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A extrema direita não morreu

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No último domingo (25), uma manifestação em apoio ao ex-presindente Jair Bolsonaro (PL) ocorreu em São Paulo. Romeu Zema (Novo), e outros governadores bolsonaristas foram ao ato - Foto: X/@rogeriosmarinho
A extrema direita pode refluir um pouco, mas não ao ponto de se criar um ambiente de civilizade

Desde o ano passado, tenho afirmado que a extrema direita não morreu no Brasil. Aliás, não morreu no mundo, pelo contrário, e devemos torcer muito para que ela não ganhe um novo gás a partir da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Esse resultado não são favas contadas, como alguns pessimistas ou catastrofistas afirmam, mas representa uma possibilidade concreta.

No último domingo (25), após a manifestação do ex-presidente, cujo nome não vale a pena ser mencionado, muitos têm se perguntado: aquele ato na Avenida Paulista foi positivo para ele? Na minha opinião, até certo ponto, sim, infelizmente. Sucesso estrondoso não foi, mas fracasso também não. Não é nenhuma tragédia, mas um sinal de alerta.

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Apenas pelo fato de ter retornado à mídia em manchetes não comprometedoras, assumindo uma posição de vítima e com a narrativa da perseguição, já foi um ganho enorme para o ex-presidente. Que ainda contou com a boa vontade da Polícia Militar do governador paulista, que inflou a estimativa de manifestantes, ao contrário do que costuma fazer nas manifestações de esquerda, informação que boa parte da grande mídia "comprou".

De olho nas eleições municipais

O ato mostra a resistência política não só do ex-presidente, mas de algo maior do que ele: a extrema direita que, com todas suas pautas e narrativas, gerou muito material para as eleições municipais deste ano.

A extrema direita tem três grandes fôlegos: 1) o sistema de desinformação, centrado nas redes sociais, criador das realidades paralelas em que realizou verdadeira lavagem cerebral em milhões de pessoas; 2) as pautas comportamentais e religiosas, de uma religiosidade tradicionalista e reacionária; 3) e as deficiências e vacilações das esquerdas em oferecer alternativas à ordem econômica neoliberal que produz cada vez mais pobreza e exclusão.

Já para o governo Lula, que representa uma centro-esquerda moderada e reformista, dois eixos são decisivos para minguar a extrema direita no Brasil: o sucesso da economia e o investimento sistemático em mobilização popular e em comunicação que, por sua vez, se torna um elemento fundamental da política.

Se no primeiro eixo há um bom horizonte, no segundo, infelizmente, não há muitos progressos. Com isso, a extrema direita brasileira pode até refluir um pouco, mas não ao ponto desejável de se criar um ambiente político minimamente sadio e civilizado.

 

 

Rubens Goyatá Campante é doutor em Sociologia pela UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (CERBRAS/UFMG)

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Leia outros artigos de Rubens Goyatá Campante em sua coluna no Brasil de Fato MG

 

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Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

 

Edição: Leonardo Fernandes