Paraná.

Confira a entrevista:  

Brasil de Fato Paraná – Qual é a diferença desta doença para a varíola que já conhecíamos e que voltou a fazer parte da vacinação infantil em 2013?

Dra. Sônia Raboni – A varíola humana, que já conhecíamos e que já acometeu a população mundial há centenas de anos, é uma doença viral de transmissão pelo contato entre as pessoas, altamente contagiosa e se caracterizava por erupções cutâneas, febre e lesões bastante intensas com uma alta taxa de mortalidade. Essa doença foi erradicada no final da década de 70, início da década de 80, por conta da imunização que foi feita de uma maneira global.

Já outras formas de varíola, como é o caso desta, que caracterizamos como varíola animal, não foram erradicadas. Essa varíola chamada dos macacos não tem o macaco como o principal transmissor, pois já foram identificados vários roedores na África que poderiam ser os potenciais transmissores.

Ela já existia na região da África, com características semelhantes à humana, com lesões na pele, febre, etc, porém com menor gravidade. Alguns surtos aconteceram em outros países, mas sempre com vinculo epidemiológico, ou seja, de alguém que veio de países africanos em que a doença ocorre ou que tiveram contato com animais que vieram da África.

O que a gente observou agora é que essa varíola que se espalha pelo mundo é a mesma da África, mas sem vínculo epidemiológico com estes países e, vem sendo transmitida entre humanos.

BdF - É possível já identificar um público que vem sendo mais contaminado pela doença?

Dra Sônia Raboni: Então, o que temos observado é que, diferente da varíola humana, essa é menos agressiva e demanda de um contato mais próximo com a pessoa contaminada, de contato de pele, mas também pode ser via gotículas respiratórias e contato com superfícies contaminadas.

Por isso, identificou-se muitos casos de contaminação entre pessoas que mantiveram contato sexual, a maioria dos casos estão sendo relatados entre homens contaminados que se relacionam sexualmente com vários parceiros. Mas, também entre pessoas que tiveram contato com outras na família, que convivem dentro do mesmo ambiente e que compartilham cama e alguns utensílios. Existem casos de crianças, por exemplo, que se contaminaram por conviverem com adultos com o vírus.

BdF - Quais são as principais formas de prevenção da doença?

Dra Sônia Raboni: Considerando que a relação sexual é uma forma que vem propiciando a contaminação, evitar manter relações com parceiros que não conhecem ou com múltiplos parceiros tem sido recomendado. Ainda não temos total certeza de como se dá a infecção, que sempre entendíamos que era somente pelo contato da pele, mas hoje já existem estudos que identificaram o vírus no sêmen, desta forma o uso de preservativo também tem sido indicado, sempre.

Outro aspecto é que as vesículas (bolhas) que surgem da doença podem não ser visíveis, muitas acabam acontecendo de forma interna dentro de órgãos.

Além disso, para todos, recomenda-se o uso de álcool em gel e higiene das mãos, corporal e dos ambientes. Sempre que houver o diagnóstico de suspeita ou confirmado, além do isolamento em casa, o uso de máscara é super importante para não transmitir para outras pessoas.

BdF – Sobre as vacinas contra essa doença que já existem produzidas por farmacêuticas internacionais há alguns anos, o Ministério da Saúde informou que irá adquirir e vacinar somente os profissionais da saúde. Como você avalia a importância da vacinação em massa contra a varíola dos macacos no Brasil?

Dra Sônia Raboni: A vacina que existe tem se mostrado eficaz, mas, hoje não tem suficiente para fazer vacinação da população em massa. Há poucos centros no mundo todo que estão produzindo essa vacina. E, como a doença vem se alastrando pelo mundo, a busca com certeza será muito grande. Já se observou pela experiência da Covid-19, que os países mais ricos acabam comprando primeiro a vacina e provavelmente irão definir grupos prioritários, além dos profissionais da saúde. Enquanto não houver vacinação em massa, recomenda-se utilizar as medidas de prevenção.

Importante destacar que a maioria dos casos não estão se apresentando de forma muito agressiva, porém é possível evoluir para formas graves e óbitos.

 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini