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Belo Horizonte: cidade jardim ou cidade estufa?

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Imagem - PBH/divulgação
Propomos uma meta ousada, plantar 200 mil árvores por ano

Para quem duvidava, o aquecimento global é real e preocupante. BH foi a capital do país que mais esquentou em 2023, com 4,2ºC acima da média, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).

Se no passado éramos cidade jardim, agora sentimos na pele que somos cidade estufa. Com chuvas e calor, registramos a maior epidemia de dengue da história. Com problemas estruturais, alguns Centros de Saúde e UPAs registraram 43ºC. As tempestades com enxurradas mortíferas se avolumam a cada dia.

Mesmo que todo o planeta esteja em crise climática com diversos fatores, precisamos agir localmente. E política municipal impacta diretamente nos microclimas e na saúde ambiental.

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Afinal, por que BH aqueceu mais que todas as outras capitais? Nos últimos anos presenciamos na cidade um desastroso negacionismo climático em todas as esferas de poder. No legislativo, por exemplo, cedendo aos interesses privados de entidades da construção e da indústria, vereadores votaram contra um importante Projeto de Lei que previa um plano local de ação climática.

Árvores a menos

É visível que estamos perdendo consideravelmente a arborização urbana, fundamental para o equilíbrio do microclima, a saúde da população e a manutenção da biodiversidade. Em 2023, BH teve número recorde de supressões, 7.326 árvores assassinadas, 24% a mais que em 2022, ou seja, 20 árvores a menos por dia. Isso ocorreu em áreas verdes, passeios e até em nossos pontos turísticos.

Nossa Serra do Curral vem sendo triturada com licenciamentos de mineração, no mínimo, controversos, e no Barreiro milhares de árvores de mata foram mortas para dar lugar a um empreendimento privado da Vallourec.

Sem o amplo debate, vimos a prefeitura ignorar os próprios técnicos da Secretaria de Meio Ambiente que emitiram relatório contrário à supressão de árvores para realização da Stock Car.

O empreendimento vai prejudicar por muitos dias a comunidade da UFMG e moradores do entorno, produzindo fumaça e barulho em frente ao hospital veterinário, podendo condenar investimentos em pesquisas, isso tudo em plena bacia da Lagoa da Pampulha, nosso patrimônio histórico, cultural e ambiental.

E mesmo com reivindicação contra da população e da reitoria da universidade, os cortes foram feitos de madrugada, esmagando pássaros que dormiam e não tiveram nem a chance de fugir.

Matas ameaçadas

Dezenas de movimentos ambientais seguem sem a devida escuta e sensibilidade pelo atual gestor público, como na Mata do Planalto, Mata do Mosteiro, Cercadinho, Mata do Havaí e Mata do Lareira.

Na Mata do Jardim América, por exemplo, mesmo com o amplo clamor da população, que segue firme e vigilante, ainda existe uma licença absurda para o corte de 465 árvores, desta que é a última floresta entre 10 bairros, onde o índice de áreas verdes está abaixo do mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde.

Diante da insatisfação popular com tantos cortes de árvores e ameaças na cidade, a prefeitura tenta se justificar dizendo que plantou 24 mil mudas em 2023, mas analisando os dados, é possível ver que a maioria desses plantios são fruto de compensação ambiental.

Isso significa que estão trocando áreas verdes e árvores adultas, com essenciais serviços ecossistêmicos, por mudas que nem sabemos se sobreviverão, pois é necessário monitorar e cuidar adequadamente por anos. Ou seja, continua-se agindo ignorando a emergência climática.

Com certeza devemos plantar mais em BH, mas conscientes de que compensação não compensa. Precisamos de políticas públicas com ações imediatas que garantam a preservação e reduzam o desmatamento na capital.

Ousadia frente a emergência climática: uma árvore por habitante

Com mais participação e direitos socioambientais, podemos criar corredores verdes, como foi feito em Medelin, Colômbia. O MST já nos ofereceu mudas, inclusive de árvores frutíferas para garantir alimentos saudáveis para o povo.

Importantes movimentos ambientais e grupos de plantio querem participar de uma gestão ambiental democrática e aberta, garantindo a preservação integral de todas as nossas preciosas matas, serras e águas, plantando mais, tendo um programa de manutenção da vida arbórea, e promovendo o acesso à natureza de forma integrativa e plural.

O cenário de emergência climática exige ousadia. Por isso, propomos a meta de uma árvore para cada habitante de BH em 10 anos, plantando 200 mil árvores por ano. E nesse decisivo ano eleitoral, conclamamos uma frente ampla com toda a sociedade civil e com as candidaturas comprometidas na construção de um novo projeto político para BH, verdadeiramente ecológico e popular.

Esta causa deve ser de todos nós.

 

Bruno Pedralva é médico do SUS e vereador em Belo Horizonte pelo PT & Juliana Minardi é fundadora do Instituto Árvore

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida