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Bicentenário da Independência – um eco democrático?

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Bicentenário da Independência é um convite para abrir as portas à justiça social

Cada época não sonha aquela que surgirá, mas sonhando esforça-se por acordar (Walter Benjamin).

Aparentemente não é problemático buscar os fatos, organizá-los para que se tornem conhecidos. Fazer história é movimentar-se entre o passado e o presente, numa dinâmica que nos ajuda a entender o presente. Essa fecundidade dá vida nova aos fatos históricos.

A humanidade vive um dos momentos mais importantes e decisivos de sua história. O milênio passado assistiu às mais extraordinárias invenções e conquistas científicas, por um lado. Por outro, todo esse progresso acelerou a desigualdade. Enquanto milhões de seres humanos estão sendo beneficiados pela ciência e tecnologia, bilhões de habitantes sofrem várias formas de violência. Mecanismos de dominação e alienação alteram o curso da história.

Celebrar o “Bicentenário da Independência do Brasil” é considerar uma história em movimento. Celebrar uma data é confraternizar-se em torno da vida. Mais ainda: fazer valer a vida.

Um país tem o compromisso de acolher, proteger e melhorar a vida de todos, num clima de cidadania solidária. O que mais se espera dos poderes políticos é uma sensibilidade social, guiada por uma postura ética; e dos cidadãos se pede uma cidadania que os dignifica como integrantes responsáveis de um organismo vivo, onde o bom funcionamento do todo depende da saúde de cada célula.

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Uma multiplicidade de problemas, desafios e desigualdades compõe o cenário brasileiro atualmente. A luta pela afirmação de liberdade e busca pela justiça, solidariedade e fraternidade são contínuas. Hoje no Brasil, 33 milhões de pessoas passam fome. A fome e o clamor dos pobres por moradia e trabalho são temas gêmeos.

Não se pode esperar. O prazo esgotou-se. Existe um começo diferente para a celebração dos “200 anos da Independência do Brasil”? Os mecanismos de dominação e alienação continuarão a compor a vida das camadas populares? É preciso realizar transformações políticas, econômicas, culturais e sociais de fundo para diminuir as desigualdades. É o sentido de humanidade que está em jogo.

O Brasil passa ainda por uma grande crise política, ética e moral. O Centro de Estudos de História da Igreja e do Cristianismo na América Latina (CEHILA) une-se aos diversos movimentos, instituições e setores da sociedade em defesa da democracia, da justiça e dos direitos humanos. As vozes proféticas do presente e do passado ensinam-nos a interpretar a situação atual. O que antes era uma tarefa dos poderes constituídos passou a ser um dever de toda a sociedade civil.

A comemoração do “Bicentenário da Independência” é certamente o momento adequado para um debate articulado sobre os novos caminhos para uma sociedade democrática, justa, alegre, saudável. Como desenhar um clima de encontros, afetos e conhecimento?  O desafio continua posto – “Pensar o Brasil”. Como escreveu o poeta Thiago de Mello no lírico poema “Estatutos do Homem” (Ato Institucional Permanente):

“Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira”.

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Nós somos a Pátria. Somos o Brasil do presente e do futuro. Carregamos nossa Pátria com generosidade, sofrimento e tenacidade. A esperança é nossa cor, a desigualdade nosso desafio.

Nossa postura será a ação. A celebração do “Bicentenário da Independência” é um convite para dar as mãos e dizer sim à ousadia para abrir as portas à justiça social.

Mauro Passos é presidente da Comissão para o Estudo da História da Igreja na América Latina e o Caribe (Cehila-Brasil)

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida