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“Anjos selvagens” e os ovos da serpente

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Inescrupulosos são os componentes das milícias urbanas assassinos de Marielle

O drama do filme “Anjos selvagens”, produzido e dirigido pelo cineasta Roger Carman, em 1966, começa com o personagem Heavenly, representado pelo, então, jovem ator Peter Fonda, recrutando rapazes de sua idade para formar um grupo de motoqueiros. 

O parâmetro é ser branco, de classe média alta, fisicamente forte e disposto a romper com a ordem estabelecida. Cada participante da gang tem como distintivo, uma cruz negra que lembra a suástica nazista. As mulheres que participam do grupo têm papel secundário, indo na garupa da moto e sem voz ativa.

É assim que o grupo parte para um passeio em um lugar bucólico, à beira de um riacho e cascata. A estrada de acesso é perigosa, por savanas sem vegetação e cortes de pedras. No lugar do acampamento, as mulheres ficam sozinhas e os homens vão a uma oficina de veículos e lá encontram um mecânico solitário. Furtam uma peça e, em seguida, matam o mecânico a pancadas. Saem desordenadamente em fuga.

O personagem Joe Kearns furta a moto de um policial e foge, mas é baleado por um policial. Depois de ser operado e ficar em perigo de vida, quatro componentes do grupo entram no hospital e raptam Joe, levando-o a um lugar clandestino.

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Ao tentar fumar um cigarro de maconha, Joe morre em meio a uma orgia dos companheiros. O grupo providencia o enterro do companheiro e, para zombar das autoridades, leva o corpo coberto com a bandeira nazista para uma capela fora da cidade. Quando o pregador inicia sua oratória, Heavenly o interrompeu contestando suas palavras e os demais passam a espanca-lo. Heavenly determina que a gang quebre os móveis da capela.

Com o pregador amarrado ao chão, praticam sexo, bebem, usam drogas e dançam ao som de um tambor. Pegam o caixão com a bandeira, atravessam a cidade em direção ao cemitério.

Cultura

Sendo uma obra de ficção, o autor capta e expressa o clima psicológico e cultural daquele momento, cujos reflexos são sentidos na atualidade. O grupo se identifica pelo sonho de consumo: poder ter uma moto Holiday nova, blusão de couro, óculos escuros e dinheiro no bolso.

Alguns anos depois da Segunda Guerra Mundial a formação de gangs de jovens vira moda no Ocidente, sendo uma reminiscência das gangs SS do Nazismo. Estas eram autorizadas a praticar crimes, como matar, torturar e difamar pessoas consideradas opositoras ao regime e a Hitler.

Marielle, Jorge, Marcelo, Bruno, Dom...

Nos tipos de gangs revelados pelo filme “Anjos Selvagens” o que há de mais absurdo é a perda do escrúpulo que é o estado de consciência e atitude cuidadosa para não praticar injustiças. O inescrupuloso é imoral, indecente, imprudente e inconsequente.

São eles, os componentes das milícias urbanas, assassinos da vereadora Marielle Franco; o motoqueiro Jorge Guaranho, assassino de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT no Paraná. Sem escrúpulo são os assassinos de Bruno e Dom no Amazonas.

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Bolsonaro, ao fazer passeio de moto com apoiadores, quer ter a aparência de jovem vigoroso e ostentador de poder. Bolsonaro foi inescrupuloso tanto no ato quanto na confissão de que estava de moto quando “pintou um clima” entre ele e umas garotas venezuelanas.

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida