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Crônica | O cartão de crédito

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"A treta começou no caixa do supermercado. O cartão de crédito da família não passou. Foi uma frustração geral" - Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
Parecia que iriam mais uma vez às compras. Mas nem o cartão os salvaria

Ele era um cara mimado. Ela também era mimada. Era um casal explosivo. Ciúmes. Brigas. BOs. A casa era bagunçada. Tudo jogado. Não tinha horário pra nada.

Ela não trabalhava. Ele também não. Jogava videogame o dia inteiro. Garrafas de vinho espalhadas pela casa. Ela ficava no telefone o dia todo. Só saía para a academia, shopping center ou salão de beleza. Ele adorava o clube de tiros.

O apartamento foi presente dos pais. Eles, com dois filhos, ainda tinham mesada. Ele tinha uma filha do primeiro casamento. A filha vinha passar os fins de semana com eles. Ela não gostava da criança. Tinha um ciúme doentio. Era conflito atrás de conflito.

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Aquele fim de semana já começou com muita chuva e o porteiro avisando que a filha estava toda molhada na portaria. Ela já falou um palavrão, referindo-se à criança que estava na portaria. A menina nem subiu. Foi para a garagem. A família iria ao shopping e fazer a compra do mês.

A treta começou no caixa do supermercado. O cartão de crédito da família não passou. Foi uma frustração geral. O bate-boca começou na frente de todo mundo. Ela o xingava de imprestável. Ele a chamava de todos os nomes que ofende a moral de uma mulher. A coisa piorou dentro do carro. As crianças começaram a chorar. E quem pagou o pato foi a filha que vinha passar o fim de semana. Foi a primeira a apanhar.

Voltaram para a casa. Só que os ânimos esquentaram ainda mais. Ela, que não gostava da filha dele, aproveitou a situação e, num golpe de covardia, jogou a criança para fora do carro ainda em movimento. A menina caiu no vão de um edifício – um buraco que tinha a altura de dez andares. A tragédia estava configurada. Tentaram jogar a culpa num trabalhador do edifício. O caso teve repercussão nacional. A comoção foi geral.

Foi presa com seu melhor vestido e um batom bem vermelho. Ele foi preso com seus óculos escuros importados e uma roupa que mostrava seu físico escultural. Parecia que iriam mais uma vez às compras. Só que, dessa vez, nem o cartão de crédito os salvaria.

Rubinho Giaquinto é covereador pela Coletiva em Belo Horizonte.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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Edição: Elis Almeida