Minas Gerais

Opinião

Artigo | Economia tradicional, criativa e de museus

"No âmbito da Economia Criativa, a modalidade Economia de Museus surge com muitas incógnitas"

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Foto do Museu Nacional - Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil

No mundo inteiro fala-se que a economia criativa tem um lugar importante na crescente economia global. Mas há 15 anos, os termos economia criativa e indústrias criativas nem sequer existiam. De onde surgiram? Essas práticas são realmente novas?

A resposta é sim e não. Por um lado, sabemos que as indústrias culturais são tão antigas quanto a humanidade. Por outro lado, as mídias digitais e as milhares de empresas criativas que vêm se tornando possíveis pelas tecnologias digitais são novas.

Também são novos muitos dos bens e serviços próprios de um mercado global cada vez mais sofisticado. Mas sempre existiu o desejo de criar coisas que vão além da dimensão utilitária, criar coisas belas ou que comunicam um valor cultural pela música, teatro, entretenimento e artes visuais, ou, ainda, estilo e moda. Sempre haverá pessoas com a imaginação e os talentos necessários para criar, assim como pessoas que pagarão por esta criação. Esta é a base da economia criativa.

Na atualidade, os estudiosos notam que enquanto é relativamente fácil identificar o tamanho e o valor de indústrias como a da moda ou publicidade, não é fácil conseguir captar o impacto do desempenho de tarefas criativas em indústrias não criativas ou culturais.

 

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Nesse sentido, um estudo do Fundo Nacional para a Ciência, Tecnologia e Artes do Reino Unido (Nesta) confirmou que existem mais pessoas criativas trabalhando fora das indústrias criativas do que dentro delas. O estudo concluiu que seria um erro enorme desconhecer que as indústrias criativas são apenas a ponta do iceberg da abrangente economia da cultura. Essa é uma das razões pelas quais a economia criativa é tão difícil de definir e medir.

Diante disso, cabe refletir: a economia tradicional está consegue atribuir valores à Economia Criativa? Para o Professor de Economia Cultural da Erasmus University, Arjo Klamer, tratando-se da economia criativa essa imagem é enganadora.

O estágio criativo da economia é sobre ideias e imagens, sobre significados. Música, design, arquitetura, moda, jogos, artes, internet etc. Todos esses bens adquirem valor por meio de transações econômicas, e o produto interno bruto não é capaz de contabilizar esse valor.

O valor de uma marca, por exemplo, pode ser determinado a partir de diversas perspectivas: resultados financeiros de um produto, valor de uma marca ao introduzir novos produtos e valor da marca baseado nos pensamentos, sensações e hábitos do cliente.

Mas como formar indicadores consistentes na área da cultura, tal qual os que temos na economia tradicional? Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), os indicadores devem reduzir a dimensão observada, medir quantitativamente o fenômeno observado e, por último, devem transmitir a informação referente ao objeto de estudo.

No caso da economia da cultura, a determinação do indicador não pode estar descolada do contexto sociocultural em que se dá esse processo, em especial pelo fato de a cultura ser um fenômeno socialmente estabelecido, que sofre influência tanto do valor econômico, quanto do simbólico.

Economia de Museus

No âmbito da Economia Criativa, a modalidade Economia de Museus surge com muitas incógnitas: o objetivo da economia da cultura é justificar a implementação de políticas públicas? Gerar estatísticas culturais? Indicadores? É possível que a economia tradicional com todos seus dispositivos possa alcançar as especificidades de um agente como um museu?

Quando se pensa em economia da cultura não se pode deixar de levar em conta a complexidade das relações que envolvem as instituições de arte, as abordagens da sociologia da cultura, da história da arte, e o formato específico a tais organizações.

Mas, por outro lado, é fundamental estabelecer um sistema de informação que possa sustentar a implementação de políticas públicas culturais, como critérios de definição dos agentes culturais e marcos teóricos, por exemplo. No que diz respeito à Economia da Cultura, a produção de informações é um instrumento de políticas públicas bastante útil.

Mesmo detendo um acervo de 20 milhões de itens, o Museu Nacional, por exemplo, custava muito pouco para o governo federal - especialmente quando seus custos são comparados a outras máquinas públicas. A verba usada no Museu Nacional em 2018 equivale a dois minutos de gastos do Judiciário e 15 minutos do Congresso. O valor gasto até agora com o Museu Nacional só seria suficiente para pagar três horas de auxílio-moradia da União em 2017. É também 5 mil vezes menor do que o custo da última reforma do Maracanã.

Colocadas na perspectiva dos impactos sociais gerados pelas instituições museais, essas informações mostram a dimensão dos gastos do Brasil com a cultura e como tais gastos são baixos se colocados na perspectiva dos impactos sociais gerados pelas instituições.

Os principais gastos relacionados aos museus podem ser divididos entre custos fixos, dinâmicos e de oportunidade. A grande fonte de custo tradicional dos museus são os custos fixos. Porém, nas instituições museais, os custos de oportunidade representam o valor monetário das coleções e catálogos. Representam o grande patrimônio dos museus, embora em muitos casos não apareçam em balanços patrimoniais com sua devida importância.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em 2016 demonstra a missão de preservação da cultura, atribuída aos museus, representando um valor quase inestimável. O custo de oportunidade é, assim, o valor representativo do patrimônio imobilizado (a coleção) pelo museu. Portanto, é fundamental que esses custos de oportunidade sejam considerados como informações estratégicas na tomada de decisão dos gestores públicos em relação ao financiamento para o setor. Ademais, é nesse ponto que são estabelecidas as justificativas do financiamento público dos museus: diante de um resultado muito significativo – manutenção e formação cultural – em relação ao custo de oportunidades do montante total.

Os museus são ambientes culturais e educativos. Pretendem educar por meio da sensibilização, cultivando a produção e a comunicação de significados a partir de seus objetos, exposições, propostas educativas, dentre outros.

O museu é também uma instituição de memória das sociedades, das nações, dos grupos, das comunidades, e, portanto, detentor de coleções de indícios patrimoniais e identitários.

Trata-se de uma instituição social, cultural e histórica, promotora de argumentos culturais, políticos e éticos, vinculando-se, por isso, a uma temporalidade e às peculiaridades de uma sociedade. É também ambiente de encantamento, entretenimento, admiração, confronto e diálogo.

Assim, as manifestações das culturas, a herança cultural depositada nos espaços físicos e nos espaços museográficos dos museus, tornam-se verdadeiros instrumentos de “alfabetização cultural” e construção, compreensão ou até mesmo, dependendo do caso, resgate de identidades.

 

 

Helena Guimarães é economista pela PUC-MG, mestra em Administração Pública pela FJP e especialista em Filosofia pela UFMG. É servidora do Ibram, atuando na equipe de educação do Museu do Ouro, em Sabará-MG.

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

 

 

 

 

 

 

Edição: Larissa Costa