Minas Gerais

PROSPERIDADE

Tradições, ritos e simpatias para virada do ano: hábitos também ajudam a contar histórias

Com a chegada do réveillon, múltiplas crenças tomam conta do cotidiano brasileiro, na expectativa de uma vida melhor

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Comer lentilha é uma das superstições populares de ano novo - Foto: Freepik

Comer lentilhas, evitar carne de porco, anotar desejos e metas para o início de um novo ciclo, colocar dinheiro embaixo do sapato. Essas são apenas algumas das inúmeras tradições, simpatias e ritos presentes na cultura popular para a virada do ano.

A comunicadora Luisa Campos, por exemplo, conta que a avó deixou, como costume, o hábito de comer lentilhas no dia 31 de dezembro para atrair dinheiro e fartura no próximo ano, tradição, trazida ao Brasil por imigrantes italianos.

Na noite da virada, Luisa, assim como a assistente administrativa Janete Franco, não come carne de animais que, por suas características, podem significar atraso.

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Elas explicam que a galinha, que cisca para trás, e o porco, que vive, normalmente, enclausurado à lama, podem remeter, simbolicamente, ao que não é desejável para o ano novo. “Comíamos sempre peixe, porque peixe ‘nada para frente’ e tem que ser assim: a gente tem que mentalizar isso”, afirma Luisa.

Para Janete, esses hábitos são como dar um “empurrãozinho na sorte”. “As tradições, crenças, superstições, quando são para ter finalidade favorável, são sempre bem-vindas. Já andamos em tempos tão difíceis. É importante sim nos apegarmos em algo que possa nos dar esperanças. Acreditarmos que as coisas serão melhores nos tornam mais fortes”, aponta.

Crença no futuro

A guia turística Karla Passos aproveita esta época de festas para fazer uma simpatia que, na sua visão, sempre funciona. Ela coloca uma nota, de qualquer valor, dentro do sapato direito, para que no próximo ano não falte dinheiro.

A prática, que veio a partir de herança familiar, é repassada aos viajantes que a acompanham durante as excursões. “Por mais que passe por dificuldades financeiras, você sempre vai ter pelo menos R$ 10 na carteira. Eu faço isso há uns anos e dá certo”, relata.

Aposentada, Jacinta Sebastiana utiliza a escrita para materializar o que quer e o que não quer no próximo ano. Ela faz as anotações em dois pedaços de papel e, em seguida, guarda aquele em que descreve suas metas, desejos e objetivos para o próximo ano entre as páginas de um livro. O outro, no qual aponta o que não faz parte dos seus anseios, ela rasga, descarta no vaso e dá descarga.

“Eu acho que o pensamento positivo é muito importante na vida da gente. Se você pensar ‘eu vou, eu quero e eu posso’ tem tudo para dar certo. Acho muito importante, continuo fazendo e tenho certeza de que as coisas [que quero] vão acontecer na minha vida”, pontua.

Mentalizar o que deseja para o próximo ano também é uma tarefa que o agricultor Derci Santos costuma repetir ao fim de dezembro. Mas a sua regra é fazer isso enquanto come sete uvas. “Chupo as sete uvas mentalizando saúde, paz, esperança, realização dos sonhos, prosperidade. Caso eu tenha algum desejo, alguma meta a ser cumprida, penso em tudo isso”, pontua.

Utilizar as famosas roupas brancas, desejando paz no novo ano, também é imprescindível nos seus adereços para a festividade.

É importante acreditar?

Segundo a psicóloga e psicanalista Paula de Paula, conselheira do Conselho Regional de Psicologia - Minas Gerais (CRP-MG), as tradições, ritos e simpatias são fruto de uma cultura repassada de pais para filhos e estão diretamente relacionadas a influências de outros países, principalmente, do continente africano.

Para ela, essas crenças permitem que as pessoas possam participar de comunidades ativamente e nutrem também um significado positivo: o de que existe esperança e expectativa para o futuro. E isso, por si só, é um forte componente da saúde mental, de acordo com a especialista.

“O ser humano não é só constituído de consciência, de razão. Ele é afetado por várias questões, que estão ligadas aos afetos, à família, ao povo. Então ele incorpora e repete para sentir que participa, para se sentir incluído. É preciso entender esse fenômeno como algo que alimenta a saúde mental”, pondera.

Edição: Larissa Costa