Entre os lares comandados por pretos e pardos, a fome saltou de 10,4% para 18,1%
Em uma das tantas caminhadas por Minas Gerais, durante as últimas eleições, conheci a Júlia. Uma menina de seis anos de idade e que já faz parte de tristes estatísticas. Ela e sua família estão entre os milhões de brasileiros e brasileiras que, ao acordarem pela manhã, não sabem se terão algo para comer.
Isso porque, entre as heranças malditas deixadas pelo desgoverno de Bolsonaro, sem sombra de dúvidas, o retorno do Brasil ao mapa da fome é a mais cruel delas. Nos últimos anos, o número de pessoas passando fome no Brasil quase dobrou. Hoje, são mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras que passam os dias sem terem o que comer. São 14 milhões a mais do que foi registrado em 2020.
A fome no Brasil tem cor e tem gênero. De acordo com o segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, 65% das famílias cujos responsáveis são pretos ou pardos, convivem com restrição alimentar em diversos níveis. Em comparação com o mesmo estudo feito em 2020, a fome saltou de 10,4% para 18,1% entre os lares comandados por pretos e pardos. Assim como também cresceu a fome em lares em que a mulher é a referência: passou de 11,2% para 19,3%.
Isso é resultado da política econômica de Bolsonaro e Guedes, que beneficia bancos e grandes conglomerados nacionais e internacionais, em detrimento da geração de emprego e renda e da manutenção de políticas sociais consistentes, como as que tínhamos até pouco tempo atrás. Precarização das relações entre capital e trabalho, que cria empregos sem direitos e com baixos salários, e reduz recursos destinados às políticas sociais, como para a merenda escolar. É só isso que eles sabem fazer.
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Realidade que impõe aos governos, em todas as suas esferas, a tarefa urgente de enfrentar a fome e a insegurança alimentar que se abate sobre parcela significativa da população brasileira. Políticas públicas efetivas são o único caminho.
Essa luta é para agora
A fome não espera. Sim, temos que ter políticas que gerem emprego e renda a médio e longo prazos, que são ações mais estruturantes. Mas precisamos por comida na mesa das famílias hoje.
O presidente Lula já anunciou que essa será a sua prioridade. E para isso é importante que o Congresso Nacional faça a sua parte, aprovando a emenda constitucional que garanta os recursos para o Bolsa Família de R$ 600 e mais R$ 150 por criança até 6 anos de idade. Isso porque o orçamento enviado pelo atual governo não garante os recursos para além dos R$ 400.
O governo de Minas também deve fazer a sua parte. Seja complementando os programas federais de garantia de renda mínima, seja investindo de forma séria e determinada em políticas sociais que assegurem mais dignidade às famílias mineiras. A capacitação profissional, preparando as pessoas para o retorno ao mercado de trabalho e a qualificação da merenda escolar são medidas que também contribuem com a mudança de realidade de milhares de famílias.
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Essas são algumas propostas que vou defender durante as votações do orçamento estadual na Assembleia Legislativa. Não é possível que o governo mineiro siga fechando os olhos para a vulnerabilidade social de parcela significativa da população. Vou trabalhar para que o orçamento de Minas Gerais reflita, de uma vez por todas, as necessárias medidas que importam à maioria da nossa gente. Um orçamento em que políticas públicas tenham como função combater a fome em total prioridade na alocação de recursos.
Andreia de Jesus é deputada estadual pelo PT e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da ALMG.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa