Minas Gerais

Coluna

O Estado é para cuidar: parem de matar as negras e os negros

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Dia 20 de novembro foi o dia da Consciência Negra - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Em MG, nos últimos dez anos, quase 1.300 vidas foram ceifadas devido a intervenções policiais

Você já percebeu como a comoção social muitas vezes é seletiva, guiada por narrativas específicas? Infelizmente, é notável a falta de comoção popular diante das tragédias que atingem os mais pobres e excluídos. De fato, o cérebro é capaz de se acostumar mesmo em momentos difíceis, a partir de um processo denominado neuroplasticidade, como explica a neurocientista Eliane Comoli, docente do Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. 

E, ainda segundo estudos, o cérebro tem dificuldade de elaborar grandes quantidades numéricas. Mas isso não nos abona de buscar, sempre, ressaltar a realidade, buscar florescer uns dos mais puros sentimentos humanos: a compaixão e o desejo por justiça. Não apenas pela passagem do “Dia da Consciência Negra”. Mas, sim, por necessidade de que essa consciência realmente se estabeleça.

A morte de jovens como Guilherme Gomes da Silva, de 17 anos, na Bahia, e Thiago Menezes Flausino, de 13 anos, no Rio de Janeiro, vítimas de ações violentas da polícia, passa despercebida por grande parte da sociedade. Em 2022, 83% das vítimas de intervenções policiais eram negras, e 52,9% tinham entre 12 e 24 anos, uma verdadeira tragédia que parece não gerar a indignação devida.

A letra da música "80 tiros - Guadalupe chorou", de Vinny Santa Fé, encapsula de maneira impactante a realidade de um Brasil marcado pela violência: "você confunde o cidadão trabalhador. Aponta a mira e depois faz o que quer. E na sequência mais um pai deixa seu filho. Mais um filho sem seu pai. E mais luto de mulher. O mundo sangra todo dia. Pela falta de amor".

Alvos definidos

Enquanto mais de 5 mil crianças palestinas perdem a vida e jovens negros sucumbem diariamente em operações policiais, as balas no Brasil parecem ter um alvo definido: pessoas negras, predominantemente jovens e, cada vez mais, crianças.

No ambiente no qual a prevalência deveria ser a educação, os dados são alarmantes. Sete em cada dez educadores(as) brasileiros(as) dizem ter escutado piadas racistas em seu espaço de trabalho, seja por parte de estudantes, professores(as) ou funcionários(as). O dado foi apresentado na pesquisa “Sua escola é (anti)racista?”, realizada pela ONG Quero na Escola, de fevereiro a maio deste ano.

Questionados(as) sobre sofrer racismo no espaço escolar, 23% dos(as) professores(as) apontam já ter sofrido algum tipo de discriminação racial. Entre as pessoas declaradas pretas, a situação é assustadora, cerca de 90% já enfrentaram uma situação de intolerância, enquanto pessoas pardas apontam um índice de 39%.

Em Minas Gerais, nos últimos dez anos, quase 1.300 vidas foram ceifadas devido a intervenções policiais. Em 90% dos casos, PMs foram os responsáveis, vitimando homens (97%), com idades entre 12 e 29 anos (67%), predominantemente pretos ou pardos (68,4%).

O sangue continua sendo derramado, e a impunidade persiste. Os culpados são protegidos, enquanto as vítimas são estigmatizadas como criminosas, como se merecessem tal destino. As vítimas negras não são meros acidentes, mas alvos premeditados.

O que estamos fazendo é realmente suficiente?

A resposta é não. Não podemos nos calar, não devemos ter medo. É hora de denunciar, cobrar cada órgão responsável para que cada culpado seja julgado e punido.

Em 2023, o governo federal deu um passo importante para enfrentar a questão histórica do racismo no país com a criação do Ministério da Igualdade Racial. Apoiamos plenamente a ministra Anielle Franco em sua missão monumental à frente desta pasta.

O Brasil é de todos, e o projeto “Juntos para servir” é construído na base popular para defender todos os mineiros e mineiras. Estamos ao lado dos companheiros e companheiras negras e não descansaremos até que todas essas violências diárias sejam reconhecidas e combatidas. Saibam que podem contar conosco para o que for necessário nessa pauta. Embora não tenhamos o lugar de fala, sempre cederemos o nosso espaço para somar nessa luta.

Leleco Pimentel é deputado estadual e Padre João é deputado federal, ambos são do PT-MG e constroem o projeto Juntos para Servir.

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Leia outros artigos de Leleco Pimentel e Padre João na coluna Juntos para Servir no Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Larissa Costa