Minas Gerais

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Neuma Aguiar e a boa sociologia

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"Neuma abordou o feminismo particularmente por meio da sociologia do trabalho" - Foto: Reprodução/ UFMG
Neuma Aguiar tornou mais fácil de entender a situação das mulheres

A sociologia brasileira perdeu, no dia primeiro de outubro, Neuma Aguiar, pioneira nos estudos feministas.

Nascida em Fortaleza, Ceará, em 1938, Neuma formou-se em História na PUC-Rio, em 1960, e fez mestrado e doutorado, nos EUA, durante a década de 1960.

Lá, aprofundou-se nos dois campos que marcariam sua vida acadêmica: o feminismo e as metodologias estatísticas e quantitativas.

De volta ao Brasil, trabalhou no IUPERJ de 1972 a 1997 e depois na UFMG, de 1996 a 2008.

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Neuma abordou o feminismo particularmente por meio da sociologia do trabalho, estudando a divisão social do trabalho sob o ponto de vista de gênero, procurando entender o trabalho feminino, não só o remunerado, mas também o não remunerado.

Supunha haver uma lacuna, tanto no pensamento liberal quanto no marxista, sobre essa questão, assim como dificuldades metodológicas para se captar esse trabalho feminino.

Eu estava na pós graduação na UFMG, em 2005, quando fui seu aluno na disciplina metodologia quantitativa, que ela lecionou por anos. Na ocasião ela chamava os alunos dessa disciplina para participar de uma pesquisa importantíssima.

Tempo e tarefas domésticas

A pesquisa era sobre o uso do tempo pelas pessoas. Com uma perspectiva construída a partir das conferências mundiais de mulheres e usando uma metodologia rigorosa, a pesquisa salientou o tempo que as pessoas, especialmente mulheres, gastavam em tarefas domésticas, não remuneradas, e, adentrando pela economia, considerou, entre outras coisas, a participação desse tipo de trabalho no PIB nacional.

Pesquisas como essa evidenciam o quanto a sociologia - a boa sociologia, com teorias sólidas e métodos precisos - tem a ver com pessoas, com gente de carne e osso, e tem o potencial de ajudá-las concretamente.

Como? Compreendendo o contexto social dessas pessoas, as pressões sociais que as moldam, e, nessa moldura, delimitam o que elas podem, individualmente, fazer (muita, muita coisa mesmo!) e o que não podem, não importa, como dizia Norbert Elias, "sua força, grandeza ou singularidade".

Neuma Aguiar, com sua sociologia, tornou mais fácil de entender a situação humana das mulheres, de seu trabalho, social e economicamente desprezado, de seus anseios, suas lutas, suas conquistas e limites.

Fez boa sociologia, algo precioso.

Palmas para ela!!!

 

Rubens Goyatá Campante é doutor em Sociologia pela UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras).

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Leia outros artigos de Rubens Goyatá Campante em sua coluna no Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida