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Com o aumento populacional, é maior a chance de eu encontrar alguém idêntico a mim na rua?

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Será que o meme do Homem Aranha se tornará uma realidade? - Foto: Reprodução/ Twitter
A espécie humana tem algo em torno de 20 mil genes

A curiosa e inteligente pergunta veio da minha amiga Kell. A dúvida surgiu de um caso que ela ouviu. Um cara entrou num bar, em uma cidade que nunca tinha estado antes, e começou a ser cumprimentado por vários estranhos. Logo ele percebeu que o confundiam com alguém muito parecido com ele. Algo assim já aconteceu com você?

Perguntei se ela queria saber a chance de duas pessoas completamente idênticas geneticamente existirem, ou se a semelhança se restringiria à aparência do rosto.

Pensemos na primeira opção. Nossas características biológicas são definidas por nosso DNA. Ele é formado por uma longa cadeia de moléculas menores de quatro tipos: A, C, G e T. Imagine que um pedaço de DNA tenha a sequência A-A-A-A. Qual a probabilidade de, ao acaso, um outro DNA ter a mesma sequência? 0,39%. Difícil, né? Se aumentarmos para 10 letrinhas, a chance de uma sequência idêntica já cai para 0,00009%. Eita, quase impossível!

E se eu te disser que o DNA humano é formado por aproximadamente 3 bilhões dessas letrinhas? Calcular essa probabilidade nos daria um número tão pequeno que é certo afirmar que é impossível, ao acaso, dois seres terem o mesmíssimo DNA.

A herança genética não se dá dessa forma, ao acaso. As tais letrinhas formam conjuntos que chamamos de genes, que são herdados ou não pelos indivíduos. Mas tem a seleção natural, a reprodução sexuada…  Mesmo assim, se levarmos em conta que a espécie humana tem algo em torno de 20 mil genes, a probabilidade continua quase nula de alguém possuir exatamente os mesmos que você.

Por isso, tal fato só ocorre em uma situação: gêmeos univitelinos. Eles surgem quando mais de um embrião se origina de uma única fecundação. Um espermatozoide e um óvulo, cada um com metade do DNA da espécie, se juntam e depois, num evento raro, originam dois (ou mais) embriões idênticos.

Mas, Kell me disse que queria saber só sobre a aparência mesmo. Aquelas características visíveis aos olhos. Nunca pensamos que alguém é parecido com a gente por ter, por exemplo, o mesmo tipo sanguíneo ou a mesma capacidade de digerir a lactose, não é mesmo? Focamos em poucas características como formato do rosto, tipo de cabelo, altura e cor da pele.

Por incrível que pareça, há estudos científicos que tentaram estimar a chance de alguém muito parecido com a gente existir, levando em consideração apenas a aparência. Conto sobre eles, e termino de responder minha amiga Kell, em nosso próximo texto!

Um abraço (especial pra Kell desta vez) e até a próxima!

 

Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de ensino de Minas Gerais.

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Leia outros artigos de Renan Santos em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa