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"Casa arrumada" é falso discurso de Zema, diz especialista

Jargão do governador tem se enraizado pelo interior. Na Grande BH, acertos de Kalil valem mais para o eleitor

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

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Marcello Casal Jr - Agência Brasil

O sotaque carregado, a pose de “bom moço” e a postura pacata são estratégias bem utilizadas pelo candidato à reeleição Romeu Zema (Novo) para conquistar seu eleitorado, sobretudo no interior de Minas, onde o governador mantém vantagem sobre seu adversário Alexandre Kalil (PSD). Essa é a avaliação do professor de ciências políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Ranulfo.

Para o especialista, o principal trunfo de Zema, além da vantagem de já ser governador, é que o político conseguiu emplacar entre os eleitores mineiros o discurso de que “arrumou a casa”. No entanto, para o professor, na prática, não foi bem assim. “O Estado está mais endividado do que quando Zema foi eleito. Ele acertou a folha de pagamento e de transferência aos municípios, mas a dívida do Estado aumentou. Zema não é um bom administrador, mas isso não é perceptível, não aparece na campanha”, afirma o especialista.

Ranulfo avalia ainda que a apatia em momentos decisivos do governo, como o silêncio de Zema diante das vítimas das enchentes do início deste ano, trouxe benefícios políticos ao gestor. Segundo ele, os confrontos diretos do governador com a população mineira aconteceram com os moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), como os dos municípios de Betim e Contagem, que serão diretamente impactados pelo projeto do Rodoanel, e da capital, onde Zema batalha para liberar a mineração na Serra do Curral.

Um Estado no balcão

No entanto, conforme prometeu durante a campanha em 2018, a gestão de Zema foi de retirada de direitos e de entrega dos patrimônios públicos. Com o Regime de Recuperação Fiscal, o governador tenta repassar ao setor privado as principais estatais mineiras: Cemig e Copasa. Além disso, já entregou 17 parques estaduais à iniciativa privada, como Ibitipoca e Biribiri, cuja privatização está em andamento.

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Na educação, o governo estadual implementa os projetos Somar e Mãos Dadas que desestatizam o ensino. E, na última semana, foi publicado o edital de privatização do metrô de Belo Horizonte, posto à venda em uma parceria do governo mineiro com Jair Bolsonaro (PL).

Na Grande BH, Kalil tem voto de confiança renovado

Por outro lado, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), Alexandre Kalil (PSD), que foi reeleito prefeito da capital em 2020 com votação histórica, conseguiu manter seu voto de confiança com os moradores. Nesta semana, a pesquisa Quaest apontou vantagem do belo-horizontino sobre o atual governador. Kalil possui 52% das intenções de voto dos eleitores da capital, contra 29% de Zema.

Para a cientista política Liliam Daniela, o dado está diretamente relacionado à aprovação da gestão na capital mineira. “Em sua vantagem, Kalil tem o reconhecimento sobre a sua capacidade de administração e de articulação, e como um bom gestor público à frente de uma grande prefeitura", explica.

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Para a especialista, a vantagem na região metropolitana é significativa para o pleito, já que o território corresponde a 30% da população de Minas Gerais. “Essa vantagem pode reverberar nesta reta final para outras regiões do estado”, analisa.

Para ter vantagem, Zema se divorciou de Bolsonaro

O casamento firmado entre Jair Bolsonaro e Romeu Zema para as eleições de 2018 parece ter chegado ao fim, pelo menos neste primeiro turno. Recentemente, o governador chegou a declarar que nunca fez campanha com o presidente, apesar de ter defendido o “BolsoZema” em 2018, postura que acabou gerando um desentendimento dentro do próprio partido que tinha outro candidato à presidência, João Amoedo.


Crédito / Reprodução

Assim como se juntar à figura de Bolsonaro garantiu a Zema um crescimento na reta final do último pleito, com a grande rejeição do atual presidente, se afastar de Bolsonaro favoreceu o governador mineiro.

“O melhor que aconteceu para o Zema foi o Bolsonaro não se meter na eleição mineira, ele [Bolsonaro] não investiu no candidato do seu partido [PL], que poderia tirar votos do Zema”, avalia Ranulfo.

Edição: Larissa Costa