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Pixadores merecem consideração

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"Para a sociedade em geral, essas inscrições são enigmas indecifráveis." - Foto: Cadu Passos
Pixar o mais alto possível simboliza o desejo de ascensão social

O que a população, de um modo geral, sente ao ver no alto de um prédio, pisações de difícil leitura, é de reprovação. Os proprietários dos imóveis se sentem indignados, agredidos ou insultados.

Ao contrário dessas manifestações, propomos analisar os pixadores pelo aspecto psicológico, social e cultural. Para este fim, o pesquisador da UNICAMP, professor Alex de Toledo Ceará criou uma metodologia de estudos.  

A maioria dos pixadores são adolescentes entre 13 e 26 anos, em média eles têm 17 anos. A maioria deles tem só curso primário incompleto em razão de abandono precoce da escola. Quanto à religião, a maioria é de evangélicos e um terço deles é de católicos.

O que os adolescentes de baixa renda das periferias de grandes cidades mais desejam é notoriedade individual, aumento do status social e distinção.

Mesmo que não seja delinquente, o pixador é sempre isolado, invisível

Mas a globalização e o neoliberalismo dificultaram mais ainda a possiblidade de melhoria de vida das classes inferiores. O historiador alemão Robert Kurz (1943-2012), em matéria publicada na revista Carta Maior, em 2005 afirma que a globalização provocou um colapso na modernização, em prejuízo histórico para a humanidade. Desde o final do século XX até a atualidade, o processo de globalização tem contribuído para o aumento das massas de pobreza; desestabilização das famílias e demais grupos sociais; aumento dos conflitos por preconceitos e taxas elevadas de homicídios.

Segundo a UNICEF, O Brasil tem 32 milhões de crianças e adolescentes na linha da pobreza e da miséria e, entre eles, a aceleração do analfabetismo. Neste quadro não há perspectiva de ascensão social, ou melhoria de vida, o que motiva adolescentes a usar meios ilícitos de ganhar a vida.

É deste contingente que saem os jovens que fazem pixação e muitos são fichados como menores delinquentes. Mesmo que não seja delinquente, o pixador é sempre isolado, invisível, procurando viver à margem da sociedade, o que dificulta nosso conhecimento sobre a vida deles.

As inscrições parietais dos pixadores só são legíveis para o grupo ao qual ele pertence. Para a sociedade em geral, essas inscrições são enigmas indecifráveis. 

O pixar o mais alto possível, em lugares visíveis, simboliza o desejo de ascensão social e nada mais. Não contém ofensas pessoais e nem expressões criminosas como as da loira de classe média, Debora Santos, que em 8 de janeiro, pixou o monumento à justiça, do escultor mineiro Alfredo Ceschiatti.  

Um lugar ao sol

A novela “Um lugar ao sol” mostrou o interior de um grupo de pixadores cujos membros tinham a tendência para viver à margem da sociedade e a disposição para a delinquência. Joy, uma pixadora aventureira, conhece Ravi, rapaz de bom comportamento, que embora pobre, tinha bom trânsito na alta sociedade. Com ele Joy teve um filho, mas pouco tempo depois, conseguiu ganhar muito dinheiro de forma ilícita, contrariando o companheiro, mas realizando seu sonho de consumo. Sem peso de consciência, abandona Ravi e a criança; volta à periferia e se envolve com marginais.

Por causa do dinheiro, o grupo deixava Joy se iludir pensando que era uma líder poderosa. Quando o dinheiro de Joy acaba o grupo passa a rejeitá-la. Ela, então, pensa em realizar uma grande aventura e voltar a ser considerada uma heroína. O desafio era pixar o alto de um viaduto, mas ela cai e morre.

Esse fato simboliza que a glória de pixadores, traficantes e delinquentes das periferias é sempre efêmera e ilusória.


Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

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Edição: Elis Almeida