Minas Gerais

Coluna

Tem mais de um Projeto Rondon no Brasil?

Imagem - Divulgação/ Projeto Rondon
Somos um, feito por muitos de nós!

O Instituto Projeto Rondon Nacional é o órgão responsável pela condução do projeto em território brasileiro e a entidade que resguarda os princípios e diretrizes do trabalho realizado com a juventude universitária, tendo como documento base o seu estatuto.

O instituto é uma organização  da sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos e qualificada pelo Ministério da Justiça. Surgiu em 1990, depois de muita história acumulada no período de gestão do projeto pelo governo federal. Vai aqui a indicação do livro Integrar para Não Entregar, de Esther Barbosa Oriente, que relata a trajetória do Projeto Rondon até os dias atuais.

Entre 1968 e 1989, o Projeto Rondon foi planejado e executado por diversos ministérios do governo federal e foram criados pólos, implantados nos estados com o objetivo de organizar as ações no interior do país, em conjunto com as universidades nacionais. Esses pólos eram conhecidos como Fundação Projeto Rondon.
 

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Em 1989, o governo Sarney extinguiu o Projeto Rondon e os rondonistas ligados à administração pública e às universidades decidiram manter o legado do projeto, criando a organização não-governamental Associação Nacional do Projeto Rondon, que requereu a marca registrada do projeto e hoje é detentora do nome e da logomarca do Projeto Rondon. Essa associação assumiu os trabalhos de manutenção das ações nos estados e criou as sedes regionais, totalizando 14 associações estaduais de rondonistas no Brasil.

Em 2004, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Associação Nacional do Projeto Rondon retomaram negociações com o governo Lula para o retorno do apoio ao Projeto Rondon e das atividades de intervenção social realizadas na Amazônia brasileira. A partir desse acordo, foi realizada a operação piloto, em 2005, para vários municípios da região amazônica e, em 2006, foi assinado um Termo de Cooperação Técnica envolvendo a Associação Nacional do Projeto Rondon, o Ministério da Defesa e Ministério da Educação para possibilitar o intercâmbio de experiências e retomar as operações nacionais que levam os universitários de diversas partes do país às regiões da Amazônia, sertão nordestino e Tocantins.

Portanto, quando recebemos o questionamento se existe mais de um Rondon no Brasil, é sempre necessário explicar essa história e a assinatura do Termo de Cooperação que permitiu que o governo federal voltasse a realizar as operações com as equipes de rondonistas e as universidades. Desde 2005, a gestão de ações do Projeto Rondon são realizadas pelas associações de rondonistas nos estados e pelo Ministério da Defesa. Através desse termo, o governo federal foi autorizado a utilizar o nome do Projeto Rondon e organizar um departamento exclusivo no ministério para esse fim.

Diferentes gestões de um mesmo projeto

Com o passar dos anos e a troca de gestões do governo, a comunicação entre a Associação Nacional e o Ministério da Defesa foi perdendo força, o que para o público deu a entender que há dois projetos distintos. Isso não é verdade! 

O Projeto Rondon é único e seu nome, seu legado e seus princípios estão garantidos em todas as ações realizadas no Brasil, seja pela sede nacional, pelas associações estaduais ou pelo Ministério da Defesa. O que há, são gestões  diferentes para a realização das ações em campo e logística distinta para o contato com as universidades e os estudantes. Se no Projeto Rondon dos estados as inscrições de universitários são livres e realizadas diretamente com as associações, no Ministério da Defesa existe a burocracia dos editais abertos às universidades. Nos estados, as ações são realizadas durante todo o ano e pelo Ministério da Defesa somente nas férias escolares. Nos estados, acompanhamos os municípios por dois anos consecutivos, e nas viagens realizadas pelo Ministério da Defesa as equipes vão a um município uma única vez pelo período de dez dias. 

Mas esse modo de fazer não diminui a grandiosidade da experiência para os universitários que têm a oportunidade de vivenciar uma aula de Brasil através do contato com as realidades locais das cidades no interior do país e o conhecimento das políticas públicas implementadas. Em todas essas experiências, os universitários ensinam e aprendem na interação com as comunidades visitadas, sejam elas do interior, rurais, indígenas ou quilombolas.

Em 2014, a Associação Nacional do Projeto Rondon foi rebatizada como Instituto Projeto Rondon Nacional, sem perder o seu dever de pautar a importância do projeto para o desenvolvimento do Brasil e do fomento à extensão universitária nas instituições de ensino superior. Remodelamos a marca e ampliamos o compromisso de mobilizar mais universidades e estudantes para contribuírem para a formação de um país mais diverso, inclusivo e justo.

Momento de reconstruir 

Nesse momento, em que passamos pela reconstrução do país, após o período de governos pífios, entre 2017 e 2022, e da pandemia de covid-19, é importante reforçarmos o compromisso com as comunidades mais vulneráveis de nosso território e agregarmos esforços para ampliar as atividades do Projeto Rondon no Brasil.

Afinal, somos um só Projeto Rondon e preservamos o espírito da Operação Zero, realizada em 1967 pelos primeiros 30 rondonistas da Universidade da Guanabara no Rio de Janeiro (hoje, UERJ), da PUC/RJ e Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Os universitários, no contato direto com o meio ambiente amazônico e com as populações da região, vivenciaram e sentiram um Brasil diferente daquele de Copacabana e das áreas urbanas desenvolvidas do Rio de Janeiro. Os acadêmicos de medicina e de odontologia prestaram assistência aos ‘ribeirinhos’ em suas áreas de conhecimento. Os de educação trabalharam com as professoras locais. Os de engenharia ajudaram os militares do 5º. BEC na construção da rodovia. ‘Tiveram uma verdadeira aula de Brasil e sentiram a grandeza deste País que não é ensinada nas Universidades’” diz um trecho do editorial do jornal O Globo, publicado em 9 de agosto de 1967, com o título O Sabor da Grandeza.

As ações em campo são planejadas a várias mãos entre gestores do projeto, parceiros e universidades e são executadas pelos estudantes, professores e técnicos que acreditam no poder de transformação do voluntariado universitário. Projeto Rondon no Brasil? Somos um, feito por muitos de nós!

 

Daniel Régis é presidente do Instituto Projeto Rondon

Monica Abranches é vice-presidente do Instituto Projeto Rondon e Presidente da Associação do projeto Rondon de Minas Gerais

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Leia outros artigos do Projeto Rondon em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

 

Edição: Leonardo Fernandes