Minas Gerais

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Juventude de férias em busca de outros brasis

Coluna - Rondon - Férias em busca de outros brais - Foto: Divulgação
Desejo é que os futuros profissionais contribuam com um futuro diferente

No período de férias escolares é comum que muitos jovens deixem a universidade e retornem para as suas cidades de origem ou desçam rumo ao litoral para curtir uma praia. O recesso é merecido depois de muitas aulas teóricas, atividades de pesquisa e de extensão ao longo de um semestre.

Mas tem uma parte dessa juventude que é diferente! Aproveitam o descanso para conhecer as faces de um outro Brasil que não faz parte da rotina diária dos universitários. Umas férias diferentes para ampliar os seus conhecimentos e conectar a teoria da sala de aula à realidade.

É um exercício de impacto e de confronto entre os conhecimentos que vem dos livros e uma realidade social que, muitas vezes, não está descrita nas linhas teóricas e que não seria percebida sem essa imersão. Os universitários têm, nessa experiência, a oportunidade de vivenciar a cultura, a vida e a estratégia de sobrevivência das comunidades que vivem no interior do Estado, na zona rural, nos quilombos e nos agrupamentos indígenas.

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Essa ação extensionista leva os universitários de todas as áreas de conhecimento a vivenciar a rotina das cidades de médio e pequeno porte no interior e que possuem desafios sociais igualmente importantes aos das grandes cidades.

Em muitas comunidades rurais encontramos a falta de políticas públicas, no quilombo a luta pelo reconhecimento e a sobrevivência da cultura e nos grupos indígenas uma história não valorizada pela sociedade contemporânea.

De outra forma, também achamos situações exitosas de agricultura familiar e reflorestamento, de cultura viva pelo artesanato, pela religiosidade, pelas riquezas naturais da região e pela sua música, além de escolas, creches, grupos sociais com boas práticas de convivência e pedagogia libertadora e solidária.

Passar as férias conhecendo gentes, pisando em outras terras e respirando cultura! É isso que os rondonistas mineiros fazem!


 Foto: Divulgação

Nas férias de janeiro, as equipes de rondonistas visitaram as cidades de Paracatu, Carmo da Cachoeira, Raposos e Bom Jesus do Amparo. Cada cidade com os seus desafios e suas riquezas que resultam das políticas públicas dos governos municipais, da resistência e organização política de sua população, de sua história, de sua posição geográfica e oportunidades de trabalho para os jovens e adultos. Nas férias de julho, uma equipe foi para Almenara vivenciar a vida e a obra do Vale do Jequitinhonha.

Em Almenara, a equipe foi coordenada pela enfermeira Neurênia Queiroz que classificou a experiência dos estudantes como uma intervenção transformadora para toda equipe. “Fiquei esperançosa com o potencial da extensão universitária. Os alunos se mostraram muito engajados e interessados em conhecer a realidade da cidade e desbravar o território. Demonstraram uma postura bem profissional e com compromisso com as pessoas e os problemas da cidade”.

A equipe fez visitas a vários equipamentos públicos e entidades sociais da cidade e teve oportunidade de participar de festas e feiras locais, de visitar o Quilombo Marobá dos Teixeira e o Acampamento 16 de Abril do MST. Também atuaram com oficinas e workshops com servidores públicos de vários setores, com técnicos e o público de algumas das entidades sociais do município e realizaram ações relacionadas ao Programa Lixo e Cidadania/MPMG com atividades de assessoria ao grupo de catadores e catadoras de materiais recicláveis do município e a mobilização da população para a gestão dos resíduos sólidos, através da coleta seletiva e a reciclagem.


 Foto: Divulgação

Segundo Luyara Couto, estudante de enfermagem da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL, a experiência no Projeto Rondon Minas “foi a melhor experiência que vivenciei, até agora! Principalmente no quesito experiência universitária e profissional, e com certeza pessoal. Em Almenara-MG, vivenciei muitas experiências pela primeira vez, como o trabalho comunitário que faz colocar à prova tudo que você é, com relação ao respeito, diplomacia e relações pessoais. A troca de experiências, conhecimentos e vivências com a população, com as pessoas do seu campo de ação, descrevo em 3 palavras: impactante, desafiador e de muito aprendizado. Estar inserida em outra cultura local, é fascinante. Foi uma viagem única, insubstituível e inesquecível!”

Nathalia Gorito estudante do Centro Universitário Carioca/RJ inscreveu-se para se juntar a equipe dos rondonistas mineiros, nestas férias, e avaliou a sua experiência no campo: “Trabalhar junto da população, pensando em soluções para os diversos problemas enfrentados por ela foi uma experiência enriquecedora e incrível. A Nathalia que está saindo de Almenara está voltando para o Rio de Janeiro totalmente diferente, com um olhar mais cuidadoso e empático com o próximo”

As informações visuais, escritas e ouvidas nessa ação no município jamais serão esquecidas por esses universitários. Ao contrário, serão levadas às salas de aula e agregarão conhecimento ao currículo de suas áreas de formação.

É nesse encontro com a realidade que os universitários percebem a importância de suas profissões para o desenvolvimento da nossa sociedade e são sensibilizados para as questões sociais de nosso país.

O desejo é que os futuros profissionais possam estabelecer uma relação de compromisso com as pessoas, com as comunidades e as instituições onde vão atuar e possam contribuir com um futuro diferente, justo e próspero. Aprenderam com a prática, vivenciaram outras áreas de conhecimento (meio ambiente, educação, saúde, habitação, cultura) e, agora, podem ressignificar e conduzir a sua formação acadêmica e profissional para uma ação mais humana e solidária.

Então, férias de julho concluídas com sucesso, com um banho de realidade!

 

Monica Abranches é presidente da Associação do Projeto Rondon de Minas Gerais

Neurênia Queiroz é coordenadora de equipe do projeto Rondon Minas

Luyara Aparecida Jacob Couto é estudante de enfermagem da UNIFAL

Nathalia Gorito da Silva é estudante de ciência da computação no Centro Universitário Carioca/RJ

 

 

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida