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As conquistas da revolução cubana

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Para a obtenção desses resultados favoráveis, em primeiro lugar, tem-se a vontade política do governo revolucionário - Foto: Xinhua
Cuba tem a menor taxa de mortalidade infantil das Américas

A Revolução Cubana transformou a estrutura política e econômica de Cuba e também mudou o padrão de vida da população. A revolução mudou a situação de pobreza, a saúde pública e o analfabetismo, transformando o modo como os cubanos enxergavam a si mesmos e ao seu mundo.

Educação

As crianças cubanas das famílias mais pobres antes da revolução permaneciam na escola, em média, até o quarto ano do ensino fundamental. Inúmeras áreas rurais não possuíam serviços educacionais, sendo que metade das crianças do país não recebiam qualquer tipo de instrução.

Os revolucionários fizeram da educação uma das mais notáveis prioridades revolucionárias. O ano de 1961 foi chamado de o “Ano da Educação”, dando início a uma maciça campanha de alfabetização para crianças e adultos. Mais de cem mil alunos das escolas secundárias das grandes e médias cidades foram enviados ao campo para ensinar as primeiras letras para a população analfabeta. No final daquele ano, os princípios básicos de leitura já haviam sido ensinados a cerca de 700 mil adultos.

Fidel sofreu 638 ataques promovidos pela CIA

Foram construídas milhares de novas escolas ao longo dos anos após a revolução na área rural de Cuba. Foi instituído um programa maciço de bolsas de estudo para os estudantes, com o objetivo de levar as crianças pobres do campo para internatos nas áreas urbanas.

O número de crianças inseridas na escola elementar dobrou e, em 1985, haviam três vezes mais professores que em 1958. Mais de um terço da população, ou seja, 3,5 milhões de pessoas na época, estava matriculado em escolas, incluindo quase todas as crianças entre seis e quatorze anos de idade. O índice de analfabetismo caiu para 4%. A revolução estava vencendo o analfabetismo.

Alimentação

Cuba também obteve grandes conquistas na luta contra a fome, um problema que insistia em permanecer em grande parte nos países do Terceiro Mundo.

O abastecimento de comida em Cuba, na época, no entanto, permanecia difícil. A produção agrícola do país baixou após a revolução devido ao bloqueio comercial imposto pelos EUA. Grande quantidade de comida era importada e deixou de estar disponível. E, para ajudar a pagar a dívida externa, o país começou a exportar parte da comida que produzia, como carne bovina e frutas. A comida teve de ser racionada, mas se garantiu um abastecimento substancial de comidas essenciais. A desnutrição, que era generalizada antes da revolução, caiu para 3% da população nos anos de 1980.

Saúde

Em termos de saúde, os cubanos tiveram uma melhora notável após a revolução. As faculdades de Medicina foram requisitadas para praticar um grande trabalho na área rural.

Campanhas de prevenção e vacinação em massa eliminaram a poliomielite, reduzindo também a febre tifoide e a malária. Doenças típicas associadas à pobreza deixaram de ser a causa de mortalidade infantil, como por exemplo, a diarreia aguda, tétano, sarampo, tosse ferina, tuberculose e outras doenças.

Em 1958, a taxa de mortalidade infantil era superior a 60 por 1.000 nascimentos. A expectativa de vida era de apenas 57 anos, para uma população de cerca de seis milhões de habitantes; tendo sido elevada para 78,9 para os homens e 80,8 para as mulheres em 2020. Cuba atingiu em 2020 uma taxa de mortalidade infantil de 4,9 por 1.000 nascimentos, a mais baixa das Américas.

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Para a obtenção desses resultados favoráveis, em primeiro lugar, tem-se a vontade política do governo revolucionário, que oferece atendimento sanitário gratuito a todos os cidadãos, com especial atenção para as mães e seus filhos; além é claro da existência de um alto grau de escolaridade da população; e um programa nacional de vacinação com uma cobertura de praticamente 100% das crianças.

Já antes da revolução, em1953, diante do tribunal militar, Fidel anunciou que combater a morte infantil era uma preocupação da revolução. “A sociedade se comove diante da notícia do sequestro ou o assassinato de uma criatura, mas permanece indiferente diante do assassinato maciço que se comete com tantos milhares e milhares de crianças que morrem todos os anos por falta de recursos, agonizando entre os estertores da dor e cujos olhos inocentes, já neles o brilho da morte, parecem olhar para o infinito como pedindo perdão para o egoísmo humano e para que não caia sobre os homens a maldição de Deus”.

