Minas Gerais

DESVALORIZAÇÃO

Apesar da invisibilidade, times mineiros disputam campeonato brasileiro de futebol feminino

Salários mais baixos, estádios vazios e preconceito marcam trajetória das mulheres no futebol

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Atlético e Cruzeiro se enfrentaram em abril pelo Campeonato Brasileiro. A partida foi disputada em Sete Lagoas - Foto: Flickr/ Atlético

A primeira fase da série A do campeonato brasileiro de futebol feminino está entrando na reta final e tem dois times de Minas Gerais concorrendo ao título. Na segunda-feira (22), as mulheres do Cruzeiro Esporte Clube jogaram contra o Flamengo e ganharam de 3 a 0. Já o Atlético Mineiro, que perdeu para o Santos na última rodada, enfrenta o Corinthians no próximo domingo (28).

Muito provavelmente, você nem sabia que a disputa estava em curso. Isso porque, diferentemente do masculino, o esporte, quando praticado por mulheres, tem muito menos visibilidade. Mas, o desconhecimento não é a única marca da desvalorização. Salários mais baixos, estádios vazios e falta de cobertura jornalística dos jogos são outros desafios enfrentados pelas profissionais do futebol feminino.

Renata Lemos, que é historiadora e membro do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (Gefut), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia que, mesmo com os avanços do último período, ainda há muito o que percorrer rumo à igualdade.

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“O futebol de mulheres precisa de suporte para se desenvolver. Nós precisamos de visibilidade, e que os clubes entendam sua importância social e econômica. O futebol de mulheres é o presente e tem um futuro enorme para ser vislumbrado, mas que precisa de investimento, incentivo e seriedade”, comenta.

Para ela, uma das dimensões fundamentais, que expressa o preconceito e que contribui para a manutenção da desvalorização, é a cultura, que dissemina a ideia de que a prática esportiva do futebol é uma atividade exclusiva para homens.

“O discurso de que o futebol é um esporte para homens, héteros, ‘o dito macho viril’, ainda predomina na nossa sociedade. Então, a criança, quando é um menino, mesmo antes de andar, já ganha uma bola para praticar o futebol, enquanto a menina, não vai ser incentivada a ser atleta. Isso tem o objetivo de perpetuar papéis de gêneros”, explica Renata.

A torcedora Juliana Terenzi, de 37 anos, acredita que existe uma combinação entre a falta de incentivo dos times, das escolas e das famílias. Como resultado dessa equação, meninas e mulheres de todo o Brasil enfrentam uma série de obstáculos para realizarem seu sonho.

“Eu conheço uma menina de 12 anos que joga muita bola, muita mesmo. Ela participa de campeonatos mistos pela escolinha que treina. Se ela fosse um garoto, já estaria nas categorias de base de algum time há muito tempo. Infelizmente, para as mulheres, a categoria de base só começa pelos 14 ou 15 anos. Enquanto os meninos, com 8 ou 9 anos já estão treinando”, relata.

Não tem comparação

A regulamentação do futebol de mulheres no Brasil só aconteceu em 1983, após 40 anos na ilegalidade. Já a obrigatoriedade dos clubes que disputam a série A do campeonato brasileiro de terem times femininos, aconteceu apenas quatro anos atrás, em 2019.

“A regulamentação não significou exatamente uma coordenação do futebol de mulheres. Até montarmos campeonatos, calendários, federações, confederações, clubes, nos apropriarmos dessas federações e começar a entender a possibilidade da prática por parte das mulheres, foi um longo caminho”, conta a historiadora.

Ela avalia que a obrigatoriedade em 2019 pode ser considerada um marco que “começa a propagar a discussão social em relação à necessidade da valorização e da visibilidade das mulheres no futebol”.

Mulheres foram proibidas de jogar por 40 anos

De 1941 a 1979, as mulheres foram proibidas de jogar futebol no Brasil. A argumentação, que justificou a assinatura de Getúlio Vargas do Decreto 3.199, foi que as atividades seriam “incompatíveis com as condições de sua natureza”.

Na época, acreditava-se que, por ser violento demais, o esporte só deveria ser praticado por homens. Às mulheres, cabiam as tarefas de cuidado, maternidade e reprodução. Renata relata que, infelizmente, essa ideia segue predominante na sociedade brasileira.

“O futebol é visto como um esporte viril, ‘da raça’, ‘da violência’, que são características de padrões pré-estabelecidos socialmente, que são ditos masculinos. É esperado de homens terem esse comportamento e, quando se foge dele, é um problema. O afastamento das mulheres do futebol é pelo entendimento de que elas não têm capacidade”, conclui a pesquisadora.

Lugar de mulher é onde ela quiser

Mesmo diante dos desafios, a torcedora Juliana Terenzi tem esperança de que o futebol feminino siga avançando e que as mulheres ocupem todos os espaços que lhe são de direito.

“Futebol feminino tem a importância de reafirmar que lugar de mulher é onde ela quiser. Apesar da valorização do esporte ainda estar longe de ser o ideal, o número crescente de atletas mostra que as pessoas estão entendendo isso”, destaca.

Os jogos em que o Atlético e o Cruzeiro são mandantes são realizados no Sesc Venda Nova, Campo das Alterosas. A entrada é gratuita.  Algumas partidas também são transmitidas ao vivo pelo YouTube, nos canais Galo TV e Cruzeiro Esporte Clube.

Saiba quais são os próximos jogos dos times mineiros

Rodada 13

Sábado (27), às 15h: Cruzeiro X Athletico Paranaense

Domingo (28), às 11h: Atlético Mineiro X Corinthians

Rodada 14

Domingo (4), às 15h: Atlético Mineiro X Real Ariquemes

Segunda (5), às 19h: Cruzeiro X Ferroviária

Rodada 15

Segunda (12), às 15h: Atlético Mineiro X Ceará

Segunda (12), às 15h: Cruzeiro X Real Brasília

Edição: Larissa Costa