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Artigo | Reconstruir a cultura socialista

"Sem cultura socialista não será possível derrotar o neoliberalismo"

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
No Auditório da Faculdade de Direito da UFMG, acontecerá o evento de lançamento do livro “Renascimento de Marx”. - Foto: Divulgação

Será realizado no próximo dia 23 de novembro, às 19 horas, no auditório da Faculdade de Direito da UFMG, o evento de lançamento do “Renascimento de Marx”. O livro é, sem dúvida, uma das obras mais importantes da cultura socialista editada no Brasil nas últimas décadas, pois incentiva releituras de Marx e atualiza seus pensamentos para enfrentar os desafios do século XXI.

Haverá nesta noite memorável uma palestra do professor Marcello Musto, da Universidade de York, organizador do livro e hoje uma grande referência internacional nos estudos marxistas. Participarão como comentadores os professores João Antônio de Paula (Economia da UFMG), Ester Vaisman (Filosofia da UFMG) e Juarez Guimarães (Ciência Política da UFMG). O evento será transmitido pela internet para todo o país.

A ascensão do neoliberalismo como cultura dominante do mundo capitalista foi precedida e organizou o que tem se chamado uma “guerra cultural” contra os valores do mundo do trabalho, da democracia e dos direitos humanos. No centro desta “guerra cultural” estão os ataques à cultura do socialismo e, principalmente, Marx que é considerado o principal autor moderno de fundação desta tradição.

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O neoliberalismo não apenas continuou a chamada “guerra fria” mas a aprofundou, passando a chamar de comunista ou socialista até liberais progressistas que admitem que o capitalismo gera injustiças que deveriam ser corrigidos, pelo menos parcialmente, por políticas organizadas pelo Estado.

Mas o objetivo central dos autores neoliberais foi sempre o de destruir e criminalizar, perseguir com violência verbal e eliminar fisicamente, toda crítica à sociedade de mercado capitalista.

Durante o período que vai de sua ascensão política, no final dos anos setenta, com a chegada principalmente de Ronald Reagan à presidência do Estado norte-americano mas também de Margareth Thatcher ao governo da Inglaterra, até 2008, quando houve a grande crise financeira internacional, os neoliberais afirmavam que não haveria mais alternativa ao capitalismo e que o socialismo havia chegado ao seu final.

Desde 2008, vieram se acentuando os sinais de uma crise da dominação neoliberal. O Estado norte-americano tem dificuldades crescentes de coordenar o mundo capitalista. No plano interno, o Estado norte-americano vive hoje a sua maior crise política desde a guerra civil do século XIX.

E aumenta cada vez mais a audiência daqueles que fazem a crítica de uma ordem que provoca a maior crise ecológica da história, guerras permanentes e generaliza todo tipo de injustiças contra os trabalhadores, as mulheres, os negros, os povos colonizados.

A importância de Marx

As culturas do socialismo democrático têm diversas origens. É muito forte em nosso país e na América Latina, por exemplo, a crítica de raiz cristã ao capitalismo. Hoje é muito disseminada a crítica ecológica, o chamado ecosocialismo. O feminismo, desde suas origens, se relacionou fortemente com as culturas do socialismo, sendo inclusive o dia 8 de Março proclamado pela Internacional Socialista.

Em geral, os povos colonizados que lutaram por sua independência desenvolveram culturas socialistas. Como a escravidão teve um papel central na formação e desenvolvimento do capitalismo, o anti-racismo ligou-se com força às culturas socialistas.

Mas é correto identificar que, no centro desta história e desta cultura na Modernidade, está a tradição fundada por Marx e Engels do socialismo democrático. Foi a partir de suas obras seminais que se desenvolveram os principais estudos de compreensão do capitalismo e das possibilidades de sua superação.

Nos tempos de domínio neoliberal, as tradições do marxismo foram brutalmente perseguidas, isoladas e sofreram certamente um período de sua maior crise. Muitos identificavam erroneamente o fim da URSS como um sinal de que o marxismo havia fracassado, estabelecendo incorretamente um sinal de identidade entre Marx e regimes opressivos da liberdade.

A obra de Marx passa hoje por um grande renascimento a partir da edição completa, chamada Mega 2, de seus escritos que em sua grande parte nunca foram editados em vida. Este renascimento é vital para a reconstrução de uma cultura socialista – dos valores da liberdade, da igualdade social, de gênero e racial, do internacionalismo e da paz, de um desenvolvimento em harmonia com a natureza.

Sem esta reconstrução da cultura socialista, não será possível derrotar o neoliberalismo no Brasil, inserido nas grandes lutas anti-neoliberais do nosso continente e de todo o mundo.

Por essa razão, no dia 23 à noite em “O Renascimento de Marx” é preciso não faltar ao reencontro com Marx. A esperança precisa construir suas razões. E Marx continua sendo fundamental para isto.

O lançamento é uma promoção pelas Fundações Perseu Abramo (PT), Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Maurício Grabois (PCdoB), da Associação de Professores Universitários de BH, com o apoio do jornal Brasil de Fato.

 

Juarez Guimarães é professor de ciência política na UFMG. Autor, entre outros livros, de Democracia e marxismo: Crítica à razão liberal (Xamã). Autor do prefácio do livro recém-lançado, organizado por Marcello Musto, O renascimento de Marx: principais conceitos e novas interpretações

Edição: Elis Almeida