Combate a discriminação racial e de gênero

A Cuba pós-revolução começou a integrar os negros em todos os níveis sociais, após uma longa história de escravidão e de discriminação racial.

A posição da mulher na sociedade cubana também apresentou uma grande mudança. Antes da revolução, somente 17% força de trabalho era de mulheres, sendo que a maioria delas no serviço doméstico ou na prostituição. Já nos primeiros anos de 1980, as mulheres cubanas eram 36% da força de trabalho.

Mas alguns problemas ainda persistiam apesar da melhoria da situação feminina como bem observou Fidel Castro. “As mulheres ainda sofrem com a discriminação e a desigualdade, ainda estamos atrasados culturalmente, nos lugares mais recônditos da nossa consciência ainda vivem velhos hábitos do passado”.

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Isso, pois, a maioria das mulheres continuava a trabalhar nos setores tradicionais, onde recebiam salários mais baixos. Sua participação no mundo político de Cuba, ainda era muito pequena. As mulheres representavam apenas 13% dos integrantes do Partido Comunista Cubano (PCC), haviam poucas ministras no alto escalão do governo.

Fidel, Cuba e os EUA

Fidel manteve-se no poder desde 1959. “Enquanto eu puder ser útil nessa posição, ou em outra, e enquanto isso for uma exigência da revolução, tenho o dever de executar o meu trabalho”, afirmou. Em meados da década de 1980, Fidel já não era mais a única autoridade com poder de decisão, diversos dirigentes e funcionários conquistaram liderança e autonomia.

Em 1986, Cuba ainda não tinha sido capaz de chegar a um entendimento com os EUA, seu vizinho mais próximo e ameaçador. A hostilidade entre EUA e Cuba continuou por toda a década de 1970. Em 1975, Cuba enviou tropas cubanas para auxiliar os revolucionários de Angola. Em vista disso, o então presidente dos EUA, Gerald Ford, o chamou de “um fora-da-lei internacional”.

Mas, já em 1977, o novo presidente norte-americano Jimmy Carter, suspendeu algumas restrições de viagem entre os EUA e Cuba, melhorando assim o turismo na região, além de ampliar a representação diplomática norte-americana em havana.

Então, mais uma vez, em abril de 1980, durante a presidência de Ronald Reagan, as relações entre EUA e Cuba, se deterioram, quando Reagan o chama de “cruel ditador”, por ele aprovar revoluções na América Latina. A administração Reagan volta a proibir viagens à Cuba. Em 1985, no entanto, o Brasil restabelece relações diplomáticas com Cuba. Ao todo, Fidel sofreu 638 ataques, promovidos pela CIA na tentativa de matá-lo.

Raul Castro

Fidel continuou como presidente de Cuba até 2008, quando assume a presidência seu irmão Raúl Castro, que era o vice presidente desde 1965.

Raúl incentivou o fortalecimento das instituições dando maior autonomia a elas. Ele realizou reformas que promoveram abertura de Cuba. Incentivou a retomada das relações diplomáticas com os EUA mantendo diálogo com o governo de Barack Obama. Em 17 de dezembro de 2014, houve troca de prisioneiros entre os dois países, o que proporcionou a negociação dos termos de reaproximação.

Em 20 de julho de 2015 a embaixada de Cuba é oficialmente aberta em Washington, após 54 anos de rompimento das relações entre eles. Em junho de 2018, os EUA retiram Cuba da lista dos países patrocinadores do terrorismo.

Fidel não pode ver algumas dessas mudanças. No dia 25 de novembro de 2016, aos 90 anos de idade, o Comandante Fidel morre em Havana.

Em abril de 2018 Raúl Castro deixa o cargo de presidente. Miguel Díaz-Canel Bermúdez, de 62 anos, professor universitário, engenheiro eletrônico assume o posto, como Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba. Cargo que exercia desde 2021. Em 1987, ele entrou na União de Jovens Comunistas, e em 1993 ele aderiu ao PCC.

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida