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Ameaças e atentados contra a democracia

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"Impressionante como Bolsonaro incentivou o rompimento com a Constituição de 1988 visando à sustentação de seu futuro mandato como ditador." - Foto: FLickr/ Agência Senado
Democracia não é só escolha de representantes

O jornalista Silvio Caccia Bava, diretor do Le Monde Diplomatique Brasil, em dezembro de 2012, entrevistou Edgar Morin. Baseado na experiência de vida de Morin, Bava indagou dele se há perspectiva de mudança no mundo em que vivemos.

Morin inicia sua resposta com uma pergunta: se hoje projetamos o futuro, o que vemos? Para ele, vemos a proliferação dos artefatos nucleares, a degradação da biosfera, uma economia cada vez mais em crise, o crescimento das desigualdades, toda uma série de desastres. Ele afirma, “temos a necessidade de recusar a grande agricultura capitalista e industrializada para defender os pequenos proprietários rurais e agricultura familiar”.

Para Morin, a grande dificuldade de lutar contra a dominação do capitalismo financeiro e contra a especulação financeira é que isso só pode ser feito em nível internacional.

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Para suprimir o paraíso fiscal, por exemplo, é necessário que todos os países se ponham de acordo, assim como para taxar a especulação financeira. O capitalismo financeiro e o fanatismo étnico-religioso são problemas que assombram o mundo.

O pior é que não há no mundo instituições planetárias dotadas de poder de decisão. Foi essa a razão do fracasso da conferência para o clima Rio+20 que causou uma enorme desilusão. Isso leva grande parte da humanidade a pensar que não há no momento, nenhuma perspectiva de destino para a comunidade terrestre.

Mas, quais as forças sociais que podem agir?

Não podemos mais pensar que seja a classe operária industrial, mas toda a sociedade, mulheres, jovens, velhos, trabalhadores e todos os oprimidos da terra que querem conquistar sua emancipação. Nisso se enquadra a conduta do PT, desde sua formação.

Ao trabalho assalariado e o proletariado se somaram os prestadores de serviços e equipamentos eletrônicos. Ao invés da cooperação e da camaradagem, prevalece a competição e a individualidade entre os prestadores de serviços autônomos.

Democracia como obstáculo

Muito mais que a luta por posições, papéis e sobrevivência, nas camadas superiores da sociedade o que mais se ambiciona é a acumulação sem limites e a formação de uma espécie de transhumanismo super-elitizado. Nessas circunstâncias os super-homens idealizados por Nietzsche serão os únicos sobreviventes da terra. Para ele, a meta do esforço humano não deveria ser a elevação de todos, mas o desenvolvimento de indivíduos mais dotados e mais fortes. A finalidade das experiências deveria ser o aperfeiçoamento do indivíduo e não a felicidade da coletividade.

Para essa ideologia, a democracia é o maior obstáculo. Dai os desatinos da extrema direita em tomar o poder e instalar a ditadura da elite privilegiada. Importante notar como Bolsonaro, há anos, vem cooptando militares, comparecendo a solenidades de formaturas e os incentivando à rebeldia.

Democracia não é só o direito que os cidadãos têm de escolher seus representantes nos poderes constituídos, mas o desejo de igualdade e o respeito às diferenças. Incentivada pelo poder do neoliberalismo a extrema direita tenta destruir todas estas conquistas culturais, humanistas e democráticas do Brasil após o fim da ditadura militar (1964-1985).

Impressionante como Bolsonaro incentivou o rompimento com a Constituição de 1988 e a ocupação da Amazônia por afortunados mineradores clandestinos, visando à sustentação de seu futuro mandato como ditador. 

 

 

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

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Edição: Elis Almeida