Rio Grande do Sul

DIAGNÓSTICO

Estudo revela quais bairros de Porto Alegre são mais vulneráveis às ameaças climáticas

Relatório do Plano de Ação Climática analisou riscos de inundação, deslizamento, tempestade, ondas de calor, secas

Sul21 |
Plano de Ação Climática de Porto Alegre almeja zerar as emissões de gases do efeito estufa até 2050 - Foto: Guilherme Santos/Sul21

Os bairros Bom Jesus, Vila João Pessoa, Aparício Borges e São José são os que apresentam maiores riscos de sofrer as consequências da mudança climática em Porto Alegre. O diagnóstico consta no estudo “Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas”, apresentado pela prefeitura da Capital nesta terça-feira (31).

:: Para Stedile, soluções para combater mudanças climáticas visam, de fato, salvar o capitalismo ::

No relatório, foram analisadas seis ameaças climáticas para Porto Alegre: inundação fluvial; deslizamentos/erosão; tempestades; ondas de calor; secas meteorológicas; e vetores de arboviroses. De modo mais amplo, as regiões Leste e Nordeste, e Lomba do Pinheiro e Partenon (regiões de gestão do planejamento do Plano Diretor) são as que mais sofrem com o conjunto das seis ameaças climáticas avaliadas no estudo.

“As mudanças climáticas geradas pelas emissões de gases de efeito estufa de atividades como transporte, consumo de energia, geração e disposição de resíduos afetam a vida de quem mora nas cidades, onde 80% das pessoas vivem. Assim, este desenha-se como um momento para alinharmos o conhecimento sobre a pauta e trocar saberes. A fase de diagnóstico é fundamental para que a próxima etapa, de propostas, atinja os objetivos pretendidos”, explicou Rovana Reale Bortolini, diretora de Projetos e Políticas de Sustentabilidade da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smamus).

O estudo “Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas” é parte do Plano de Ação Climática desenvolvido pela Prefeitura com o objetivo de “identificar e estabelecer medidas prioritárias concretas de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa, de mitigação e de adaptação (social, econômica, ambiental e territorial)”.

O processo de desenvolvimento do plano é de 17 meses e deve ser finalizado em julho de 2024. De acordo com a Prefeitura, o Plano de Ação Climática irá propor mecanismos e instrumentos que possibilitem a implementação pelo município das metas estabelecidas, como zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050.

A análise de riscos e vulnerabilidades climáticas da Capital foi realizada por meio da plataforma MOVE, baseada na metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). A metodologia leva em conta as ameaças dos eventos climáticos, a exposição dos moradores, a vulnerabilidade da população (uma combinação entre a sensibilidade e a capacidade adaptativa da população às ameaças climáticas) e, por fim, o grau de risco entre e probabilidade de ocorrência de eventos perigosos e os impactos potenciais de tais eventos na população.

Regiões de risco

O Plano de Ação Climática em elaboração pela Prefeitura se propõe a dizer o que precisa ser feito para cumprir o objetivo de zerar as emissões até 2050. Rovana Bortolini destaca, por um lado, a necessidade de troca da matriz energética do transporte e das construções e, por outro lado, a urgência em adaptar os territórios da cidade mais suscetíveis às mudanças climáticas. Em suma, tornar Porto Alegre uma cidade mais resiliente à crise climática.

No que se refere à exposição, o estudo identifica as regiões Humaitá, Navegantes, Ilhas, Noroeste, Norte e Eixo Baltazar, Leste e Nordeste, e Lomba do Pinheiro e Partenon como tendo a maior de densidade demográfica da Capital. Na análise do risco de inundações, num cenário em 2050, os bairros Vila João Pessoa, Aparício Borges, São José, Lomba do Pinheiro, Bom Jesus e Vila Jardim são os mais críticos. Bom Fim, Cidade Baixa, Passo das Pedras e Santa Tereza são outros bairros sob risco de inundação.

Com relação ao risco de deslizamentos, também no cenário projetado para 2050, os bairros Vila João Pessoa, Aparício Borges, São José, Lomba do Pinheiro, Bom Jesus, Vila Jardim, Glória e Cascata são os mais críticos. O estudo ainda cita o Bom Fim e destaca o Morro da Polícia, Morro Santana e Morro Tapera. Os principais fatores apontados para o risco de deslizamentos são os tipos de solo e rocha, a concentração de população próxima às vertentes, menor renda e menor infraestrutura das ruas.


Secas, tempestades, ondas de calor: Capital já sente os efeitos da mudança do clima / Foto: Caroline Ferraz/Sul21

Quando o risco se refere às tempestades, novamente os bairros Vila João Pessoa, Aparício Borges, São José, Lomba do Pinheiro, Bom Jesus e Vila Jardim são os mais ameaçados. O diagnóstico ainda ressalta o risco dos bairros Independência, Bom Fim, Costa e Silva, Passo das Pedras e Cascata. Nesta análise, o estudo destaca a relação entre tempestades e a presença de alagamentos, com impactos no deslocamento, acesso a unidades de saúde, terminais rodoviários e funcionamento de serviços.

Os bairros mais críticos para as ondas de calor são Bom Fim, Cidade Baixa, Independência, Santana, Bom Jesus, Vila Jardim, Vila João Pessoa, São José. Em menor grau, o Cristo Redentor também é citado no diagnóstico. O motivo são as áreas impermeáveis, a menor presença de áreas verdes, renda média, menor infraestrutura de esgoto e ruas, acesso à água e população idosa sensível.

Ao avaliar o risco de seca em 2050, a pesquisa identifica como bairros críticos Bom Jesus, Vila João Pessoa e São José. Também são considerados os bairros Cidade Baixa, Santana, Passo d’Areia, Passo das Pedras e Cascata. Os principais fatores apontados são o déficit habitacional, a renda média, acesso à água e presença de reservatórios.

Ao final, a “Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas” conclui que as regiões mais vulneráveis são aquelas que concentram os bairros mais periféricos, com população de menor renda, déficit habitacional e menor acesso a infraestruturas. O estudo enfatiza que são regiões onde também se concentram a maior parte da população negra de Porto Alegre.

Pegada Hídrica

Além da identificação das vulnerabilidades dos territórios e como eles conseguem se adaptar ou não, e quais mudanças precisam ser feitas, a apresentação desta terça-feira (31) também abordou a chamada “pegada hídrica” – que significa o quanto a população de Porto Alegre precisa de água e o quanto estamos poluindo nossa fonte d’água, o Guaíba.

A análise da pegada hídrica demonstra como a água da cidade está sendo utilizada, ao estabelecer um indicador de uso e poluição dos recursos hídricos da cidade. Em Porto Alegre, o indicador do grau de poluição da água, chamado de “pegada hídrica cinza”, ocorre em sua maior parte devido aos efluentes não tratados, cerca de 40% do total gerado.

O estudo revela que a pegada hídrica de Porto Alegre foi de 1,8 bilhões de metros cúbicos por ano, o que equivale a 720 mil piscinas olímpicas cheias. A “pegada cinza” responde por 97,6% deste total, sendo 92% devido a processos domésticos e 8% processos industriais.                

Edição: Sul 21